Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Attila József - Noite no subúrbio

O poema flui em descrições factuais sobre o que o falante observa, pensa e sente acerca da paisagem do arrabalde de uma cidade não nomeada, habitado majoritariamente pela classe operária e ocupado por plantas industriais do segmento pesado – e que não deixa de estampar a pobreza, baldia e carecente, extensível aos predicados da própria noite em que submerso.

 

As inúmeras estrofes do poema demarcam os saltos nos pontos de vista do observador, das instalações de uma habitação à paisagem ao redor – em amplas e desoladas pinceladas –, do esboço paisagístico à imagística dos desajustes sociais, e daí à evocação arrojada e inspiradora para a continuidade da luta por um mundo melhor.

 

J.A.R. – H.C.

 

Attila József

(1905-1937)

 

Külvárosi Éj

 

A mellékudvarból a fény

hálóját lassan emeli,

mint gödör a víz fenekén,

konyhánk már homállyal teli.

 

Csönd, – lomhán szinte lábrakap

s mászik a súroló kefe;

fölötte egy kis faldarab

azon tünődik, hulljon-e.

 

S olajos rongyokban az égen

megáll, sóhajt az éj;

leül a város szélinél.

Megindul ingón át a téren;

egy kevés holdat gyújt, hogy égjen.

 

Mint az omladék, úgy állnak

a gyárak,

de még

készül bennük a tömörebb sötét,

a csönd talapzata.

 

S a szövőgyárak ablakán

kötegbe száll

a holdsugár,

a hold lágy fénye a fonál

a bordás szövőszékeken

s reggelig, míg a munka áll,

a gépek mogorván szövik

szövőnők omló álmait.

 

S odébb, mint boltos temető,

vasgyár, cementgyár, csavargyár.

Visszhangzó családi kripták.

A komor föltámadás titkát

őrzik ezek az üzemek.

Egy macska kotor a palánkon

s a babonás éjjeli őr

lidércet lát, gyors fényjelet, –

a bogárhátú dinamók

hűvösen fénylenek.

 

Vonatfütty.

 

Nedvesség motoz a homályban,

a földre ledőlt fa lombjában

s megnehezíti

az út porát.

 

Az úton rendőr, motyogó munkás.

Röpcédulákkal egy-egy elvtárs

iramlik át.

Kutyaként szimatol előre

és mint a macska, fülel hátra;

kerülő útja minden lámpa.

 

Romlott fényt hány a korcsma szája,

tócsát okádik ablaka;

benn fuldokolva leng a lámpa,

napszámos virraszt egymaga.

Szundít a korcsmáros, szuszog,

ő nekivicsorít a falnak,

búja lépcsőkön fölbuzog,

sír. Élteti a forradalmat.

 

Akár a hült érc, merevek

a csattogó vizek.

Kóbor kutyaként jár a szél,

nagy, lógó nyelve vizet ér

és nyeli a vizet.

 

Szalmazsákok, mint tutajok,

úsznak némán az éjjel árján –

 

A raktár megfeneklett bárka,

az öntőműhely vasladik

s piros kisdedet álmodik

a vasöntő az ércformákba.

 

Minden nedves, minden nehéz.

A nyomor országairól

térképet rajzol a penész.

S amott a kopár réteken

rongyok a rongyos füveken

s papír. Hogy' mászna! Mocorog

s indulni erőtlen...

 

Nedves, tapadós szeled mása

szennyes lepedők lobogása,

óh éj!

Csüngsz az egen, mint kötelen

foszló perkál s az életen

a bú, óh éj!

Szegények éje! Légy szenem,

füstölögj itt a szívemen,

olvaszd ki bennem a vasat,

álló üllőt, mely nem hasad,

kalapácsot, mely cikkan pengve,

– sikló pengét a győzelemre,

óh éj!

 

Az éj komoly, az éj nehéz.

Alszom hát én is, testvérek.

Ne üljön lelkünkre szenvedés.

Ne csipje testünket féreg.

 

1932

 

Subúrbio à noite

(Angela Suto: artista húngara)

 

Noite no subúrbio

 

A luz, desde o quintal, eleva

a sua rede, aos poucos. Nossa

cozinha inunda-se de trevas

como, nas águas, uma fossa.

 

Silêncio: um escovão se anima,

rasteja, ali, com negligência.

E a lasca de parede, acima,

hesita, cai-não-cai, suspensa.

 

Nos céus, a noite rota, cheia

de graxa, geme embalde,

estanca e senta no arrabalde.

Vacila praça afora. Ateia

um pouco de luar – candeia.

 

As fábricas lembram ruínas

franzinas.

Mas, nessas,

produz-se treva mais espessa:

a base do silêncio.

 

Luar penetra as tecelagens,

em feixe, pelas

várias janelas.

O brilho brando, nas costelas

de seus teares, vira fio.

E, assim que toda faina para,

cada tear tece, sombrio,

sonhos friáveis de operárias.

 

Além: forja, oficina e usina

são tumbas arqueadas. Criptas

sonantes de famílias –

esta indústria toda oculta o enigma

de uma ressurreição funesta.

Um gato fuça junto à cerca

e algum vigia toma, crente,

brilhos fugazes por espectros;

os dínamos, dorsos de inseto,

reluzem friamente.

 

Silvo de trem.

 

Certa umidade apalpa a sombra,

o tronco troncho que já tomba

e, assim, condensa

o pó da estrada.

 

Entre o operário murmurante

e o guarda, um camarada

se esgueira com folhas volantes.

Escuta feito um gato esguio

e, como cão, fareja avante:

a cada lâmpada, um desvio.

 

O bar vomita um brilho podre

da boca, um charco da janela

e a lâmpada se afoga sobre

um diarista, a sós, que vela.

Enquanto o dono dorme ou cisma,

ele rosna à parede e, embora

sua dor jorre escada acima,

louva a revolução – e chora.

 

As águas túrbidas do rio

parecem metal frio.

O vento é um vira-lata cuja

língua se alonga às águas sujas

que bebe a fio.

 

Colchões de palha, feito balsas,

navegam, mudos, noite adentro.

 

Um armazém – barca encalhada.

A forja – bote couraçado.

O seu cadinho sonha, em cada

molde, um fedelho avermelhado.

 

Tudo se adensa, tudo espera.

O mofo traça um mapa enorme

dos territórios da miséria.

Papéis e trapos, lá, nos ermos

cujo gramado é roto e enfermo,

rastejariam! – Mas estagnam:

no meio-termo...

 

Teu vento imita, sujo e pando,

lençóis imundos farfalhando,

ó noite!

Tremes no céu como, ao relento,

percal puído, e o sofrimento

na vida, ó noite!

Noite dos pobres! Rompe em hulha,

arde em meu coração, fagulha,

derrete o ferro que me habita,

forma bigorna firme, estrita,

e um malho que trabalhe, agora,

sobre o meu sabre da vitória,

ó noite!

 

A noite é densa, a noite é dura.

Durmo, também, irmãos: é tarde.

Que as almas não sofram agruras.

Que os vermes poupem nossa carne.

 

Folhetim, 10.04.83.

 

Referências:

 

Em Húngaro

 

JÓZSEF, Attila. Külvárosi éj. Disponível neste endereço. Acesso em: 25 jul. 2023.

 

Em Português

 

JÓZSEF, Attila. Noite no subúrbio. Tradução de Nelson Ascher. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim: poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 131-133.

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