A noite é a companheira
fiel do poeta, durante a qual ele passa longas e detidas horas a mourejar em
seu mister, absorto de corpo e alma no que lhe apraz, sentindo a flama que
emerge das sombras para restituir luz aos humanos – e imortais, pois que amados
– gestos, desvelando-lhe o segredo por trás de cada epifânico momento.
Tudo parece uma intuição
experimentada nos meandros do ser, um tempo que se mensura por intermédio do
coração, fazendo jorrar uma emoção encantatória acerca do ilimitado, do infinito,
em cuja província quiçá se espraia a poesia: com quais palavras predicar esse “segredo”
à retaguarda dessa necessidade expressiva, dessa busca por revelações?!
J.A.R. – H.C.
Giuseppe Ungaretti
(1888-1970)
Segreto del poeta
Solo ho amica la
notte.
Sempre potrò
trascorrere con essa
D’attimo in attimo,
non ore vane;
Ma tempo cui il mio
palpito trasmetto
Come m’aggrada, senza
mai distrarmene.
Avviene quando sento,
Mentre riprende a
distaccarsi da ombre,
La speranza
immutabile
In me che fuoco
nuovamente scova
E nel silenzio
restituendo va,
A gesti tuoi terreni
Talmente amati che
immortali parvero,
Luce.
In: “La terra
promessa” (1935-1950)
Jovem lendo à luz de
vela
(Matthias Stomer: pintor
holandês)
O segredo do poeta
Só tenho a noite como
amiga.
Sempre poderei passar
com ela
De momento a momento,
não vãs horas,
Senão o tempo em que
transmito o meu palpitar
como me apraz, sem
jamais me distrair.
Acontece quanto
sinto,
À medida que começa a
se destacar das sombras,
A imutável esperança
Que esse fogo em mim
revigora
E, no silêncio, vai
restituindo
Aos teus gestos
terrenos –
Tão amados que imortais
se afiguravam –
Luz.
Em: “A terra
prometida” (1935-1950)
Referência:
UNGARETTI, Giuseppe.
Segreto del poeta. In: __________. Vita d’un uomo: 106 poesie 1914-1960.
14. ed. (1. edizione Oscar classici moderni). Milano, IT: Oscar Mondadori, gennaio
1992. p. 183.
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