Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Giuseppe Ungaretti - O segredo do poeta

A noite é a companheira fiel do poeta, durante a qual ele passa longas e detidas horas a mourejar em seu mister, absorto de corpo e alma no que lhe apraz, sentindo a flama que emerge das sombras para restituir luz aos humanos – e imortais, pois que amados – gestos, desvelando-lhe o segredo por trás de cada epifânico momento.

 

Tudo parece uma intuição experimentada nos meandros do ser, um tempo que se mensura por intermédio do coração, fazendo jorrar uma emoção encantatória acerca do ilimitado, do infinito, em cuja província quiçá se espraia a poesia: com quais palavras predicar esse “segredo” à retaguarda dessa necessidade expressiva, dessa busca por revelações?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Giuseppe Ungaretti

(1888-1970)

 

Segreto del poeta

 

Solo ho amica la notte.

Sempre potrò trascorrere con essa

D’attimo in attimo, non ore vane;

Ma tempo cui il mio palpito trasmetto

Come m’aggrada, senza mai distrarmene.

 

Avviene quando sento,

Mentre riprende a distaccarsi da ombre,

La speranza immutabile

In me che fuoco nuovamente scova

E nel silenzio restituendo va,

A gesti tuoi terreni

Talmente amati che immortali parvero,

Luce.

 

In: “La terra promessa” (1935-1950)

 

Jovem lendo à luz de vela

(Matthias Stomer: pintor holandês)

 

O segredo do poeta

 

Só tenho a noite como amiga.

Sempre poderei passar com ela

De momento a momento, não vãs horas,

Senão o tempo em que transmito o meu palpitar

como me apraz, sem jamais me distrair.

 

Acontece quanto sinto,

À medida que começa a se destacar das sombras,

A imutável esperança

Que esse fogo em mim revigora

E, no silêncio, vai restituindo

Aos teus gestos terrenos –

Tão amados que imortais se afiguravam –

Luz.

 

Em: “A terra prometida” (1935-1950)

 

Referência:

 

UNGARETTI, Giuseppe. Segreto del poeta. In: __________. Vita d’un uomo: 106 poesie 1914-1960. 14. ed. (1. edizione Oscar classici moderni). Milano, IT: Oscar Mondadori, gennaio 1992. p. 183.

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