Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Gerard Manley Hopkins - Paciência! dura coisa!

A paciência não como uma realização pessoal, mas como um dom divino a transformar uma vontade irresoluta diante do sofrimento e do conflito exaustivo com as suas próprias atribuições, enquanto sacerdote jesuíta: até poderíamos aventar a hipótese de que o autor estivesse levando à frente um dos “exercícios espirituais” propostos por Inácio de Loyola!

 

“Paciência, coisa difícil!”: penosa, de fato, quando tantos desconcertos nos tiram do sério, fazendo transbordar ressentimentos e exasperações, reverberando frustrações. Mas é na dificuldade que o espírito se aprimora: como diria o teólogo Rubem Alves (1933-2014), “ostra feliz não faz pérola”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gerard M. Hopkins

(1844-1889)

 

Patience, hard thing!

 

Patience, hard thing! the hard thing but to pray,

But bid for, Patience is! Patience who asks

Wants war, wants wounds; weary his time, his tasks;

To do without, take tosses, and obey.

 

Rare patience roots in these, and, these away,

Nowhere. Natural heart’s ivy Patience masks

Our ruins of wrecked past purpose. There she basks

Purple eyes and seas of liquid leaves all day.

 

We hear our hearts grate on themselves: it kills

To bruise them dearer. Yet the rebellious wills

Of us we do bid God bend to him even so.

 

And where is he who more and more distils

Delicious kindness? – He is patient. Patience fills

His crisp combs, and that comes those ways we know

 

Dublin, 1885 (?)

(Posthumous publ.)

 

Homem Paciente

(Paul Christopher: pintor norte-americano)

 

Paciência! dura coisa!

 

Paciência! dura coisa! dura sequer de rogar-se,

Sequer de solicitar-se, a Paciência! Quem pede Paciência

Pede guerras, chagas, cansaços, lides, obediência;

Passar sem nada, entregue à sorte, renunciar.

 

Eis a raiz da rara Paciência. Não escolhas

Coisa diversa. Recobrindo o coração, ela

Mascara os destroços de naufragados projetos – hera

Que ali se estende em rubras bagas e um mar de folhas.

 

Ouvimos ranger os nossos corações. Para melhor amolgá-los

Ela os abate. E suplicamos a Deus vergá-los

À sua vontade – e em nossa vontade sofremos.

 

E onde encontrar aquele que cada vez mais goteje

Doce bondade? Ele é paciente. A Paciência enche

Seus crespos favos e escorre – bem o sabemos.

 

Referência:

 

HOPKINS, Gerard Manley. Patience, hard thing! / Paciência! dura coisa!. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1989. Em inglês: p. 134; em português: p. 135.

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