Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de julho de 2023

Michael Roberts - Na Estranha Ilha

Roberts traça aqui um quadro no qual um homem – sábio e gentil –, desnudo numa floresta, segue em companhia da fauna abundante na região costeira de uma ilha – “estranha ilha”! Mesmo os elementos constituintes das flores – espádices dos lírios e pétalas das rosas – são grafados, respectivamente, como colmilhos e lábios, conferindo um lastro de humanização ao cenário descrito.

 

Investigando mais a fundo a quem o falante alegoricamente se reporta, logo se chega à figura do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953), cuja poesia quase sempre recorre a imagens idílicas, cósmicas, por meio das quais se busca transfigurar em acentos iriantes os intervenientes de flora e fauna, em harmoniosa conexão com as demais forças orgânicas à volta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Michael Roberts

(1902-1948)

 

In the Strange Isle

 

In the strange isle,

In the green freckled wood and grassy glade,

Strangely the man, the panther and the shadow

Move by the well and the white stones.

 

Voices cry out in trees, and fingers beckon,

The wings of a million butterflies are sunlit eyes,

There is no sword

In the enchanted wood.

 

Branches bend over like a terror,

The sun is darkened,

The white wind and the sun and the curling wave

Cradle the coral shore and the tall forest.

 

Ceaseless the struggle in the twining circles,

The gulls, the doves, and the dark crows;

The fangs of the lily bleed, and the lips

Of the rose are tom.

 

Trees crash at midnight unpredicted,

Voices cry out,

Naked he walks, and with no fear,

In the strange isle, the wise and gentle.

 

Homem nu no jardim

(Pauline Zenk: artista francesa)

 

Na Estranha Ilha

 

Na estranha ilha,

No bosque lentiginoso e na clareira herbosa,

Estranhamente o homem, a pantera e a sombra

Movem-se junto à nascente e ao calhau alvadio.

 

Vozes gritam nas árvores e dedos acenam,

Asas de um milhão de borboletas são olhos

iluminados pelo sol

Não há espadas

No bosque encantado.

 

Ramos dobram-se como um terror,

Tolda-se o sol,

O vento lânguido e o sol e uma onda que se encrespa

Embalam a costa de coral e o alto bosque.

 

Incessante a luta nas viravoltas entrelaçadas,

As gaivotas, as pombas e os corvos escuros,

Sangram os colmilhos do lírio e desgarram-se os

Lábios da rosa.

 

Árvores tombam à meia-noite de forma imprevista,

Vozes gritam,

Nu ele anda – e sem medo –

Na estranha ilha, o sábio e gentil.

 

Referência:

 

ROBERTS, Michael. In the strange isle. In: ROBERTS, Michael (Ed.). The Faber book on modern verse. New edition (1951), 4th impr. London, EN: Faber and Faber, 1963. p. 363.

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