Roberts traça aqui um
quadro no qual um homem – sábio e gentil –, desnudo numa floresta, segue em
companhia da fauna abundante na região costeira de uma ilha – “estranha ilha”!
Mesmo os elementos constituintes das flores – espádices dos lírios e pétalas
das rosas – são grafados, respectivamente, como colmilhos e lábios, conferindo
um lastro de humanização ao cenário descrito.
Investigando mais a
fundo a quem o falante alegoricamente se reporta, logo se chega à figura do poeta
galês Dylan Thomas (1914-1953), cuja poesia quase sempre recorre a imagens idílicas, cósmicas, por meio das quais se busca transfigurar em acentos iriantes
os intervenientes de flora e fauna, em harmoniosa conexão com as demais forças
orgânicas à volta.
J.A.R. – H.C.
Michael Roberts
(1902-1948)
In the Strange Isle
In the strange isle,
In the green freckled
wood and grassy glade,
Strangely the man,
the panther and the shadow
Move by the well and
the white stones.
Voices cry out in
trees, and fingers beckon,
The wings of a
million butterflies are sunlit eyes,
There is no sword
In the enchanted
wood.
Branches bend over
like a terror,
The sun is darkened,
The white wind and
the sun and the curling wave
Cradle the coral
shore and the tall forest.
Ceaseless the
struggle in the twining circles,
The gulls, the doves,
and the dark crows;
The fangs of the lily
bleed, and the lips
Of the rose are tom.
Trees crash at
midnight unpredicted,
Voices cry out,
Naked he walks, and
with no fear,
In the strange isle,
the wise and gentle.
Homem nu no jardim
(Pauline Zenk: artista
francesa)
Na Estranha Ilha
Na estranha ilha,
No bosque lentiginoso
e na clareira herbosa,
Estranhamente o
homem, a pantera e a sombra
Movem-se junto à
nascente e ao calhau alvadio.
Vozes gritam nas
árvores e dedos acenam,
Asas de um milhão de
borboletas são olhos
iluminados pelo sol
Não há espadas
No bosque encantado.
Ramos dobram-se como
um terror,
Tolda-se o sol,
O vento lânguido e o
sol e uma onda que se encrespa
Embalam a costa de
coral e o alto bosque.
Incessante a luta nas
viravoltas entrelaçadas,
As gaivotas, as
pombas e os corvos escuros,
Sangram os colmilhos do lírio e desgarram-se os
Lábios da rosa.
Árvores tombam à
meia-noite de forma imprevista,
Vozes gritam,
Nu ele anda – e sem
medo –
Na estranha ilha, o
sábio e gentil.
Referência:
ROBERTS, Michael. In
the strange isle. In: ROBERTS, Michael (Ed.). The Faber book on modern verse.
New edition (1951), 4th impr. London, EN: Faber and Faber, 1963. p. 363.
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