Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de maio de 2023

William Carlos William - Coda (Excerto)

Este excerto da seção “Coda” – isto é, a parte final – pertence ao longo poema “Asfódelo, Aquela Flor Esverdeada” (*), dividido em quatro partes, as três primeiras intituladas “Livros” e numeradas de I a III: ela confronta a toda prova, diria Freud, o “Eros” e o “Thanatos”, ou melhor, respectivamente, os instintos da vida e da morte, do amor e da destruição.


A vida, quando em comunhão com a imaginação – diz-nos o poeta –, revela o seu lado mais deslumbrante. Por que haveríamos, então, de nos deter em imaginar um horizonte escatológico para a humanidade, v.g., de um fim marcado pela hecatombe nuclear, como resultado de nossa capacidade de empreender exercícios de imaginação de como seria esse cenário sombrio?!


J.A.R. – H.C.

 

William Carlos Williams

(1883-1963)

 

Coda

(Excerpt)

 

If a man die

it is because death

has first

possessed his imagination.

But if he refuse death –

no greater evil

can befall him

unless it be the death of love

meet him

in full career.

Then indeed

for him

the light has gone out.

But love and the imagination

are of a piece,

swift as the light

to avoid destruction.

So we come to watch time’s flight

as we might watch

summer lightning

or fireflies, secure,

by grace of the imagination,

safe in its care.

 

In: “Journey to Love” (1955)

“Asphodel, That Greeny Flower”

 

Prado de Asfódelos

(Brian Doers: ilustrador norte-americano)

 

Coda

(Excerto) 

 

Se um homem morre

é porque a morte,

primeiro,

tomou conta de sua imaginação.

Mas se ele rechaçar a morte –

nenhum mal maior

lhe pode suceder,

a menos que seja a morte do amor

a encontrá-lo

em plena carreira.

Por certo, então,

para ele

a luz terá se apagado.

Porém o amor e a imaginação

são impulsos afins,

rápidos como a luz,

para evitar a destruição.

Assim, aqui estamos a presenciar ao voo do tempo

tal como poderíamos ver

um raio de verão

ou pirilampos, seguros,

pela graça da imaginação,

a salvo sob os seus cuidados.

 

Em: “Viagem ao Amor” (1955)

“Asfódelo, Aquela Flor Esverdeada”

 

Nota:

 

(*). O asfódelo, na Antiguidade, era frequentemente usado para florir o túmulo dos mortos, em pleno liame, por conseguinte, com a fábula do Prado de Asfódelos, torrão do submundo na mitologia grega, associado por alguns pesquisadores aos Campos Elíseos. O asfódelo simbolizaria, sob tal contexto, a perda do juízo e dos sentidos, característica da morte, daí o nexo deliberadamente buscado por WCW para, através dele, evocar as energias subterrâneas.  

 

Referência:

 

WILLIAMS, William Carlos. Coda (excerpt). In: __________. The Collected Poems of William Carlos Williams. Volume II: 1939-1962. Edited by Chistopher MacGowan.  New York, NY: New Directions Publishing, 1991. p. 334.

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