Este excerto da seção
“Coda” – isto é, a parte final – pertence ao longo poema “Asfódelo, Aquela Flor
Esverdeada” (*), dividido em quatro partes, as três primeiras intituladas
“Livros” e numeradas de I a III: ela confronta a toda prova, diria Freud, o
“Eros” e o “Thanatos”, ou melhor, respectivamente, os instintos da vida e da
morte, do amor e da destruição.
A vida, quando em comunhão
com a imaginação – diz-nos o poeta –, revela o seu lado mais deslumbrante. Por
que haveríamos, então, de nos deter em imaginar um horizonte escatológico para
a humanidade, v.g., de um fim marcado pela hecatombe nuclear, como resultado de
nossa capacidade de empreender exercícios de imaginação de como seria esse cenário
sombrio?!
J.A.R. – H.C.
William Carlos
Williams
(1883-1963)
Coda
(Excerpt)
If a man die
it is because death
has first
possessed his
imagination.
But if he refuse
death –
no greater evil
can befall him
unless it be the
death of love
meet him
in full career.
Then indeed
for him
the light has gone
out.
But love and the
imagination
are of a piece,
swift as the light
to avoid destruction.
So we come to watch
time’s flight
as we might watch
summer lightning
or fireflies, secure,
by grace of the
imagination,
safe in its care.
In: “Journey to Love”
(1955)
“Asphodel, That
Greeny Flower”
Prado de Asfódelos
(Brian Doers:
ilustrador norte-americano)
Coda
(Excerto)
Se um homem morre
é porque a morte,
primeiro,
tomou conta de sua
imaginação.
Mas se ele rechaçar a
morte –
nenhum mal maior
lhe pode suceder,
a menos que seja a
morte do amor
a encontrá-lo
em plena carreira.
Por certo, então,
para ele
a luz terá se apagado.
Porém o amor e a
imaginação
são impulsos afins,
rápidos como a luz,
para evitar a
destruição.
Assim, aqui estamos a
presenciar ao voo do tempo
tal como poderíamos ver
um raio de verão
ou pirilampos,
seguros,
pela graça da
imaginação,
a salvo sob os seus cuidados.
Em: “Viagem ao Amor”
(1955)
“Asfódelo, Aquela
Flor Esverdeada”
Nota:
(*). O asfódelo, na
Antiguidade, era frequentemente usado para florir o túmulo dos mortos, em pleno
liame, por conseguinte, com a fábula do Prado de Asfódelos, torrão do submundo
na mitologia grega, associado por alguns pesquisadores aos Campos Elíseos. O
asfódelo simbolizaria, sob tal contexto, a perda do juízo e dos sentidos, característica
da morte, daí o nexo deliberadamente buscado por WCW para, através dele, evocar
as energias subterrâneas.
Referência:
WILLIAMS, William
Carlos. Coda (excerpt). In: __________. The Collected Poems of William
Carlos Williams. Volume II: 1939-1962. Edited by Chistopher MacGowan. New York, NY: New Directions Publishing, 1991.
p. 334.
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