Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Antonio Carlos Secchin - Uma palavra, outra mais, e eis um verso

O poeta lança mão de um “clássico” da forma poética – um soneto com versos alexandrinos – para, segundo ele próprio, lavrar versos que, a termo, seriam inúteis, ante o propósito maior de falar de amor à sua “pastora” (veja-se, um vocábulo alusivo à amada, que, não sem razão, remete aos autores arcádicos, embora estes, a par de se deterem, por igual, sobre o mesmo molde gráfico do poema, preferissem no âmbito pátrio, salvo engano, os versos decassílabos).

 

Metalinguístico e, ao mesmo tempo, lírico, o fato é que o soneto revela a mestria de Secchin na elaboração ideada de suas linhas, numa arquitetura que se pretende, na aparência, fluida, fixada na página sem grande esforço ou refrega, mas que, a sério, presume-se resultante de um exaustivo labor, quiçá ultimado pela ajuda providencial do recorrido “deus frecheiro”. (rs)

 

J.A.R. – H.C.

 

Antonio Carlos Secchin

(n. 1952)

 

Uma palavra, outra mais, e eis um verso

 

Uma palavra, outra mais, e eis um verso,

Doze sílabas a dizer coisa nenhuma.

Esforço, limo, devaneio e não impeço

Que este quarteto seja inútil como a espuma.

 

Agora é hora de ter mais seriedade,

Senão a musa me dará o não eterno.

Convoco a rima, que me ri da eternidade,

Calço-lhe os pés, lhe dou gravata e um novo terno.

 

Falar de amor, oh pastora, é o que eu queria,

Mas os fados já perseguem teu poeta,

Deixando apenas a promessa da poesia,

Matéria bruta que não cabe no terceto.

Se o deus frecheiro me jogasse a sua seta,

Eu tinha a chave pra trancar este soneto.

 

A Musa Verde

(Albert Maignan: pintor francês)

 

Referência:

 

SECCHIN, Antonio Carlos. Uma palavra, outra mais, e eis um verso. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque (Org.). 26 poetas hoje: antologia. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano Editora, 2007. p. 132.

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