Tudo quanto é costumeiro
numa amizade surge em denegação nos versos deste poema de Mariani. Seja como
for, os amigos da falante persistem assim nomeados, mesmo diante da aparente
ausência de compartilhamentos, de reciprocidades, de hospitalidade, vivendo “existências
paralelas” com tendência de se encontrarem num “ponto no infinito”.
Desvestido de metáforas
ou de tramas imagéticas ou semânticas de maior efeito, os versos fluem quase
num tom irônico, porque alguém se poderia questionar sobre o valor de uma
amizade que se dá nos exatos termos em que descrita.
Contudo, tenha-se a
presente tese, defendida pelo norte-americano Ralph W. Emerson (1803-1882), em
seu ensaio sobre a “Amizade” (“Friendship”), e, provavelmente, o leitor melhor
compreenderá o que, talvez, a poetisa italiana quisesse expor: “Que a alma se
assegure de que, em algum lugar do universo, voltará a se juntar a seu amigo, e
ela se manterá contente e alegre, ainda que sozinha, por mil anos”. (EMERSON,
2014, p. 405)
J.A.R. – H.C.
Marina Mariani
(1928-2013)
I miei amici
non mi cercano, non m’invitano
a pranzo,
non mi telefonano
mai;
non mi mandano auguri
per Natale
ma sono miei amici.
Non mi fanno regali,
non m’aiutano a
vivere
con raccomandazioni o
altre cose;
ma mi aiutano a
vivere
perché sono miei
amici.
Noi non c’incontriamo
in piscina,
non combiniamo le
vacanze insieme,
non facciamo progetti
di lavoro.
Non ci portiamo
scambievolmente le sigarette
né la busta del latte
quando l’altro è
ammalato;
non ci raccontiamo i
reumi e le tasse.
Non ci facciamo
carezze d’amore
né di solidarietà
né di pietà.
Pure – bisogna dar
credito
al prodigio; e la
geometria
non è favola –
le nostre esistenze
parallele
s’incontrano in un
punto
all’infinito.
Meus Melhores Amigos
(Angu Walters:
artista camaronês)
Os meus amigos
Os meus amigos
não me procuram, não
me convidam
para almoçar,
não me telefonam
nunca;
não me mandam
felicitações de Natal,
mas são meus amigos.
Não me dão presentes,
não me ajudam a viver
com recomendações ou
outras coisas;
mas me ajudam a viver
porque são meus
amigos.
Não nos encontramos
na piscina,
não combinamos juntos
as férias,
não fazemos projetos
de trabalho.
Não levamos cigarros
para trocar
nem garrafas de leite
quando o outro está
doente;
não nos fazemos relatos
sobre reumatismos
ou impostos.
Não nos fazemos
carícias de amor
nem de solidariedade
nem de piedade.
Mas – é necessário
dar crédito
ao prodígio; e a
geometria
não é fábula –
as nossas existências
paralelas
se encontrarão num
ponto
no infinito.
Referências:
EMERSON, Ralph Waldo.
The complete works. With a biographical introduction and notes by Edward
Waldo Emerson. 1st publ. Ebook (pdf) edited by Roger L. Cole. Hollister, MO: YOGeBooks,
2014.
MARIANI, Marina. I
miei amici / Os meus amigos. Tradução de José Eduardo Degrazia. In: DEGRAZIA,
José Eduardo (Organização e Tradução). Poeti italiani contemporanei:
poesie scelte / Poetas italianos contemporâneos: poesias escolhidas.
Porto Alegre, RS: Sagra - D. C. Luzzatto, 1995. Em italiano: p. 46; em
português: p. 47.
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