Um soneto a conter
certa prece iconoclasta para que Deus, de fato, exista, e não seja mais um
engano perpetrado pela mente humana: Keillor instila um humor nestes versos,
que, a outras pessoas – sobretudo se adeptas fiéis de alguma doutrina religiosa
–, poderia suscitar controvérsias ou levar a dissentimentos sem remate.
O poeta roga ao
Senhor um sussurro que seja no ar, para demonstrar a sua divina existência,
quase revelando a mesma velada suspeição do baiano Castro Alves, na estância
introdutória de “Vozes d’África”: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? /
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes / Embuçado nos céus? / Há dois mil
anos te mandei meu grito, / Que embalde desde então corre o infinito... / Onde
estás, Senhor Deus?...”.
J.A.R. – H.C.
Garrison Keillor
(n. 1942)
Prayer
Here I am O Lord and
here is my prayer:
Please be there.
Don’t want to ask too
much, miracles and such –
Just whisper in the
air: please be there.
When I die like other
folks,
Don’t want to find
out You’re a hoax.
So I’m not on my
knees asking for world peace
Or that the polar
icecap freeze
And save the polar
bear
Or even that the poor
be fed
Or angels hover o’er
my bed
But I will sure be
pissed
If I should have been
an atheist.
O Lord, please exist.
Prece noturna 2
(Angu Walters:
artista camaronês)
Prece
Aqui estou, ó Senhor,
e eis aqui minha prece:
Por favor, esteja aí.
Não quero pedir demais,
milagres, isto e aquilo –
Basta que sussurre no
ar: por favor, esteja aí.
Quando morrer como
as outras pessoas,
Não quero descobrir
que você é um ludíbrio.
Por isso, não estou
ajoelhado a pedir a paz mundial
Ou que a calota polar
congele
E salve o urso polar
Ou mesmo que os pobres
sejam alimentados
Ou anjos pairem sobre
meu leito
Mas, com certeza,
ficarei chateado
Se vier a atinar que
deveria ter sido ateu.
Ó Senhor, por favor,
exista.
Referência:
KEILLOR, Garrison.
Prayer. In: __________. 77 love sonnets. St. Paul (MN): Common Good
Books, 2009. p. 1.
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