Eis aqui mais uma
confrontação entre ideias atinentes à vida e à morte, num tom lastimoso que se
concentra na beleza contingente do mundo natural, em cotejo aos efeitos
poluentes da atividade humana: de um lado, as deslumbrantes papoulas com suas “saias”
vermelhas; de outro, a visão de um “céu pálido e flamejante, a ignificar seus
monóxidos de carbono”.
Perceba-se que há um
questionamento da falante sobre quem, de fato, seria ela, uma vez que veio a “florescer”
como as papoulas “de bocas tardias”, durante um tempo coberto por “geadas” e em
meio a outras “centáureas”. Ademais, poderiam ser suscitados outros liames, especialmente
no que tange à menção ao monóxido de carbono, a nos levar, coincidência ou não,
à fatídica cena da morte de Plath, por asfixia mediante o gás saído de um fogão.
J.A.R. – H.C.
Sylvia Plath
(1932-1963)
Poppies in October
Even the sun-clouds
this morning cannot manage such skirts.
Nor the woman in the
ambulance
Whose red heart
blooms through her coat so astoundingly –
A gift, a love gift
Utterly unasked for
By a sky
Palely and flamily
Igniting its carbon
monoxides, by eyes
Dulled to a halt
under bowlers.
O my God, what am I
That these late
mouths should cry open
In a forest of frost,
in a dawn of cornflowers.
(October 27, 1962)
Campo de Papoulas
(Claude Monet: pintor
francês)
Papoulas em Outubro
Mesmo os cúmulos
desta aurora não conseguem lidar com
tais saias.
Tampouco a mulher na
ambulância,
cujo vermelho coração
floresce tão espantosamente através
do seu jaleco –
Uma dádiva, uma
dádiva de amor
Absolutamente
inesperada
Tanto por um céu
Pálido e flamejante,
A ignificar seus
monóxidos de carbono, quanto por lânguidos
Olhos que se detêm
sob chapéus-coco.
Oh meu Deus, que sou
eu
para que essas bocas
tardias se abram aos gritos
num bosque de geada,
numa aurora de centáureas?
(27 de outubro de 1962)
Referência:
PLATH, Sylvia. Poppies
in october. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal
times. 1st publ. Northumberland, EN: Bloodaxe Books, 2002. p. 48.
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