Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Sylvia Plath - Papoulas em Outubro

Eis aqui mais uma confrontação entre ideias atinentes à vida e à morte, num tom lastimoso que se concentra na beleza contingente do mundo natural, em cotejo aos efeitos poluentes da atividade humana: de um lado, as deslumbrantes papoulas com suas “saias” vermelhas; de outro, a visão de um “céu pálido e flamejante, a ignificar seus monóxidos de carbono”.

 

Perceba-se que há um questionamento da falante sobre quem, de fato, seria ela, uma vez que veio a “florescer” como as papoulas “de bocas tardias”, durante um tempo coberto por “geadas” e em meio a outras “centáureas”. Ademais, poderiam ser suscitados outros liames, especialmente no que tange à menção ao monóxido de carbono, a nos levar, coincidência ou não, à fatídica cena da morte de Plath, por asfixia mediante o gás saído de um fogão.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sylvia Plath

(1932-1963)

 

Poppies in October

 

Even the sun-clouds this morning cannot manage such skirts.

Nor the woman in the ambulance

Whose red heart blooms through her coat so astoundingly –

 

A gift, a love gift

Utterly unasked for

By a sky

 

Palely and flamily

Igniting its carbon monoxides, by eyes

Dulled to a halt under bowlers.

 

O my God, what am I

That these late mouths should cry open

In a forest of frost, in a dawn of cornflowers.

 

(October 27, 1962)

 

Campo de Papoulas

(Claude Monet: pintor francês)

 

Papoulas em Outubro

 

Mesmo os cúmulos desta aurora não conseguem lidar com

tais saias.

Tampouco a mulher na ambulância,

cujo vermelho coração floresce tão espantosamente através

do seu jaleco –

 

Uma dádiva, uma dádiva de amor

Absolutamente inesperada

Tanto por um céu

 

Pálido e flamejante,

A ignificar seus monóxidos de carbono, quanto por lânguidos

Olhos que se detêm sob chapéus-coco.

 

Oh meu Deus, que sou eu

para que essas bocas tardias se abram aos gritos

num bosque de geada, numa aurora de centáureas?

 

(27 de outubro de 1962)

 

Referência:

 

PLATH, Sylvia. Poppies in october. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st publ. Northumberland, EN: Bloodaxe Books, 2002. p. 48.

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