A considerar o título
atribuído pelo editor inglês Neil Astley à seção da obra em referência, de onde
transcrevi o poema abaixo, nomeadamente, “Eu, a Terra e o Universo”, bem assim
as citações Czeslaw Milosz e Nathalie Sarraute que encimam tal seção, nota-se
de imediato que os versos da poetisa paquistano-inglesa devem ser interpretados
à luz do que se nos apresenta num plano de não racionalidade, de mistério, de
perplexidade diante de conjunturas indecifráveis.
E não poderia ser de
outro modo: as linhas bem poderiam dizer respeito aos traços de uma pintura surrealista
a denotar, v.g., metáforas sobre as barreiras que se interpõem entre se estar
vivo, no domínio corrente, e se encontrar do outro lado, experimentando as circunstâncias
do imponderável.
J.A.R. – H.C.
Moniza Alvi
(n. 1954)
The Other Room
This is the room
reflected in the window.
Walk inside, explore
it for yourself.
The fire is glacial
crimson.
The walls are filmy,
not like walls at all.
These are the most
densely populated
living-rooms on
earth.
But who lives in
them. The souls
settle here in their
multitudes,
visit the spines of
weightless books,
the floating hands of
clocks.
Sink into armchairs
in the snow.
Lose interest in us,
even
as they beat so
fiercely
against our bolder
rooms,
the glass of the
world.
Pintura sobre vidro
(Autoria
desconhecida)
A Outra Sala
Esta é a sala que se
reflete na janela.
Caminhe para dentro, explore-a
por si mesmo.
O fogo é de tom
carmesim glacial.
Diáfanas são as paredes,
nada parecidas com paredes.
Estas são as salas de
estar mais densamente
povoadas sobre a
terra.
Mas quem nelas vive.
As almas
se instalam aqui em
suas multidões,
visitam as lombadas
de livros ingrávidos,
os ponteiros flutuantes
dos relógios.
Afundam-se em
poltronas na neve.
Perdem o interesse em
nós, mesmo
quando se chocam tão ferozmente
contra nossas mais
conspícuas salas,
o vítreo painel do
mundo.
Referência:
ALVI, Moniza. The
other room. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal
times. 1st publ. Northumberland, EN: Bloodaxe Books, 2002. p. 415.
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