Franco e coloquial, este
poema de Bai Juyi – um dos principais poetas do período intermediário da
Dinastia Tang, na virada do século VIII ao IX – narra o que se passa com o
poeta, quando acorda tarde e percebe sons e luzes da natureza, divagando em
estados mentais, ainda envolto nas mantas do leito, imaginando sua esposa a concebê-lo
como uma mariposa em crisálida, à espera da próxima primavera.
O tom despretensioso
do discurso vai em linha com o estado de languidez no qual o falante diz ainda
estar imerso, a entorpecer-lhe os sentidos, levando os seus pensamentos a se
evolarem numa atmosfera de sonho: por
que os despertadores da natureza a perturbar-lhe o sono?!
J.A.R. – H.C.
Pê Kiu Yi
(Bai Juyi)
(772-846)
Acordo ouvindo a
matinal sonata
dos passarinhos a
trinar na mata.
Multirisado, o sol
vara a cortina
e o quarto com mil
cores ilumina.
A cama está, porém,
macia e quente
e os olhos entrecerro
novamente.
É este o raro e
mágico momento
em que flutua, longe,
o pensamento.
Esqueço tudo e até
nem sei direito
de que lado do quarto
está meu leito.
Os sentidos esvaem-se
num sonho,
uma ebriez de tóxico.
Suponho
que, quando entrar
aqui, a minha esposa
vai julgar-me uma
grande mariposa
dormindo na
crisálida, à espera
do festival da nova
primavera.
Jovem dormindo
(Bernhard Keil:
pintor dinamarquês)
Referência:
YI, Pê Kiu (JUYI, Bai).
O poeta se levanta tarde. Tradução de Hugo de Castro. In: CASTRO, Hugo de
(Tradução, apresentação e notas). Cem poemas chineses. São Paulo, SP:
Vertente Editora, 1978. p. 51.
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