Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de maio de 2023

Charles Bernstein - Ballet Russe

Embora haja nestes versos de Bernstein suficiente interconexão cultural entre os dois lados do Atlântico, particularmente entre EUA e a Rússia, buscar um significado mais amplo para o todo do poema parece-me algo despropositado, pois a aparente intenção maior do poeta é fazer-nos saltar de um verso a outro – em meio à sucessão intercalada de fatos, pensamentos ou constatações –, tal como se estivéssemos dançando um... balé.

 

Veja-se que a própria distribuição gráfica dos versos do poema sobre a página sugere tal propósito, eis que alguns deles partem da margem original, enquanto outros alongam-se um, dois ou três passos à frente. Seja como for, apresento abaixo o comentário dos editores da obra em referência, acerca do poema em epígrafe, para que o leitor possa, então, chegar às suas próprias conclusões.

 

O título do poema significa “Balé Russo” em francês. Les “Ballets Russes” (os “Balés Russos”) foi uma famosa companhia russa de balé que se apresentou em Paris e outras capitais culturais entre 1909 e 1920, sob a direção de Sergei Diaghilev. A companhia combinava a dança, a música e as artes visuais de formas notavelmente inovadores e influentes. Depois que a companhia se dissolveu, foi sucedida por duas ramificações concorrentes: o “Ballet Russe de Monte Carlo” e o “Original Ballet Russe”. A conexão entre o título atribuído ao poema e o próprio poema é enigmática: este se compõe de uma séria de orações que carecem de relação aparente. Algumas delas se assemelham a autodescrições ou confissões (“Cometi erros”), enquanto outras parecem ser afirmações gerais (“Todas as pessoas têm sentimentos”). Desprovidas de contexto, as orações oscilam incertas entre o profundo e o ridículo, perturbando a forma como habitualmente nos moldamos ao desempenho e ao sentido do enunciado. (AXELROD; ROMAN; TRAVISANO, 2012, p. 403-404)

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Bernstein

(n. 1950)

 

Ballet Russe

 

Every person has feeling.

It is all the same.

I will travel.

I love nature.

I love motion & dancing.

I did not understand God.

I have made mistakes.

Bad deeds are terrible.

I suffered.

My wife is frightened.

The stock exchange is death.

I am against all drugs.

My scalp is strong & hard.

I like it when it is necessary.

It is a lovely drive.

A branch is not a root.

Handwriting is a lovely thing.

I like tsars & aristocrats.

An aeroplane is useful.

One should permanently help the poor.

My wife wants me to go to Zurich.

Politics are death.

All young men do silly things.

The Spaniards are terrible people because they murder bulls.

My wife suffered a great deal because of her mother.

I will tell the whole truth.

I love Russia.

I am nasty.

I am terrified of being locked up & losing my work.

Mental agony is a terrible thing.

I pretend to be a very nervous man.

 

(1978)

 

No camarim do balé:

bailarinas do Bolshoi

(Zinaida Serebryakova: pintora russa)

 

Ballet Russe

 

Todas as pessoas têm sentimentos.

É tudo a mesma coisa.

Vou viajar.

Amo a natureza.

Encanta-me o movimento e a dança.

Deus não me acedeu à compreensão.

Cometi erros.

As más ações são terríveis.

Padeci por isso.

Minha esposa está assustada.

A bolsa de valores é a morte.

Sou contra todas as drogas.

Meu couro cabeludo é forte & rijo.

Gosto de algo quando se revela necessário.

É um maravilhoso impulso.

Um ramo não é uma raiz.

A escrita à mão tem um quê de encantador.

Gosto de czares & aristocratas.

Um avião é de grande utilidade.

Deve-se ajudar permanentemente os pobres.

Minha esposa quer que eu vá para Zurique.

A política é a morte.

Todos os jovens fazem coisas tolas.

Terríveis são os espanhóis, pois matam touros.

Minha esposa sofreu muito por causa de sua mãe.

Direi toda a verdade.

Amo a Rússia.

Sou desagradável.

Tenho pavor de ser preso & de perder meu trabalho.

A agonia mental é uma coisa terrível.

Finjo ser um homem muito nervoso.

 

(1978)

 

Referência:

 

BERNSTEIN, Charles. Ballet russe. In: AXELROD, Steven Gould; ROMAN, Camille; TRAVISANO, Thomas (Eds.). The new anthology of american poetry. Vol. 3: Postmodernisms 1950-Present. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 2012. p 403.

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