Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de maio de 2023

Ingeborg Bachmann - Paris

Bachmann aqui se reporta a dois elementos integrantes da inconfundível topografia da capital francesa, quais sejam, de um lado, as galerias subterrâneas de seu “trovejante” metrô, e de outro, o cintilante cenário modelado pelo Sena e suas pontes – que a fazem ser conhecida em todo o mundo como a “Cidade-Luz”.

 

No avançar das linhas, as flexões verbais passam a denotar a presença de alguém a quem a voz lírica se dirige, seu provável parceiro, no caso, para dar conta de um ânimo desencantado no momento mesmo em que transposta “a prova da beleza” para ambos, doravante erradios nas luminosas “alamedas dos génios”, muito embora ainda lhes subsista o especulado intento de “capturar” o lado mais emblemático da noite.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ingeborg Bachmann

(1926-1973)

 

Paris

 

Aufs Rad der Nacht geflochten

schlafen die Verlorenen

in den donnernden Gängen unten,

doch wo wir sind, ist Licht.

 

Wir haben die Arme voll Blumen,

Mimosen aus vielen Jahren;

Goldnes fällt von Brücke zu Brücke

atemlos in den Fluß.

 

Kalt ist das Licht,

noch kälter der Stein vor dem Tor,

und die Schalen der Brunnen

sind schon zur Hälfte geleert.

 

Was wird sein, wenn wir, vom Heimweh

benommen bis ans fliehende Haar,

hier bleiben und fragen: was wird sein,

wenn wir die Schönheit bestehen?

 

Auf den Wagen des Lichts gehoben,

wachend auch, sind wir verloren,

auf den Straßen der Genien oben,

doch wo wir nicht sind, ist Nacht.

 

Paris é bela

(Frédéric Thiery: artista francês)

 

Paris

 

Entretecidos na roda da noite

os vagabundos dormem

lá em baixo nas galerias trovejantes;

mas onde nós estamos é a luz.

 

Temos os braços carregados de flores,

mimosas de muitos anos;

ouros caem de ponte em ponte

ofegantes no rio.

 

Fria é a luz,

mais fria ainda a pedra frente ao portão,

e as taças das fontes

já estão meio vazias.

 

Que será quando, perturbados

de saudade até ao esvoaçar dos cabelos,

aqui ficarmos e perguntarmos: Que será

quando passarmos a prova da beleza?

 

No alto do carro da luz,

vigilantes também, estamos perdidos

nas alamedas dos génios, lá em cima,

mas onde nós não estamos é a noite.

 

Referência:

 

BACHMANN, Ingeborg. Paris / Paris. Tradução de João Barrento e Judite Berkemeier. In: __________. O tempo aprazado: poemas (1953-1967). Edição bilíngue: Alemão x Português. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Judite Berkemeier. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 1992. Em alemão: p. 30; em português: p. 31. (Edição nº 341; nov. 1992)

Nenhum comentário:

Postar um comentário