Bachmann aqui se reporta
a dois elementos integrantes da inconfundível topografia da capital francesa,
quais sejam, de um lado, as galerias subterrâneas de seu “trovejante” metrô, e de
outro, o cintilante cenário modelado pelo Sena e suas pontes – que a fazem ser
conhecida em todo o mundo como a “Cidade-Luz”.
No avançar das linhas,
as flexões verbais passam a denotar a presença de alguém a quem a voz lírica se
dirige, seu provável parceiro, no caso, para dar conta de um ânimo desencantado
no momento mesmo em que transposta “a prova da beleza” para ambos, doravante erradios
nas luminosas “alamedas dos génios”, muito embora ainda lhes subsista o
especulado intento de “capturar” o lado mais emblemático da noite.
J.A.R. – H.C.
Ingeborg Bachmann
(1926-1973)
Paris
Aufs Rad der Nacht
geflochten
schlafen die
Verlorenen
in den donnernden
Gängen unten,
doch wo wir sind, ist
Licht.
Wir haben die Arme
voll Blumen,
Mimosen aus vielen
Jahren;
Goldnes fällt von
Brücke zu Brücke
atemlos in den Fluß.
Kalt ist das Licht,
noch kälter der Stein
vor dem Tor,
und die Schalen der
Brunnen
sind schon zur Hälfte
geleert.
Was wird sein, wenn
wir, vom Heimweh
benommen bis ans
fliehende Haar,
hier bleiben und
fragen: was wird sein,
wenn wir die
Schönheit bestehen?
Auf den Wagen des
Lichts gehoben,
wachend auch, sind
wir verloren,
auf den Straßen der
Genien oben,
doch wo wir nicht
sind, ist Nacht.
Paris é bela
(Frédéric Thiery:
artista francês)
Paris
Entretecidos na roda
da noite
os vagabundos dormem
lá em baixo nas
galerias trovejantes;
mas onde nós estamos
é a luz.
Temos os braços
carregados de flores,
mimosas de muitos
anos;
ouros caem de ponte
em ponte
ofegantes no rio.
Fria é a luz,
mais fria ainda a
pedra frente ao portão,
e as taças das fontes
já estão meio vazias.
Que será quando,
perturbados
de saudade até ao
esvoaçar dos cabelos,
aqui ficarmos e perguntarmos:
Que será
quando passarmos a
prova da beleza?
No alto do carro da
luz,
vigilantes também,
estamos perdidos
nas alamedas dos
génios, lá em cima,
mas onde nós não
estamos é a noite.
Referência:
BACHMANN, Ingeborg. Paris / Paris. Tradução de João Barrento e Judite Berkemeier. In: __________. O tempo aprazado: poemas (1953-1967). Edição bilíngue: Alemão x Português. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Judite Berkemeier. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 1992. Em alemão: p. 30; em português: p. 31. (Edição nº 341; nov. 1992)
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