Poder-se-ia depreender
destes versos do poeta mexicano uma mensagem propositiva de comunhão, de convívio
fraterno e não discriminatório, não apenas entre os humanos, mas também entre
estes e eventuais outros seres que possam existir pelo universo afora, de modo
a ampliar de forma drástica o sentido da palavra “tribo”, até que a torne um
verbete sem sentido, por a todos incluir incondicionalmente.
Pertencer a uma “tribo”,
qualquer que seja a acepção que se tome corriqueiramente, significa, por um
lado, abarcar alguns e, por outro, excluir muitos – como os imigrantes, os
empobrecidos, os que pertencem a determinada origem, religião, raça, sexo, cor,
idade e por aí vai: o preconceito é o viés que fundamenta a existência da grande
maioria das “tribos”.
Sob o firmamento, a pequenina
Terra, de onde o poeta espera derivar a notícia maior de um acolhimento
holista, abrangedor, universalista, objetivando “recriar o paraíso agora, para
o merecer quem vem depois” – como diriam os letristas Beto Guedes e Ronaldo
Bastos, na bela composição “O Sal da Terra”.
J.A.R. – H.C.
Alberto Blanco
(n. 1951)
Mi Tribu
La tierra es la misma
el cielo es otro.
El cielo es el mismo
la tierra es otra.
(*)
De lago en lago,
de bosque en bosque:
¿cuál es mi tribu?
– me pregunto –
¿cuál es mi lugar?
Tal vez pertenezco a
la tribu
de los que no tienen
tribu;
o a la tribu de las
ovejas negras;
o a una tribu cuyos
ancestros
vienen del futuro:
una tribu que está
por llegar.
Pero si he de
pertenecer a alguna tribu
– me digo –
que sea a una tribu
grande,
que sea una tribu
fuerte,
una tribu donde nada
ni nadie
quede fuera de la
tribu,
donde todos,
todo y siempre
tengan su santo
lugar.
No hablo de una tribu
humana.
No hablo de una tribu
planetaria.
No hablo siquiera de
una tribu universal.
Hablo de una tribu de
la que no se puede hablar.
Una tribu que ha
existido siempre
pero cuya existencia
está todavía por ser comprobada.
Una tribu que no ha
existido nunca
pero cuya existencia
podemos ahora mismo comprobar.
A Tribo IV: a tribo
urbana
(Filipe Assunção:
artista português)
Minha Tribo
A terra é a mesma
o céu é outro.
O céu é o mesmo
a terra é outra. (*)
De lago em lago
de bosque em bosque:
qual é minha tribo?
– me pergunto –
qual é meu lugar?
Talvez eu pertença à
tribo
dos que não têm
tribo;
ou à tribo das ovelhas
negras;
ou a uma tribo cujos
ancestrais vêm do futuro:
uma tribo que está
por chegar.
Porém se hei de
pertencer a alguma tribo
– me digo –
que seja uma tribo
grande,
que seja uma tribo
forte,
uma tribo onde
ninguém
fique fora da tribo,
onde todos,
tudo e sempre
tenham seu santo
lugar.
Não falo de uma tribo
humana.
Não falo de uma tribo
planetária.
Não falo sequer de
uma tribo universal.
Falo de uma tribo da
qual não se possa falar.
Uma tribo que sempre
existiu
porém cuja existência
está ainda por ser comprovada.
Uma tribo que não
tenha jamais existido
porém cuja existência
possamos agora mesmo
comprovar.
Nota:
(*). Deixo aqui
assente que a primeira estrofe do poema, presente na referência alusiva à obra
bilíngue (Espanhol x Inglês), abaixo mencionada, não consta na tradução ao
português, elaborada por Floriano Martins, tendo sido por mim interpolada na
posição que lhe corresponde. Não saberia dizer se se trata de um mote, a partir
do qual o poeta desenvolveu o poema, ou mesmo – quem sabe? – a replicação de
alguma ideia consignada alhures, de sua autoria ou de outrem.
Referências:
Em Espanhol
BLANCO, Alberto. Mi
tribu. In: __________. Dawn of the senses: selected poems of Alberto
Blanco. Edited by Juvenal Acosta. Introduction by José Emilio Pacheco. A
bilingual edition: Spanish x English. Various translators. San Francisco, CA: City
Light Books, 1995. p. 2 y 4. (Pocket Poets Series; nº 52)
Em Português
BLANCO, Alberto.
Minha tribo. Tradução de Floriano Martins. In: LANGAGNE, Eduardo (Organização e
Estudo Introdutório). Dentro do poema: poetas mexicanos nascidos entre
1950 e 1959. Tradução de Floriano Martins. Coedição com a Secretaria de Cultura
do Estado do Ceará - Secult. Fortaleza, CE: Edições UFC, 2009. p. 113. (Coleção
Nossa Cultura, n. 1; Série Bolivariana, n. 3)
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