Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Paulo Leminski - Desencontrários

Curtos, mas sempre cheios de humor e de nuances: assim são os poemas de Leminski! Neste caso, detém-se o paranaense sobre a arte de escrever versos, que, em tese, teria que obedecer ao comando do próprio poeta, e então...

 

Note-se que o falante ordena à palavra que rime, mas logo se ressente de sua desobediência. Contudo, ironia das ironias, o leitor pode perceber claramente que há rimas em ambas as estâncias do poema, algumas delas internas, como “rimar x mar” ou “labirinto x sinto”.

 

Se o poeta emprega a expressão “sílaba silenciosa”, poder-se-ia deduzir que talvez quisesse aludir àquela que se grafa numa sequência na página, não propriamente à que se transmite de forma oral: por trás delas, seja como for, apenas o “eu sinto” a alicerçar o seu ofício, vale dizer, “Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto”.

 

Um “exército” de palavras tentando capturar o “império extinto” da poesia... A poesia morreu? Viva a poesia! Ela é, em boa medida, a razão de ser deste blog!

 

J.A.R. – H.C.

 

Paulo Leminski

(1944-1989)

 

Desencontrários

 

Mandei a palavra rimar,

ela não me obedeceu.

Falou em mar, em céu, em rosa,

em grego, em silêncio, em prosa.

Parecia fora de si,

a sílaba silenciosa.

 

Mandei a frase sonhar,

e ela se foi num labirinto.

Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.

Dar ordens a um exército,

para conquistar um império extinto.

 

Palavras em movimento

(Malik Seneferu: artista afro-americano)

 

Referência:

 

LEMINSKI, Paulo. Desencontrários. In: WEINTRAUB, Fabio (Seleção e Organização). Poesia marginal. Ilustrações por Guto Lacaz. São Paulo (SP): Ática, 2007. p. 35. (Coleção ‘Para gostar de ler’; n. 39)

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