Curtos, mas sempre
cheios de humor e de nuances: assim são os poemas de Leminski! Neste caso,
detém-se o paranaense sobre a arte de escrever versos, que, em tese, teria que
obedecer ao comando do próprio poeta, e então...
Note-se que o falante
ordena à palavra que rime, mas logo se ressente de sua desobediência. Contudo,
ironia das ironias, o leitor pode perceber claramente que há rimas em ambas as
estâncias do poema, algumas delas internas, como “rimar x mar” ou “labirinto x
sinto”.
Se o poeta emprega a
expressão “sílaba silenciosa”, poder-se-ia deduzir que talvez quisesse aludir àquela
que se grafa numa sequência na página, não propriamente à que se transmite de
forma oral: por trás delas, seja como for, apenas o “eu sinto” a alicerçar o seu
ofício, vale dizer, “Dar ordens a um exército, para conquistar um império
extinto”.
Um “exército” de
palavras tentando capturar o “império extinto” da poesia... A poesia morreu?
Viva a poesia! Ela é, em boa medida, a razão de ser deste blog!
J.A.R. – H.C.
Paulo Leminski
(1944-1989)
Desencontrários
Mandei a palavra
rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu,
em rosa,
em grego, em
silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase
sonhar,
e ela se foi num
labirinto.
Fazer poesia, eu
sinto, apenas isso.
Dar ordens a um
exército,
para conquistar um
império extinto.
Palavras em movimento
(Malik Seneferu:
artista afro-americano)
Referência:
LEMINSKI, Paulo.
Desencontrários. In: WEINTRAUB, Fabio (Seleção e Organização). Poesia
marginal. Ilustrações por Guto Lacaz. São Paulo (SP): Ática, 2007. p. 35.
(Coleção ‘Para gostar de ler’; n. 39)
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