Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Geoffrey Hill - A História como Poesia

O poeta inglês vê na poesia algo de insubsistente – melhor seria dizer inconsistente –, quando ela se apropria da História para alcançar proveitos próprios, em vez de se orientar por caminhos capazes de cumprir os deveres que lhe são privativos: uma poesia que não se autoexamina, pejada de palavras carentes do fervor pentecostal, como cinzas do que se exauriu para sempre.

 

A exumação dos mortos revela que estes foram atingidos por “atrocidades da língua”, passando a ostentar “feridas azuis”: na hipótese de se volver à tradição, como forma de “saudação” ou de reverência, não se deve enveredar por adulações exageradas, senão por uma revelação restaurada da palavra, responsável diante do legado da História, vívida contudo, como o dom radioso das línguas de fogo de Pentecostes!

 

J.A.R. – H.C.

 

Geoffrey Hill

(1932-2016)

 

History as Poetry

 

Poetry as salutation; taste

Of Pentecost’s ashen feast. Blue wounds.

The tongue’s atrocities. Poetry

Unearths from among the speechless dead

 

Lazarus mystified, common man

Of death. The lily rears its gouged face

From the provided loam. Fortunate

Auguries; whirrings; tarred golden dung:

 

‘A resurgence’ as they say. The old

Laurels wagging with the new: Selah!

Thus laudable the trodden bone thus

Unanswerable the knack of tongues.

 

A ressurreição de Lázaro

(ao modo de Rembrandt)

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

A História como Poesia

 

A poesia como saudação; sabor

De celebração das cinzas de Pentecostes. Feridas azuis.

As atrocidades da língua. A poesia

exuma de entre os mortos sem fala

 

O mistificado Lázaro, o homem naturalmente

Mortal. O lírio ergue sua face lavrada

A partir da marga provida. Afortunados

Augúrios; sibilantes; estrume dourado alcatroado:

 

‘Uma ressurgência’, como se diz. Os velhos

Lauréis a menear com os novos: Selah!

Assim louvável o osso pisoteado; assim

Incontestável o dom das línguas.

 

Referência:

 

HILL, Geoffrey. History as poetry. In: __________. New and collected poems: 1952-1992. 1st ed. New York, NY: Mariner Books (Houghton Mifflin Company), 2000. p. 72.

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