Satirizando o ‘modus
vivendi’ do homem moderno, conformista e pouco afeito a aventuras ou ousadias,
consumidor voraz numa sociedade de massa, entregue às vontades do Estado, Auden
retrata muito do que se observa nas sociedades capitalistas avançadas, particularmente
nos EUA, para onde imigrou em meados da quarta década de vida.
Ergue-se um monumento
para tal homem, a guardar sua memória de cidadão pacato e “exemplar”, um
cidadão “desconhecido” (como assaz se denominam aqueles que, em uma guerra,
sucumbem sem que sejam identificados os seus restos mortais).
Como pano de fundo, tem-se
o Estado a monitorar a índole de submissão de seus súditos, verdadeiro “panóptico”
benthamiano responsável pela inspeção, vigilância e disciplina de todos sob o seu
alcance, em conformidade aos interesses da cúpula.
J.A.R. – H.C.
W. H. Auden
(1907-1973)
(To JS/07/M/378
This Marble Monument
Is Erected by the
State)
He was found by the
Bureau of Statistics to be
One against whom
there was no official complaint,
And all the reports
on his conduct agree
That, in the modern
sense of an old-fashioned word, he was a saint,
For in everything he
did he served the Greater Community.
Except for the War
till the day he retired
He worked in a
factory and never got fired,
But satisfied his
employers, Fudge Motors Inc.
Yet he wasn’t a scab
or odd in his views,
For his Union reports
that he paid his dues,
(Our report on his
Union shows it was sound)
And our Social
Psychology workers found
That he was popular
with his mates and liked a drink.
The Press are
convinced that he bought a paper every day
And that his
reactions to advertisements were normal in every way.
Policies taken out in
his name prove that he was fully insured,
And his Health-card
shows he was once in hospital but left it cured.
Both Producers
Research and High-Grade Living declare
He was fully sensible
to the advantages of the Instalment Plan
And had everything
necessary to the Modern Man,
A phonograph, a
radio, a car and a frigidaire.
Our researchers into
Public Opinion are content
That he held the
proper opinions for the time of year;
When there was peace,
he was for peace; when there was war, he went.
He was married and
added five children to the population,
Which our Eugenist
says was the right number for a parent of his generation,
And our teachers
report that he never interfered with their education.
Was he free? Was he
happy? The question is absurd:
Had anything been
wrong, we should certainly have heard.
(March 1939)
O Soldado
Desconhecido
(Arran Ross: artista
escocês)
O Cidadão
Desconhecido
(A JS/07/M/378,
Ergue-se pelo Estado
Este Monumento de
Mármore)
A Agência de
Estatísticas apurou que ele era alguém
Contra quem não havia
exprobrações oficiais,
E todos os relatórios
sobre a sua conduta coincidem em
Que, no moderno
sentido de uma palavra antiquada, tratava-se de um santo,
Pois, em tudo o que
fazia, servia à Grande Comunidade.
Exceto pela Guerra e
até o dia de sua jubilação,
Trabalhou em uma
fábrica e nunca foi demitido,
Mantendo satisfeitos
seus patrões, na Motores Caramelo S.A.
No entanto, não era
um fura-greves nem esquisito em suas opiniões,
Pois seu Sindicato relata
que sempre pagou as quotas que lhe eram vindicadas
(Nosso informe sobre
o Sindicato indica fiabilidade).
Os assistentes da
seção de Psicologia Social descobriram
Que era estimado
entre os companheiros e apreciava um trago.
A imprensa está convencida
de que comprava jornal todos os dias
E que suas reações à
publicidade eram normais em todos os sentidos.
As apólices
subscritas em seu nome atestam que estava seguro a todo risco,
E o seu Cartão de
Saúde indica que esteve uma vez no hospital, mas saiu
de lá curado.
Tanto as Sondagens
dos Produtores quanto as de Qualidade de Vida afirmam
Que ele era
plenamente consciente das vantagens do Pagamento a Prazo
E tinha tudo o que
era necessário ao Homem Moderno:
Um fonógrafo, um
rádio, um carro e uma geladeira.
Nossos pesquisadores
de Opinião Pública contentavam-se
Por ele manter
opiniões adequadas para cada época do ano;
Quando havia paz, era
pela paz; quando havia guerra, para lá se dirigia.
Era casado e acresceu
cinco filhos à população,
O que nosso Eugenista
diz ser o número adequado para um pai de sua
geração,
Havendo relatos, por nossos
professores, de que jamais interferiu em sua
educação.
Era livre? Era feliz?
Absurda é a pergunta:
Se algo estivesse
errado, certamente teríamos escutado.
(Março de 1939)
Referência:
AUDEN, W. H. The unknown citizen. In: __________. The collected poetry of W. H. Auden. 6th printing. New York, NY: Random House, 1945. p. 142-143.
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