Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Edgar Allan Poe - O Vale da Inquietude

Num vale que teria presenciado embates marciais, com perda apreciável de vidas humanas, jazem as almas dos mortos numa espécie de campo santo, pendentes de acolhida na quietude da eternidade, contexto de onde se colige certa paisagem imaginativa assombradora – típica dos elementos soturnos e misteriosos que bem caracterizam as criações de Poe.

 

Presenças sobrenaturais movimentariam as árvores no lugar – não o vento, como seria presumível –, idem as nuvens que flutuam sobre as violetas por todo o cemitério, ou mesmo os lírios em movimento ondulante, de onde pendem gotas de orvalho – lhana metáfora para as lágrimas vertidas pelos falecidos –, em gemas brilhantes sobre as quais cintilam os reflexos do sol nascente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Edgar Allan Poe

(1809-1849)

 

The Valley of Unrest

 

Once it smiled a silent dell

Where the people did not dwell;

They had gone unto the wars,

Trusting to the mild-eyed stars,

Nightly, from their azure towers,

To keep watch above the flowers,

In the midst of which all day

The red sun-light lazily lay.

Now each visitor shall confess

The sad valley’s restlessness.

Nothing there is motionless –

Nothing save the airs that brood

Over the magic solitude.

Ah, by no wind are stirred those trees

That palpitate like the chill seas

Around the misty Hebrides!

Ah, by no wind those clouds are driven

That rustle through the unquiet Heaven

Uneasily, from morn till even,

Over the violets there that lie

In myriad types of the human eye –

Over the lilies there that wave

And weep above a nameless grave!

They wave: – from out their fragrant tops

External dews come down in drops.

They weep: – from off their delicate stems

Perennial tears descend in gems.

 

O Vale da Inquietude

(Edmund Dulac: ilustrador franco-inglês)

 

O Vale da Inquietude

 

Dantes, silente vale sorria.

Era um vale onde ninguém vivia.

Haviam todos partido em guerra,

deixando os doces olhos de estrelas

noturnamente velarem pelas

flores formosas daquela terra,

em cujos braços, dia após dia,

a luz vermelha do sol dormia.

Não há viajante que, hoje, não fale

sobre a inquietude do triste vale.

Lá, agora, tudo é só movimento,

exceto os ares, pesando, adustos,

nas soledades de encantamento.

Ah! nenhum vento move os arbustos

que vibram como as ondas geladas

em torno às Hébridas enevoadas!

Ah! nenhum vento essas nuvens guia,

murmurejantes, nos céus insanos,

e que se arrastam, por todo o dia,

sobre violetas, que alguém diria

serem milhares de olhos humanos,

e sobre lírios, de haste pendida,

chorando em tumba desconhecida,

tremendo; e sempre caem, com o perfume,

gotas de orvalho do flóreo cume,

chorando; e desce, nas hastes frias,

um pranto eterno de pedrarias.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

POE, Edgar Allan. The valley of unrest. In: __________. The portable Edgar Allan Poe. Edited with an Introduction by J. Gerald Kennedy. 1st publ. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 414.

 

Em Português

 

POE, Edgar Allan. O vale da inquietude. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. In: __________. Poemas e ensaios. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. Revisão e notas de Carmen Vera Cirne Lima. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Globo, 1987. p. 59-60.

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