Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

W. S. Merwin - Ao Ano Novo

Uma evocação à chegada do ano novo, primeiramente como evento temporal – despertando a manhã e incitando uma pomba a romper o silêncio nas paragens da natureza onde localizado o ente lírico –; depois, como honesta reflexão do falante sobre a situação presente – sua e de seus pares –, à vista do quadro de possibilidades antes apresentado, bem assim, numa perspectiva de futuro, um reforço no ânimo para a concretização de expectativas, algumas delas ainda intactas e exequíveis.

 

Poder-se-ia subsumir dos versos de Merwin certa modulação passível de ser aditada a algo maior, digo melhor, uma cosmovisão orientada aos acenos da humanidade, enquanto apreensão de totalidade e de um sentido de realidade sob os quais, cada um em particular, seja instado a descobrir o seu lugar natural sobre a terra, fazendo bom uso de toda a sua inteligência e de seu coração.

 

J.A.R. – H.C.

 

W. S. Merwin

(1927-2019)

 

To the New Year

 

With what stillness at last

you appear in the valley

your first sunlight reaching down

to touch the tips of a few

high leaves that do not stir

as though they had not noticed

and did not know you at all

then the voice of a dove calls

from far away in itself

to the hush of the morning

 

so this is the sound of you

here and now whether or not

anyone hears it this is

where we have come with our age

our knowledge such as it is

and our hopes such as they are

invisible before us

untouched and still possible

 

Paisagem do Reno com barcos

pesqueiros na margem dianteira

(Christian Georg Schüz: pintor alemão)

 

Ao Ano Novo

 

Com que quietude apareces,

finalmente, no vale,

teus primeiros raios solares chegam

a tocar as pontas de algumas

folhas altas que não se agitam,

como se não se houvessem dado conta

e não te conhecessem em absoluto;

então a voz de uma pomba ecoa

de longe, desacompanhada,

para romper o silêncio da manhã.

 

Decerto, esse é o teu som

aqui e agora, quer alguém o ouça

quer não: este é o ponto

onde chegamos com nossa idade,

nosso conhecimento tal como se revela,

e nossas esperanças assim como são –

invisíveis diante de nós,

intocadas e ainda possíveis.

 

Referência:

 

MERWIN, W. S. To the new year. In: __________. Present company: poems. Port Townsend, WA: Copper Canyon Press, 2007. p. 129.


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