Uma evocação à
chegada do ano novo, primeiramente como evento temporal – despertando a manhã e
incitando uma pomba a romper o silêncio nas paragens da natureza onde
localizado o ente lírico –; depois, como honesta reflexão do falante sobre a
situação presente – sua e de seus pares –, à vista do quadro de possibilidades
antes apresentado, bem assim, numa perspectiva de futuro, um reforço no ânimo
para a concretização de expectativas, algumas delas ainda intactas e exequíveis.
Poder-se-ia subsumir
dos versos de Merwin certa modulação passível de ser aditada a algo maior, digo
melhor, uma cosmovisão orientada aos acenos da humanidade, enquanto apreensão
de totalidade e de um sentido de realidade sob os quais, cada um em particular,
seja instado a descobrir o seu lugar natural sobre a terra, fazendo bom uso de
toda a sua inteligência e de seu coração.
J.A.R. – H.C.
W. S. Merwin
(1927-2019)
To the New Year
With what stillness
at last
you appear in the
valley
your first sunlight
reaching down
to touch the tips of
a few
high leaves that do
not stir
as though they had
not noticed
and did not know you
at all
then the voice of a
dove calls
from far away in
itself
to the hush of the
morning
so this is the sound
of you
here and now whether
or not
anyone hears it this
is
where we have come
with our age
our knowledge such as
it is
and our hopes such as
they are
invisible before us
untouched and still
possible
Paisagem do Reno com
barcos
pesqueiros na margem
dianteira
(Christian Georg
Schüz: pintor alemão)
Ao Ano Novo
Com que quietude
apareces,
finalmente, no vale,
teus primeiros raios
solares chegam
a tocar as pontas de
algumas
folhas altas que não
se agitam,
como se não se
houvessem dado conta
e não te conhecessem em
absoluto;
então a voz de uma
pomba ecoa
de longe, desacompanhada,
para romper o
silêncio da manhã.
Decerto, esse é o teu
som
aqui e agora, quer
alguém o ouça
quer não: este é o
ponto
onde chegamos com
nossa idade,
nosso conhecimento
tal como se revela,
e nossas esperanças
assim como são –
invisíveis diante de
nós,
intocadas e ainda
possíveis.
Referência:
MERWIN, W. S. To the
new year. In: __________. Present company: poems. Port Townsend, WA: Copper
Canyon Press, 2007. p. 129.
Nenhum comentário:
Postar um comentário