Whittemore redigiu
este poema antes que o homem pusesse, de fato, os pés na Lua, em 1969, por meio
do voo tripulado da Apolo 11: a troça suscitada pelo poeta, procurando mostrar os
dislates dos protagonistas envolvidos, faz-nos lembrar, de algum modo, dos enleios
da série “Perdidos no Espaço” (“Lost in Space”), produzida nos EUA entre os
anos de 1965 e 1968.
Mas o que se nos
oferece de imediato dos infratranscritos versos é a lucidez com que Whittemore
percebe a avidez do ser humano por “conquistar e submeter” outras plagas ou
planetas, tão nitidamente evidenciada, nos dias que correm, pela tendência
norte-americana de transformar o mundo em seu “parque de diversões”, para
muitos, mero “quintal”.
P.s.: No intento de
facilitar a compreensão de algumas passagens do poema, acresço algumas notas, imediatamente
antepostas ao campo da “Referência”.
J.A.R. – H.C.
Reed Whittemore
(1919-2012)
A Projection
I wish they would
hurry up their trip to Mars,
Those rocket
gentlemen.
We have been waiting
too long; the fictions of little men
And canals,
And of planting and
raising flags and opening markets
For beads, cheap
watches, perfume and plastic jewelry –
All these begin to be
tedious; what we need now
Is the real thing, a
thoroughly bang-up voyage
Of discovery.
Led by Admiral Byrd
In the Niña, Pinta
and Santa Maria
With a crew of one
hundred experts
In physics, geology,
war and creative writing,
The expedition should
sail with a five-year supply of
Pemmican, Jello,
Moxie,
Warm woolen socks and
jars of Gramma’s preserves.
Think of them out
there,
An ocean of space
before them, using no compass,
Guiding themselves by
speculative equations,
Looking,
Looking into the
night and thinking now
There are no days, no
seasons, time
Is only on watches,
and landing on Venus
Through some slight
error,
Bearing
Proclamations of
friendship,
Declarations of
interstellar faith,
Acknowledgements of
American supremacy,
And advertising
matter.
I wonder,
Out in the pitch of
space, having worlds enough,
If the walled-up, balled-up
self could from its alley
Sally.
I wish they would
make provisions for this,
Those rocket
gentlemen.
In: “An American
Takes a Walk” (1956)
Viagem ao espaço
sideral
(Tithi Luadthong:
artista tailandês)
Uma Projeção
Eu gostaria que apressassem
sua viagem a Marte,
Esses cavalheiros do
foguete,
Já esperamos
demasiado; as ficções sobre homenzinhos
E canais,
E da implantação e
elevação de bandeiras, e da abertura
de mercados
Para contas, relógios
baratos, perfumes e joias de plástico –
Tudo isso começa a
ficar entediante; o que precisamos
agora
É a coisa real, uma
viagem completamente estrondosa
De descobrimento.
Conduzida pelo
Almirante Byrd, (1)
Na Niña, Pinta
e Santa Maria, (2)
Com uma tripulação de
centenas de técnicos
Em física, geologia,
guerra e literatura criativa,
A expedição deve
partir com um suprimento para cinco
anos de
Pemmican, Jello,
Moxie, (3)
Confortáveis meias de
lã e vidros de conservas da vovó.
Pensem neles lá,
Um oceano de espaço
diante de si, não usando compassos,
Guiando-se por
equações especulativas,
Olhando,
Olhando para dentro
da noite e pensando agora
Não há dias,
estações, o tempo
Está apenas nos
relógios,
e aterrissando em
Vênus
Por algum leve erro,
Conduzindo
Proclamações de
amizade,
Declarações de fé
interestelar,
Reconhecimentos da
soberania americana
E material de
propaganda.
Eu imagino,
Lá na imensidão do
espaço, tendo mundos bastantes,
Se o ego emparedado,
enovelado poderá sair
De seu beco.
Eu gostaria que
fizessem provisões para isso,
Aqueles cavalheiros
do foguete.
Em: “Um Americano Dá
um Passeio” (1956)
Notas:
(1). Almirante Byrd: provável
menção a Richard Evelyn Byrd (1888-1957), oficial naval especialista em viagens
de explorações, tendo sido pioneiro da aviação, exploração e organização
logística de expedições polares.
(2). Niña, Pinta
e Santa Maria: nomes atribuídos a caravelas de Cristóvão Colombo
(1451-1506), quando de sua expedição ao continente americano.
(3). Pemmican: mistura
concentrada de gordura e proteína, utilizada como alimento energético; Jello:
marca registrada de gelatina; Moxie: marca de bebida carbonatada, com sabor
amargo semelhante ao da cerveja de raiz, aromatizado com extrato de genciana (no
inglês americano, a palavra acabou por significar “audácia”, “coragem”, “determinação”).
Referência:
WHITTEMORE, Reed. The projection / Uma projeção. Tradução de Marcos Santarrita. In: NEMEROV, Howard (Coord.). Poesia como criação. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em inglês: p. 252-253; em português: p. 258.
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