Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Carl Sandburg - Os Advogados Sabem Demais

Sandburg fala dos advogados como uma classe a quem não dedica grande apreço, muito embora reconheça que muitos dos causídicos dominam de memória as orientações e doutrinas de eminentes juristas, como as do citado John Marshall (1755-1835), político e advogado, bastante conhecido por ser um dos fundadores do sistema de garantias constitucionais dos EUA e o seu quarto Chefe de Justiça.

 

A propósito, os versos de Sandburg refletem, já em meados da primeira metade do século passado, aquilo que se observa quotidianamente na vida norte-americana: uma exacerbada tendência à litigação judicial por qualquer motivo, tudo em busca de ganhos financeiros indenizatórios, com paralelos e relevantes honorários desembolsados aos advogados.

 

Em suma: por trás de grandes somas de dinheiro, sempre há um grande séquito de advogados, os quais, na visão do poeta, nem sempre são íntegros em seu ofício, ofício esse que, por sua vez, denotaria algo de parasitário.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carl Sandburg

(1878-1967)

 

The Lawyers Know Too Much

 

The lawyers, Bob, know too much.

They are chums of the books of the old John Marshall.

They know it all, what a dead hand wrote,

A stiff dead hand and its knuckles crumbling,

The bones of the fingers a thin white ash.

The lawyers know

a dead man’s thoughts too well.

 

In the heels of the higgling lawyers, Bob,

Too many slippery ifs and buts and howevers,

Too much hereinbefore provided whereas,

Too many doors to go in and out of.

 

When the lawyers are through

What is there left, Bob?

Can a mouse nibble at it

And find enough to fasten a tooth in?

 

Why is there always a secret singing

When a lawyer cashes in?

Why does a hearse horse snicker

Hauling a lawyer away?

 

The work of a bricklayer goes to the blue.

The knack of a mason outlasts a moon.

The hands of a plasterer hold a room together.

The land of a farmer wishes him back again.

Singers of songs and dreamers of plays

Build a house no wind blows over.

The lawyers – tell me why a hearse horse snickers

hauling a lawyer’s bones.

 

In: “Smoke and Steel” (1920)

 

Dois advogados conversando

(Honoré Daumier: artista francês)

 

Os Advogados Sabem Demais

 

Os advogados, Bob, sabem demais.

São íntimos dos livros do velho John Marshall.

Sabem tudo o que a mão de um finado escreveu,

Uma rígida e morta mão e suas articulações decrépitas,

Os ossos dos dedos uma cinza fina e branca.

Os advogados sabem

quão bons são os pensamentos de um homem morto.

 

No encalço dos advogados regateadores, Bob,

Muitos resvaladiços condicionais, poréns e entretantos,

Muitos considerandos relativos a condições antes previstas,

Muitas portas para se entrar e sair.

 

Quando é que os advogados se detêm sobre

O que restou abandonado, Bob?

Um rato, mordiscando o refugo,

Encontraria o suficiente para nele cravar um dente?

 

Por que sempre há um canto secreto

Quando um advogado cobra os seus honorários?

Por que um cavalo de coche fúnebre relincha

Quando transporta um advogado?

 

O trabalho de um pedreiro dirige-se aos céus.

A destreza de um emboçador dura mais que uma fase da lua.

As mãos de um estucador mantêm um cômodo estável.

A terra de um agricultor o deseja de volta.

Intérpretes de canções e idealizadores de peças teatrais

Constroem uma casa onde vento algum sopra.

Os advogados – diga-me por que um cavalo de coche funerário

relincha ao transportar os ossos de um advogado.

 

Em: “Fumaça e Aço” (1920)

 

Referência:

 

SANDBURG, Carl. The lawyers know too much. In: __________. Selected poems of Carl Sandburg. New York, NY: Harcourt, Brace and Company Inc., 1926. p. 199-200.

4 comentários:

  1. Esse poema é cáustico, e tem o seu lado irônico. A verdade é frontal. O poeta é como a lâmina de um punhal. Sendo verdadeiro, não precisa ou não lhe interessa a sutileza. O interessante é que, ainda assim, a sutileza vem permeando o punhal e atravessa o leitor. Belíssimo! Meus cumprimentos J.A Rodrigues. Meus parabéns pelo tesouro encontrado.

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    1. Caro Geraldo: valeu pelo comentário em relação ao poema, sempre atento à mensagem e às sutilezas com que nos chegam as palavras dos poetas. J.A.R.

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  2. Você é um campeão. Vivo elogiando o blog. E, de verdade, estou sempre aprendendo com a leitura e com os seus comentários. Deixo-lhe meus cumprimentos, meu respeito e votos de muito sucesso. Como já lhe disse por essa via, repito, você é raro. É um Ser Sensível por excelência. Muito obrigado!

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