Sandburg fala dos
advogados como uma classe a quem não dedica grande apreço, muito embora reconheça
que muitos dos causídicos dominam de memória as orientações e doutrinas de eminentes
juristas, como as do citado John Marshall (1755-1835), político e advogado,
bastante conhecido por ser um dos fundadores do sistema de garantias
constitucionais dos EUA e o seu quarto Chefe de Justiça.
A propósito, os
versos de Sandburg refletem, já em meados da primeira metade do século passado,
aquilo que se observa quotidianamente na vida norte-americana: uma exacerbada
tendência à litigação judicial por qualquer motivo, tudo em busca de ganhos
financeiros indenizatórios, com paralelos e relevantes honorários desembolsados
aos advogados.
Em suma: por trás de
grandes somas de dinheiro, sempre há um grande séquito de advogados, os quais,
na visão do poeta, nem sempre são íntegros em seu ofício, ofício esse que, por sua
vez, denotaria algo de parasitário.
J.A.R. – H.C.
Carl Sandburg
(1878-1967)
The Lawyers Know Too
Much
The lawyers, Bob,
know too much.
They are chums of the
books of the old John Marshall.
They know it all,
what a dead hand wrote,
A stiff dead hand and
its knuckles crumbling,
The bones of the
fingers a thin white ash.
The lawyers know
a dead man’s thoughts
too well.
In the heels of the
higgling lawyers, Bob,
Too many slippery ifs
and buts and howevers,
Too much hereinbefore
provided whereas,
Too many doors to go
in and out of.
When the lawyers are
through
What is there left,
Bob?
Can a mouse nibble at
it
And find enough to
fasten a tooth in?
Why is there always a
secret singing
When a lawyer cashes
in?
Why does a hearse
horse snicker
Hauling a lawyer
away?
The work of a
bricklayer goes to the blue.
The knack of a mason
outlasts a moon.
The hands of a
plasterer hold a room together.
The land of a farmer
wishes him back again.
Singers of songs and dreamers
of plays
Build a house no wind
blows over.
The lawyers – tell me
why a hearse horse snickers
hauling a lawyer’s
bones.
In: “Smoke and Steel”
(1920)
Dois advogados
conversando
(Honoré Daumier:
artista francês)
Os Advogados Sabem
Demais
Os advogados, Bob,
sabem demais.
São íntimos dos
livros do velho John Marshall.
Sabem tudo o que a
mão de um finado escreveu,
Uma rígida e morta
mão e suas articulações decrépitas,
Os ossos dos dedos
uma cinza fina e branca.
Os advogados sabem
quão bons são os
pensamentos de um homem morto.
No encalço dos
advogados regateadores, Bob,
Muitos resvaladiços condicionais,
poréns e entretantos,
Muitos considerandos relativos
a condições antes previstas,
Muitas portas para se
entrar e sair.
Quando é que os
advogados se detêm sobre
O que restou
abandonado, Bob?
Um rato, mordiscando
o refugo,
Encontraria o
suficiente para nele cravar um dente?
Por que sempre há um
canto secreto
Quando um advogado cobra
os seus honorários?
Por que um cavalo de
coche fúnebre relincha
Quando transporta um
advogado?
O trabalho de um pedreiro
dirige-se aos céus.
A destreza de um emboçador
dura mais que uma fase da lua.
As mãos de um
estucador mantêm um cômodo estável.
A terra de um agricultor
o deseja de volta.
Intérpretes de
canções e idealizadores de peças teatrais
Constroem uma casa
onde vento algum sopra.
Os advogados –
diga-me por que um cavalo de coche funerário
relincha ao transportar
os ossos de um advogado.
Em: “Fumaça e Aço”
(1920)
Referência:
SANDBURG, Carl. The lawyers
know too much. In: __________. Selected poems of Carl Sandburg. New
York, NY: Harcourt, Brace and Company Inc., 1926. p. 199-200.
❁
Esse poema é cáustico, e tem o seu lado irônico. A verdade é frontal. O poeta é como a lâmina de um punhal. Sendo verdadeiro, não precisa ou não lhe interessa a sutileza. O interessante é que, ainda assim, a sutileza vem permeando o punhal e atravessa o leitor. Belíssimo! Meus cumprimentos J.A Rodrigues. Meus parabéns pelo tesouro encontrado.
ResponderExcluirCaro Geraldo: valeu pelo comentário em relação ao poema, sempre atento à mensagem e às sutilezas com que nos chegam as palavras dos poetas. J.A.R.
ExcluirVocê é um campeão. Vivo elogiando o blog. E, de verdade, estou sempre aprendendo com a leitura e com os seus comentários. Deixo-lhe meus cumprimentos, meu respeito e votos de muito sucesso. Como já lhe disse por essa via, repito, você é raro. É um Ser Sensível por excelência. Muito obrigado!
ResponderExcluirMuitíssimo grato pelas palavras. J.A.R.
Excluir