A descrever o falante
pensando sobre “o que o amor significa” – ainda que este incorra numa visão
que, para muitos, possa parecer algo indecorosa, dada a sua explícita homossexualidade –, este poema revela a essência da troca entre o erótico e o meramente
pecuniário, enfatizando, em todo caso, as correlacionadas perdas associadas à
exploração, à dor e à rejeição.
Uma nota: Cole
menciona a Rua Benjamin Stark, em Portland (OR), nos EUA, que, em meados de 2017,
teve a sua seção sudoeste, de 13 (treze) quarteirões, renomeada oficialmente
para “SW Harvey Milk Street”, em homenagem a Harvey Milk (1930-1978), ativista
dos direitos dos homossexuais, cuja biografia restou epilogada em “Milk: a voz
da igualdade”, filme de 2008, tendo o ator Sean Penn no papel principal.
J.A.R. – H.C.
Henri Cole
(n. 1956)
Buddha and the Seven
Tiger Cubs
Holding a varnished
paper parasol,
the gardener – a shy
man off the street –
rakes the white sand,
despite rainfall,
into a pattern
effortlessly neat,
meant to suggest,
only abstractly, the sea,
as eight weathered
stones are meant to depict
Buddha and the hungry
cubs he knows he
must sacrifice
himself to feed. I sit
in a little red
gazebo and think –
as the Zen monks do –
about what love means,
unashamed to have
known it as something
tawdry and elusive from
watching lean
erotic dancers in one
of the dives
on Stark Street,
where I go on lovesick nights.
Even in costume they
look underage,
despite hard
physiques and frozen glances
perfected for the
ugly, floodlit stage,
where they’re
stranded like fish. What enhances
their act is that
we’re an obedient crowd,
rheumy with liquor;
our stinginess
is broken. When one
slings his leg proudly
across the bar rail
where I sit, I kiss
a five dollar bill
and tuck it in his belt.
He’s a black swan
straining its elastic
neck to eat bread
crumbs and nourish itself.
My heart is not
alert; I am transfixed,
loving him as tiger
cubs love their
mother who abandons
them forever.
Em: “The Look of Things”
(1995)
O príncipe Bao Hongli
golpeando um tigre
(Autoria
desconhecida)
Buda e os Sete Filhotes
de Tigre
Segurando um
guarda-sol de papel envernizado,
o jardineiro – um
tímido homem longe das ruas –
varre a areia branca,
apesar da chuva,
em um padrão esmerado
e sem esforço,
a sugerir, apenas
abstratamente, o mar,
tal como oito pedras
desgastadas que buscam representar
o Buda e os famintos filhotes
que ele sabe
que deve sacrificar
para se alimentar. Sento-me
em um pequeno gazebo
vermelho e medito –
como fazem os monges Zen
– sobre o que o amor significa,
sem envergonhar-me de
havê-lo conhecido como algo
de mau gosto e
elusivo ao assistir esbeltos
dançarinos eróticos
em um dos inferninhos
da Rua Benjamin Stark,
onde passo noites perdidas de amor.
Mesmo fantasiados, parecem
menores de idade,
apesar dos físicos rijos
e dos olhares congelados,
perfeitos para o feio
cenário iluminado
onde estão encalhados
como peixes. O que realça
a cena é que somos
uma multidão obediente,
catarrosa pelo licor,
de uma avareza que não se sustenta.
Quando uma perna orgulhosamente
se estende
sobre o parapeito do
bar onde estou sentado, beijo
uma nota de cinco
dólares e a prendo em seu cinto.
Ele é um cisne negro
que estira o seu elástico
pescoço para comer
migalhas de pão e se alimentar.
Meu coração não está alerta;
estou fascinado,
amando-o como os
filhotes de tigre amam sua
mãe, que os abandona
para sempre.
Em: “O Olhar das Coisas” (1995)
Referência:
COLE, Henri. Buddha
and the seven tiger cubs. In: __________. Pierce the skin. Selected
poems: 1982-2007. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2010. p. 49-50.
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