Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de janeiro de 2023

Henri Cole - Buda e os Sete Filhotes de Tigre

A descrever o falante pensando sobre “o que o amor significa” – ainda que este incorra numa visão que, para muitos, possa parecer algo indecorosa, dada a sua explícita homossexualidade –, este poema revela a essência da troca entre o erótico e o meramente pecuniário, enfatizando, em todo caso, as correlacionadas perdas associadas à exploração, à dor e à rejeição.

 

Uma nota: Cole menciona a Rua Benjamin Stark, em Portland (OR), nos EUA, que, em meados de 2017, teve a sua seção sudoeste, de 13 (treze) quarteirões, renomeada oficialmente para “SW Harvey Milk Street”, em homenagem a Harvey Milk (1930-1978), ativista dos direitos dos homossexuais, cuja biografia restou epilogada em “Milk: a voz da igualdade”, filme de 2008, tendo o ator Sean Penn no papel principal.

 

J.A.R. – H.C.

 

Henri Cole

(n. 1956)

 

Buddha and the Seven Tiger Cubs

 

Holding a varnished paper parasol,

the gardener – a shy man off the street –

rakes the white sand, despite rainfall,

into a pattern effortlessly neat,

meant to suggest, only abstractly, the sea,

as eight weathered stones are meant to depict

Buddha and the hungry cubs he knows he

must sacrifice himself to feed. I sit

in a little red gazebo and think –

as the Zen monks do – about what love means,

unashamed to have known it as something

tawdry and elusive from watching lean

erotic dancers in one of the dives

on Stark Street, where I go on lovesick nights.

 

Even in costume they look underage,

despite hard physiques and frozen glances

perfected for the ugly, floodlit stage,

where they’re stranded like fish. What enhances

their act is that we’re an obedient crowd,

rheumy with liquor; our stinginess

is broken. When one slings his leg proudly

across the bar rail where I sit, I kiss

a five dollar bill and tuck it in his belt.

He’s a black swan straining its elastic

neck to eat bread crumbs and nourish itself.

My heart is not alert; I am transfixed,

loving him as tiger cubs love their

mother who abandons them forever.

 

Em: “The Look of Things” (1995)

 

O príncipe Bao Hongli golpeando um tigre

(Autoria desconhecida)

 

Buda e os Sete Filhotes de Tigre

 

Segurando um guarda-sol de papel envernizado,

o jardineiro – um tímido homem longe das ruas –

varre a areia branca, apesar da chuva,

em um padrão esmerado e sem esforço,

a sugerir, apenas abstratamente, o mar,

tal como oito pedras desgastadas que buscam representar

o Buda e os famintos filhotes que ele sabe

que deve sacrificar para se alimentar. Sento-me

em um pequeno gazebo vermelho e medito –

como fazem os monges Zen – sobre o que o amor significa,

sem envergonhar-me de havê-lo conhecido como algo

de mau gosto e elusivo ao assistir esbeltos

dançarinos eróticos em um dos inferninhos

da Rua Benjamin Stark, onde passo noites perdidas de amor.

 

Mesmo fantasiados, parecem menores de idade,

apesar dos físicos rijos e dos olhares congelados,

perfeitos para o feio cenário iluminado

onde estão encalhados como peixes. O que realça

a cena é que somos uma multidão obediente,

catarrosa pelo licor, de uma avareza que não se sustenta.

Quando uma perna orgulhosamente se estende

sobre o parapeito do bar onde estou sentado, beijo

uma nota de cinco dólares e a prendo em seu cinto.

Ele é um cisne negro que estira o seu elástico

pescoço para comer migalhas de pão e se alimentar.

Meu coração não está alerta; estou fascinado,

amando-o como os filhotes de tigre amam sua

mãe, que os abandona para sempre.

 

Em: “O Olhar das Coisas” (1995)

 

Referência:

 

COLE, Henri. Buddha and the seven tiger cubs. In: __________. Pierce the skin. Selected poems: 1982-2007. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2010. p. 49-50.

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