Em terras
norte-americanas, tudo se resume ao mais franco jogo capitalista, mesmo entre
os índios em sua reserva: Alexie, com versos pejados de sarcasmo, mostra-nos
como se processa o extermínio sistemático dos povos nativos dos EUA e de sua
cultura – algo que se assemelha ao que ocorre em terras de Pindorama, onde o
próprio governo permite e/ou autoriza a lavra mineralógica em terras indígenas.
Note-se que o poeta
nomeia, não sem motivos, “Buffalo Bill” a figura que leva para as regiões limítrofes
da reserva indígena os elementos da vida dita “civilizada” – penhores e,
posteriormente, museu de exposição de peças indígenas, os quais se agregam à loja
de bebidas já ali instalada –, tudo como forma de sublinhar os profundo mal
provocado por Buffalo Bill (1846-1917) naquelas paragens, ele mesmo um aventureiro
branco que matou milhares de bisões e búfalos em curto espaço de tempo, o que deu justos motivos à alcunha que lhe foi atribuída.
J.A.R. – H.C.
Sherman Alexie
(n. 1966)
Evolution
Buffalo Bill opens a
pawn shop on the reservation
right across the
border from the liquor store
and he stays open 24
hours a day, 7 days a week
and the Indians come
running in with jewelry
television sets, a
VCR, a full-lenght beaded buckskin outfit
it took Inez Muse 12
years to finish. Buffalo Bill
takes everything the
Indians have to offer, keeps it
all catalogues and
filed in a storage room. The Indians
pawn their hands,
saving the thumbs for last, they pawn
their skeletons,
falling endlessly from the skin
and when the last
Indian has pawned everything
but his heart,
Buffalo Bill takes that for twenty bucks
closes up the pawn
shop, paints a new sign over the old
calls his venture THE
MUSEUM OF NATIVE AMERICAN
CULTURES
charges the Indians
five bucks a head to enter.
A conquista da
pradaria
(Irving R. Bacon:
pintor norte-americano)
Evolução
Buffalo Bill abre uma
loja de penhores na reserva,
do outro lado da fronteira,
a pouca distância da loja de bebidas,
que permanece aberta
24 horas por dia, 7 dias por semana;
e os índios chegam
correndo com joias,
aparelhos de
televisão, um videocassete, uma roupa de pele
de gamo, cheia de
contas,
que Inez Muse levou
12 anos para terminar. Buffalo Bill
pega todas as coisas
que os índios têm a oferecer, mantendo-as
catalogadas e arquivadas
num depósito. Os índios
penhoram suas mãos,
guardando os polegares para o fim;
penhoram
seus esqueletos, fracionando-os
a partir da pele
e, quando o último
índio houver penhorado tudo
menos o seu coração,
Buffalo Bill o toma por vinte dólares,
fecha a loja de
penhores, pinta um novo letreiro sobre o antigo,
chama seu
empreendimento O MUSEU DAS CULTURAS
NATIVAS AMERICANAS
e passa a cobrar aos
índios cinco dólares por cabeça para entrar.
Referência:
ALEXIE, Sherman. Evolution. In: __________. The business of fancydancing: stories and poems. Brooklyn, NY: Hanging Looose Press, 1992. p. 48.
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