Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Sherman Alexie - Evolução

Em terras norte-americanas, tudo se resume ao mais franco jogo capitalista, mesmo entre os índios em sua reserva: Alexie, com versos pejados de sarcasmo, mostra-nos como se processa o extermínio sistemático dos povos nativos dos EUA e de sua cultura – algo que se assemelha ao que ocorre em terras de Pindorama, onde o próprio governo permite e/ou autoriza a lavra mineralógica em terras indígenas.

 

Note-se que o poeta nomeia, não sem motivos, “Buffalo Bill” a figura que leva para as regiões limítrofes da reserva indígena os elementos da vida dita “civilizada” – penhores e, posteriormente, museu de exposição de peças indígenas, os quais se agregam à loja de bebidas já ali instalada –, tudo como forma de sublinhar os profundo mal provocado por Buffalo Bill (1846-1917) naquelas paragens, ele mesmo um aventureiro branco que matou milhares de bisões e búfalos em curto espaço de tempo, o que deu justos motivos à alcunha que lhe foi atribuída.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sherman Alexie

(n. 1966)

 

Evolution

 

Buffalo Bill opens a pawn shop on the reservation

right across the border from the liquor store

and he stays open 24 hours a day, 7 days a week

 

and the Indians come running in with jewelry

television sets, a VCR, a full-lenght beaded buckskin outfit

it took Inez Muse 12 years to finish. Buffalo Bill

 

takes everything the Indians have to offer, keeps it

all catalogues and filed in a storage room. The Indians

pawn their hands, saving the thumbs for last, they pawn

 

their skeletons, falling endlessly from the skin

and when the last Indian has pawned everything

but his heart, Buffalo Bill takes that for twenty bucks

 

closes up the pawn shop, paints a new sign over the old

calls his venture THE MUSEUM OF NATIVE AMERICAN

CULTURES

charges the Indians five bucks a head to enter.

 

A conquista da pradaria

(Irving R. Bacon: pintor norte-americano)

 

Evolução

 

Buffalo Bill abre uma loja de penhores na reserva,

do outro lado da fronteira, a pouca distância da loja de bebidas,

que permanece aberta 24 horas por dia, 7 dias por semana;

 

e os índios chegam correndo com joias,

aparelhos de televisão, um videocassete, uma roupa de pele

de gamo, cheia de contas,

que Inez Muse levou 12 anos para terminar. Buffalo Bill

 

pega todas as coisas que os índios têm a oferecer, mantendo-as

catalogadas e arquivadas num depósito. Os índios

penhoram suas mãos, guardando os polegares para o fim;

penhoram

 

seus esqueletos, fracionando-os a partir da pele

e, quando o último índio houver penhorado tudo

menos o seu coração, Buffalo Bill o toma por vinte dólares,

 

fecha a loja de penhores, pinta um novo letreiro sobre o antigo,

chama seu empreendimento O MUSEU DAS CULTURAS

NATIVAS AMERICANAS

e passa a cobrar aos índios cinco dólares por cabeça para entrar.

 

Referência:

 

ALEXIE, Sherman. Evolution. In: __________. The business of fancydancing: stories and poems. Brooklyn, NY: Hanging Looose Press, 1992. p. 48.

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