Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Horácio Costa - Escrito na Aula de Jacques Derrida

Neste poema que teria sido escrito durante uma hipotética aula do teorizador da abordagem da “desconstrução” – o filósofo franco-argelino Jaques Derrida (1930-2004) –, bastante empregada para se entender as interconexões entre um texto e seus significados –, o poeta divaga sugestivamente sobre o próprio ato da criação literária e os elementos provisionais que emolduram o contexto, procurando decompô-lo a partir do próprio arsenal terminológico do qual, costumeiramente, Derrida lança mão.

 

Diante da natureza disseminadora do texto, novos contextos assomam e, daí, novas leituras: se o que se lê no poema em questão possa parecer umbrático ou que quer que seja, frise-se o elemento contingente de tal entendimento, o qual, no futuro, segundo tal perspectiva, muito provavelmente se modificará.

 

J.A.R. – H.C.

 

Horácio Costa

(n. 1954)

 

Escrito na Aula de Jacques Derrida

 

Vamos.

Conversemos com a eternidade

deste espaço em branco.

Nenhum mallarmé rompe a linha

da língua na página

que flui como uma norma.

Deixemos pro futuro um ambiente

no papel fechado:

janelas neogóticas, alunos novoingleses,

um mot neolatino que habita (1)

novas traduções em expansão.

O filósofo disserta infindavelmente

proliferando intenções.  O som da voz

bate e reverbera nos cristais

e encontra seu limite nos bordes deste

plano.  Croscruza o branco.

Lá fora uma cidade quase dorme depois

da chuva.  A alteridade é percebê-la

em stillness, enquanto avança a noite (2)

e se corrompem as palavras.

 

Na quietude

(Lisa Mann: pintora norte-americana)

 

Notas:

 

1. Mot: palavra, vocábulo – substantivo masculino em francês.

2. Stillness: quietude, tranquilidade – substantivo em inglês.

 

Referência:

 

COSTA, Horácio. Escrito na aula de Jacques Derrida. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio & Hipocampo, 1992. p. 135.

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