Neste poema que teria
sido escrito durante uma hipotética aula do teorizador da abordagem da “desconstrução”
– o filósofo franco-argelino Jaques Derrida (1930-2004) –, bastante empregada para
se entender as interconexões entre um texto e seus significados –, o poeta divaga
sugestivamente sobre o próprio ato da criação literária e os elementos
provisionais que emolduram o contexto, procurando decompô-lo a partir do
próprio arsenal terminológico do qual, costumeiramente, Derrida lança mão.
Diante da natureza
disseminadora do texto, novos contextos assomam e, daí, novas leituras: se o
que se lê no poema em questão possa parecer umbrático ou que quer que seja, frise-se
o elemento contingente de tal entendimento, o qual, no futuro, segundo tal
perspectiva, muito provavelmente se modificará.
J.A.R. – H.C.
Horácio Costa
(n. 1954)
Escrito na Aula de
Jacques Derrida
Vamos.
Conversemos com a
eternidade
deste espaço em
branco.
Nenhum mallarmé rompe
a linha
da língua na página
que flui como uma
norma.
Deixemos pro futuro
um ambiente
no papel fechado:
janelas neogóticas,
alunos novoingleses,
um mot
neolatino que habita (1)
novas traduções em
expansão.
O filósofo disserta
infindavelmente
proliferando intenções. O som da voz
bate e reverbera nos
cristais
e encontra seu limite
nos bordes deste
plano. Croscruza o branco.
Lá fora uma cidade
quase dorme depois
da chuva. A alteridade é percebê-la
em stillness,
enquanto avança a noite (2)
e se corrompem as
palavras.
Na quietude
(Lisa Mann: pintora
norte-americana)
Notas:
1. Mot: palavra, vocábulo – substantivo masculino em francês.
2. Stillness: quietude, tranquilidade – substantivo em inglês.
Referência:
COSTA, Horácio. Escrito na aula de Jacques Derrida. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio & Hipocampo, 1992. p. 135.
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