Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Gilberto Mendonça Teles - Linguagem

A metapoética é uma constante na lírica do autor goiano, corolário de um ofício que se prende às palavras para retratar o que “dói fundo” no olhar, mesmo que sob o manto do silêncio, de forma a perscrutar uma “invisível” sintaxe, além das normas do idioma, presumivelmente assente no sulco da linguagem.

 

Tudo porque a estrutura do idioma desgasta os “dedos” e os “segredos” do ente lírico, a cada vez que se propõe acercar-se com maior esmero da poesia. Daí porque o falante se dedica a dar passos numa “vereda serena”, fomentando construções imaginárias, inventivas, num “cio” fecundo, por meio do qual tenciona reverberar a “voz perene, inicial”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gilberto Mendonça Teles

(n. 1931)

 

Linguagem

 

Eu caminho seguro entre palavras

e páginas desertas. Nas retinas:

sonhos de coisas claras e a lição

de outras coisas que invento

para o só testemunho

de minha construção

imaginária

de pedra

sobre

pedra

e cimento

e silêncio.

 

Da sintaxe invisível a certeza

e o desdobrar tão limpo das imagens

na vereda serena que dói fundo

no olhar preciso e vago consumindo

seu faro entre palavras.

Na estrutura

da língua se desgasta o meu segredo,

se desgastam meus dedos, a mais pura

moeda que circula desprezível

no cio deste ofício de buscar-te

na usura de ti,

nudez segura,

absoluta canção

e voz perene,

inicial.

 

Em: “Sintaxe Invisível” (1967)

 

A Linguagem da Pedra

(M. F. Husain: artista indiano)

 

Referência:

 

TELES, Gilberto Mendonça. Linguagem. In: __________. Melhores poemas de Gilberto Mendonça Teles. Seleção de Luiz Busatto. 4. ed. revista, ampliada e atualizada. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 61-62. (Coleção ‘Melhores Poemas’)

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