A metapoética é uma
constante na lírica do autor goiano, corolário de um ofício que se prende às
palavras para retratar o que “dói fundo” no olhar, mesmo que sob o manto do silêncio,
de forma a perscrutar uma “invisível” sintaxe, além das normas do idioma, presumivelmente
assente no sulco da linguagem.
Tudo porque a estrutura
do idioma desgasta os “dedos” e os “segredos” do ente lírico, a cada vez que se
propõe acercar-se com maior esmero da poesia. Daí porque o falante se dedica a dar
passos numa “vereda serena”, fomentando construções imaginárias, inventivas,
num “cio” fecundo, por meio do qual tenciona reverberar a “voz perene, inicial”.
J.A.R. – H.C.
Gilberto Mendonça
Teles
(n. 1931)
Linguagem
Eu caminho seguro
entre palavras
e páginas desertas.
Nas retinas:
sonhos de coisas
claras e a lição
de outras coisas que
invento
para o só testemunho
de minha construção
imaginária
de pedra
sobre
pedra
e cimento
e silêncio.
Da sintaxe invisível
a certeza
e o desdobrar tão
limpo das imagens
na vereda serena que
dói fundo
no olhar preciso e
vago consumindo
seu faro entre
palavras.
Na estrutura
da língua se desgasta
o meu segredo,
se desgastam meus
dedos, a mais pura
moeda que circula
desprezível
no cio deste ofício
de buscar-te
na usura de ti,
nudez segura,
absoluta canção
e voz perene,
inicial.
Em: “Sintaxe
Invisível” (1967)
A Linguagem da Pedra
(M. F. Husain:
artista indiano)
Referência:
TELES, Gilberto
Mendonça. Linguagem. In: __________. Melhores poemas de Gilberto Mendonça
Teles. Seleção de Luiz Busatto. 4. ed. revista, ampliada e atualizada. São
Paulo, SP: Global, 2007. p. 61-62. (Coleção ‘Melhores Poemas’)
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