Este poema sumaria a
história de vida de grande parte das mulheres em todo o mundo (sobretudo das
mulheres negras), dos inúmeros afazeres que lhes são atribuídos no âmbito do
lar, muitas vezes sem o devido reconhecimento, quer em termos de bem-querença,
quer mesmo sob o ponto de vista financeiro – porque se trata de uma ocupação
pouco valorizada, invariavelmente de limitada remuneração.
Apenas as belezas
gratuitas da natureza podem ser acessadas por elas, num dos poucos momentos de
alegria e de prazer que as afastam dessa vida de “autômatas”, de “máquinas”,
dando um tempo em suas estafantes tarefas, permitindo-lhes manter a sanidade e
a saúde. Com efeito, submetidas a esse regime, a essa árdua rotina, pouco se
avançou em relação às condições de servilismo de outros infames tempos.
J.A.R. – H.C.
Maya Angelou
(1928-2014)
Woman Work
I’ve got the children
to tend
The clothes to mend
The floor to mop
The food to shop
Then the chicken to
fry
The baby to dry
I got company to feed
The garden to weed
I’ve got the shirts
to press
The tots to dress
The cane to be cut
I gotta clean up this
hut
Then see about the
sick
And the cotton to
pick.
Shine on me, sunshine
Rain on me, rain
Fall softly, dewdrops
And cool my brow
again.
Storm, blow me from
here
With your fiercest
wind
Let me float across
the sky
Till I can rest
again.
Fall gently,
snowflakes
Cover me with white
Cold icy kisses and
Let me rest tonight.
Sun, rain, curving
sky
Mountain, oceans,
leaf and stone
Star shine, moon glow
You’re all that I can
call my own.
In: “And Still I Rise”
(1978)
Sem título
(Jahbulani Ori:
artista jamaicano)
Trabalho de Mulher
Tenho as crianças
para cuidar
As roupas para remendar
O chão para esfregar
A comida para comprar
Depois, o frango para
fritar
O bebê para enxugar
Tenho visitas para
alimentar
O jardim para mondar
Tenho camisas para
passar
Os pirralhos para
vestir
A cana a ser cortada
Tenho que limpar esta
cabana
Depois, cuidar dos
doentes
E o algodão para
colher.
Brilhe sobre mim, luz
do sol
Chova sobre mim,
chuva
Caiam suavemente,
gotas de orvalho
E refresquem minha fronte
de novo.
Tempestade, sopre-me
daqui
Com o seu mais
indômito vento
Leve-me a flutuar pelo
céu
Até que eu possa
descansar de novo.
Caiam suavemente,
flocos de neve
Cubram-me de branco
Frios beijos gélidos
e
Deixem-me descansar
esta noite.
Sol, chuva, abóbada
celeste
Montanhas, oceanos,
folhas e pedras
Brilho das estrelas,
clarão da lua
Sois tudo quanto
posso chamar de meu.
Em: “Ainda Assim Eu me Levanto” (1978)
Referência:
ANGELOU, Maya. Woman
work. In: __________. The complete collected poems of Maya Angelou. New
York, NY: Random House, 1994. p. 153-154.
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