Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Maya Angelou - Trabalho de Mulher

Este poema sumaria a história de vida de grande parte das mulheres em todo o mundo (sobretudo das mulheres negras), dos inúmeros afazeres que lhes são atribuídos no âmbito do lar, muitas vezes sem o devido reconhecimento, quer em termos de bem-querença, quer mesmo sob o ponto de vista financeiro – porque se trata de uma ocupação pouco valorizada, invariavelmente de limitada remuneração.

 

Apenas as belezas gratuitas da natureza podem ser acessadas por elas, num dos poucos momentos de alegria e de prazer que as afastam dessa vida de “autômatas”, de “máquinas”, dando um tempo em suas estafantes tarefas, permitindo-lhes manter a sanidade e a saúde. Com efeito, submetidas a esse regime, a essa árdua rotina, pouco se avançou em relação às condições de servilismo de outros infames tempos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Maya Angelou

(1928-2014)

 

Woman Work

 

I’ve got the children to tend

The clothes to mend

The floor to mop

The food to shop

Then the chicken to fry

The baby to dry

I got company to feed

The garden to weed

I’ve got the shirts to press

The tots to dress

The cane to be cut

I gotta clean up this hut

Then see about the sick

And the cotton to pick.

 

Shine on me, sunshine

Rain on me, rain

Fall softly, dewdrops

And cool my brow again.

 

Storm, blow me from here

With your fiercest wind

Let me float across the sky

Till I can rest again.

 

Fall gently, snowflakes

Cover me with white

Cold icy kisses and

Let me rest tonight.

 

Sun, rain, curving sky

Mountain, oceans, leaf and stone

Star shine, moon glow

You’re all that I can call my own.

 

In: “And Still I Rise” (1978)

 

Sem título

(Jahbulani Ori: artista jamaicano)

 

Trabalho de Mulher

 

Tenho as crianças para cuidar

As roupas para remendar

O chão para esfregar

A comida para comprar

Depois, o frango para fritar

O bebê para enxugar

Tenho visitas para alimentar

O jardim para mondar

Tenho camisas para passar

Os pirralhos para vestir

A cana a ser cortada

Tenho que limpar esta cabana

Depois, cuidar dos doentes

E o algodão para colher.

 

Brilhe sobre mim, luz do sol

Chova sobre mim, chuva

Caiam suavemente, gotas de orvalho

E refresquem minha fronte de novo.

 

Tempestade, sopre-me daqui

Com o seu mais indômito vento

Leve-me a flutuar pelo céu

Até que eu possa descansar de novo.

 

Caiam suavemente, flocos de neve

Cubram-me de branco

Frios beijos gélidos e

Deixem-me descansar esta noite.

 

Sol, chuva, abóbada celeste

Montanhas, oceanos, folhas e pedras

Brilho das estrelas, clarão da lua

Sois tudo quanto posso chamar de meu.

 

Em: “Ainda Assim Eu me Levanto” (1978)

 

Referência:

 

ANGELOU, Maya. Woman work. In: __________. The complete collected poems of Maya Angelou. New York, NY: Random House, 1994. p. 153-154.

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