Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Hugo von Hofmannsthal - Tercetos sobre a Efemeridade

A seção abaixo é a primeira das quatro que compõem o poema completo intitulado “Tercetos sobre a Efemeridade”, de Hofmannsthal: reflete o poeta sobre a transitoriedade das coisas deste mundo de aparências, movediço e muitas vezes ilógico, numa espiral que se satisfaz em replicar os genes entre sequentes gerações.

 

Nessa moldagem de impermanência, o falante percebe a sua própria existência em seus falecidos antepassados, estando com eles sem ainda ser, no sentido pleno do termo. E nisto consiste a constância da vida: perceber em si próprio, mesmo em seu corpo – como num fio de cabelo –, o liame que prende cada um à sua estirpe, elo resistente que lança reptos ao transitório, pretextando eternidades.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hugo von Hofmannsthal

(1874-1929)

 

Terzinen über Vergänglichkeit

 

Noch spür ich ihren Atem auf den Wangen:

Wie kann das sein, daß diese nahen Tage

Fort sind, für immer fort, und ganz vergangen?

 

Dies ist ein Ding, das keiner voll aussinnt,

Und viel zu grauenvoll, als daß man klage:

Daß alles gleitet und vorüberrinnt.

 

Und daß mein eignes Ich, durch nichts gehemmt,

Herüberglitt aus einem kleinen Kind

Mir wie ein Hund unheimlich stumm und fremd.

 

Dann: daß ich auch vor hundert Jahren war

Und meine Ahnen, die im Totenhemd,

Mit mir verwandt sind wie mein eignes Haar,

 

So eins mit mir als wie mein eignes Haar.

 

O Cemitério de Pronoia

às proximidades de Náuplia

(Carl Rottmann: pintor alemão)

 

Tercetos sobre a Efemeridade

 

Ainda sinto o seu alento em minha face:

Como é possível crer que tenha já passado

O dia que passou e para sempre passe?

 

É algo que entender não pode a nossa mente

E é terrível demais para ser lamentado:

Que tudo flua em vão e acabe de repente,

 

E que o meu próprio ego seja a projeção

De uma criança que houve em mim anteriormente

Tão muda para mim, e alheia, como um cão.

 

E que eu já estava ali, há um século, sem sê-Io,

E os meus antepassados, nos sepulcros, são

Comigo tão unidos como o meu cabelo,

 

Tão parte de mim mesmo como o meu cabelo.

 

Referência:

 

HOFMANNSTHAL, Hugo von. Terzinen über vergänglichkeit / Tercetos sobre a efemeridade. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Seleção, tradução e introdução). Irmãos germanos: poemas de diversos autores. Florianópolis, SC: Noa Noa, 1992. Em alemão e em português: p. 24.

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