Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Aloysio de Castro - Ano Bom

De desventuras políticas, de guerras, de pandemias já estamos saturados: que o Ano Novo reverta essa tendência, atenuando (melhor seria dizer “extinguindo”) esse repertório odioso de insanidades em que o mundo parece haver se metido, ao mesmo tempo que assumamos as responsabilidades de uma convivência serena, sempre pronta a buscar a concórdia, para que não incorramos em mais desventuras, num tropel de misérias tendentes a assediar irreversivelmente as nossas já tão instáveis existências terrenas.

 

Em discurso poético, seria mais ou menos o que o poeta carioca requesta no soneto abaixo: dádivas, promessas, tempos auspiciosos, prosperidade. Não a morte, mas o renascimento, a eclosão de uma nova era; não os desatinos de um aprendiz de feiticeiro, senão a honestidade no agir segundo o parâmetro insubornável da ética e da verdade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Aloysio de Castro

(1881-1959)

 

Ano Bom

 

Ano Bom, nas promessas sê propício,

E dadivoso os dons e os bens derrama!

Dá-lhe todas as graças e que a chama

De um grande amor lhe seja o novo auspício.

 

Que cada dia, em férvido epinício,

Eu lhe entoe o louvor em toda a gama,

E ela sinta que a glória de quem ama

É vencer entre pena e sacrifício.

 

Floresça em primavera, no ano inteiro,

Sua alma como esplêndido jardim,

E que deste janeiro a outro janeiro

 

Seu lindo rosto se abra em flor, assim

Como hoje, em que se abriu alvissareiro

Seu primeiro sorriso para mim!

 

Prado com vicejantes flores silvestres

(Natalya Savenkova: pintora russa)

 

Referência:

 

CASTRO, Aloysio de. Ano bom. In: __________. Poesias completas. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi, 1951. p. 119.


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