De desventuras
políticas, de guerras, de pandemias já estamos saturados: que o Ano Novo reverta
essa tendência, atenuando (melhor seria dizer “extinguindo”) esse repertório
odioso de insanidades em que o mundo parece haver se metido, ao mesmo tempo que
assumamos as responsabilidades de uma convivência serena, sempre pronta a
buscar a concórdia, para que não incorramos em mais desventuras, num tropel de
misérias tendentes a assediar irreversivelmente as nossas já tão instáveis
existências terrenas.
Em discurso poético, seria
mais ou menos o que o poeta carioca requesta no soneto abaixo: dádivas,
promessas, tempos auspiciosos, prosperidade. Não a morte, mas o renascimento, a
eclosão de uma nova era; não os desatinos de um aprendiz de feiticeiro, senão a
honestidade no agir segundo o parâmetro insubornável da ética e da verdade.
J.A.R. – H.C.
Aloysio de Castro
(1881-1959)
Ano Bom
Ano Bom, nas
promessas sê propício,
E dadivoso os dons e
os bens derrama!
Dá-lhe todas as
graças e que a chama
De um grande amor lhe
seja o novo auspício.
Que cada dia, em
férvido epinício,
Eu lhe entoe o louvor
em toda a gama,
E ela sinta que a glória
de quem ama
É vencer entre pena e
sacrifício.
Floresça em
primavera, no ano inteiro,
Sua alma como esplêndido
jardim,
E que deste janeiro a
outro janeiro
Seu lindo rosto se
abra em flor, assim
Como hoje, em que se
abriu alvissareiro
Seu primeiro sorriso
para mim!
Prado com vicejantes flores
silvestres
(Natalya Savenkova: pintora
russa)
Referência:
CASTRO, Aloysio de.
Ano bom. In: __________. Poesias completas. Rio de Janeiro: Casa Editora
Vecchi, 1951. p. 119.
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