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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Frank O’Hara - Poema

Num tom confessional, a discorrerem sobre sentimentos que podem ter provocado desgaste emocional ao ente lírico, as linhas deste poema retratam certa renúncia ao controle absoluto de humores e de emoções tóxicas, como o ódio e as ofensas, tendo eles, de qualquer maneira, algum potencial para serem canalizados a algo positivo.

 

Isto porque não se descuida de que o amor e o ódio operam em linhas conexas, sendo coabitáveis numa mesma criatura, sem prejuízo de que outros sentimentos, como a mágoa, sigam a suscitar desconforto naqueles que se julgam mais atingidos: com efeito, quando o conflito é legítimo, o melhor a fazer é mesmo “discutir a relação”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Frank O’Hara

(1926-1966)

 

Poem

 

Hate is only one of many responses

true, hurt and hate go hand in hand

but why be afraid of hate, it is only there

 

think of filth, is it really awesome

neither is hate

don’t be shy of unkindness, either

it’s cleansing and allows you to be direct

 

like an arrow that feels something

out and out meanness, too, lets love breathe

you don’t have to fight off getting in too deep

you can always get out if you’re not too scared

 

an ounce of prevention’s

enough to poison the heart

don’t think of others

until you have thought of yourself, are true

 

all of these things, if you feel them

will be graced by a certain reluctance

and turn into gold

 

if felt by me, will be smilingly deflected

by your mysterious concern

 

Amor e Ódio

(Elena DeRosa: artista italiana)

 

Poema

 

Ódio é apenas uma de muitas reações

verdadeiras, ofensa e ódio andam de mãos dadas,

mas por que temer o ódio, ele existe – e pronto

 

pense no lixo, ele é de fato terrível

e assim é o ódio

não se envergonhe da crueldade, também

em processo de limpeza, e que lhe permite ser direta

 

qual flecha que sente alguma coisa

francamente torpe, deixe o amor respirar

você não terá de repelir se for muito ao fundo

sempre poderá sair se não estiver assustado

 

uma pitada de cautela

basta para envenenar o coração

não pense nos outros

antes de pensar em si mesmo, são legítimas

 

todas essas coisas, se você as sentir

será agraciado por certa relutância

e transformando em ouro

 

se sentindo por mim, sorridentemente desviado

por sua misteriosa preocupação

 

Referências:

 

Em Inglês

 

O’HARA, Frank. Poem. In: __________. Collected poems of Frank O’Hara. Edited by Donald Allen with an introduction by John Ashbery. First paperback printing. Berkeley (CA): University of California Press, 1995. p. 333-334.

 

Em Português

 

O’HARA, Frank. Poema. Tradução de Hélio Pólvora. In: KOSTELANETZ, Richard. (Org.). Viagem à literatura americana contemporânea. Tradução de Jaime Bernardes et alii. Rio de Janeiro, RJ: Nórdica, 1985. p. 283.

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