Um poema de
autoafirmação, de amor próprio de uma mulher – negra no caso, tantas vezes
discriminada, sobretudo no mercado de trabalho, no qual subsiste no “pior dos
mundos possíveis”, sendo negra e mulher: seu “mistério interior” a transforma
num fenômeno de atração, numa “colmeia” enxameada de pretendentes à volta.
E note-se que a
falante reconhece nem mesmo ter o porte ou o encanto de uma modelo. E nem
necessita de tais predicados, diante dos muitos atrativos, melhor dizendo,
atributos físicos e comportamentais descritos ao longo das quatro estrofes do
poema: não há por que abaixar a cabeça, pois a honradez que a falante nutre por
si mesma supera quaisquer adversidades!
J.A.R. – H.C.
Maya Angelou
(1928-2014)
Phenomenal Woman
Pretty women wonder
where my secret lies.
I’m not cute or built
to suit a fashion model’s size
But when I start to
tell them,
They think I’m
telling lies.
I say,
It’s in the reach of
my arms,
The span of my hips,
The stride of my
step,
The curl of my lips.
I’m a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That’s me.
I walk into a room
Just as cool as you
please,
And to a man,
The fellows stand or
Fall down on their
knees.
Then they swarm
around me,
A hive of honey bees.
I say,
It’s the fire in my
eyes,
And the flash of my
teeth,
The swing in my
waist,
And the joy in my
feet.
I’m a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That’s me.
Men themselves have
wondered
What they see in me.
They try so much
But they can’t touch
My inner mystery.
When I try to show
them,
They say they still
can’t see.
I say,
It’s in the arch of
my back,
The sun of my smile,
The ride of my
breasts,
The grace of my
style.
I’m a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That’s me.
Now you understand
Just why my head’s
not bowed.
I don’t shout or jump
about
Or have to talk real
loud.
When you see me
passing,
It ought to make you
proud.
I say,
It’s in the click of
my heels,
The bend of my hair,
The palm of my hand,
The need for my care.
‘Cause I’m a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That’s me.
In: “And Still I
Rise” (1978)
Mulher com bandolim
(Pablo Picasso:
pintor espanhol)
Mulher Fenomenal
Mulheres bonitas se
perguntam onde está o meu segredo.
Não sou bela nem
tenho o porte de uma modelo,
Mas quando começo a
lhes falar,
Pensam que estou a
contar mentiras.
Digo-lhes
Que está no alcance
de meus braços,
Na largura de meus
quadris,
No ritmo de meus
passos,
No traçado sinuoso de
meus lábios.
Sou uma mulher
De talhe fenomenal.
Mulher fenomenal.
Essa sou eu.
Entro num recinto
Tão calma quanto se
queira,
E, unanimemente,
Os caras ficam de pé
ou
Caem de joelhos.
Logo enxameiam à
minha volta,
Uma colmeia de
abelhas.
Digo-lhes
Que está no fogo de
meus olhos,
No brilho de meus
dentes,
Na cadência de minha
cintura,
Na alegria de meus
pés.
Sou uma mulher
De talhe fenomenal.
Mulher fenomenal.
Essa sou eu.
Os próprios homens
têm-se perguntado
O que veem em mim.
Muito eles tentam,
Mas não conseguem
alcançar
Meu mistério interior.
Quando lhes tento
mostrar,
Afirmam que ainda não
são capazes de vê-lo.
Digo-lhes
Que está na curvatura
de minhas costas,
No sol de meu
sorriso,
Na ondulação de meus
seios,
Na graça de meu estilo.
Sou uma mulher
De talhe fenomenal.
Mulher fenomenal.
Essa sou eu.
Agora todos podem
compreender
Exatamente por que
minha cabeça não se abaixa.
Não grito nem me
exalto
Nem tenho que falar
bem alto.
Quando me virem
passar,
Todos deveriam se sentir
orgulhosos.
Digo-lhes
que está no estalido
de meus saltos,
no anelado de meus
cabelos,
Na palma de minha
mão,
Na necessidade de
meus cuidados.
Porque sou uma mulher
De talhe fenomenal.
Mulher fenomenal.
Essa sou eu.
Em: “Ainda Assim Eu me Levanto” (1978)
Referência:
ANGELOU, Maya. Phenomenal
woman. In: __________. The complete collected poems of Maya Angelou. New
York, NY: Random House, 1994. p. 130-131.
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