Fernandes graceja com
o objeto de estudo de um dos ramos da filosofia, a saber, a epistemologia, dedicada
a perscrutar a natureza, as etapas e os limites do conhecimento verdadeiro ou
científico – “episteme”, segundo os gregos –, em oposição às meras opiniões,
juízos ou crenças – nomeadas pelos helenos como “doxa”.
Metaconhecimento, a
epistemologia não é produto que se possa “comprar em supermercado”, pois que
teoria da ciência, incluindo os fundamentos, a validade e a consistência lógica
das teorias levantadas. E é aqui que, ao propor um “corte epistemológico” –
mudança radical de paradigma –, o epistemólogo, segundo o poeta, faria “sangrar”
em tudo que é “lógico” aquilo que já se estabeleceu como “norma”, suscitando o
aparecimento de muito “pus”, até que o corpo da ciência possa “sarar” e,
eventualmente, “assimilar” a cissura, migrando então a um novo paradigma.
J.A.R. – H.C.
Millôr Fernandes
(1923-2012)
Metafísica do
Conhecimento
O corte
epistemológico –
já foi epustemológico
–
sangra em tudo que é
lógico.
O epistemologista
sabe
que só sabe que não
sabe,
pois conhecer o
conhecimento
é achar que sopro é
vento.
O epistemólogo
diferencia
o que está do que é
e do que existe;
não é triste?
Não é fácil, no dia a
dia,
comprar
epistemologia:
não tem no
supermercado
nem no banco que está
a seu lado.
Episteme totêmica
e
antropomórfica ao século XXI
(Jordi Yuste: artista
catalão)
Referência:
FERNANDES, Millôr. Metafísica do conhecimento. In: __________. Poemas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. p. 21. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v. 228)
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