Nestes versos, a
poetisa paulista plasma em palavras aquilo que se depreende das enigmáticas – e
por vezes excêntricas – telas do artista franco-alemão (v. aqui),
em grande parte a expressar valores ou ideias do cânone surrealista, ao qual
veio a aderir depois que se estabeleceu em Paris (FR), metrópole onde também
viveu os seus últimos dias.
Pássaros com mãos
humanas e a se beijar, cenas de bárbaros marchando para o oeste, representações
invulgares de ninfas ou de elefantes, e tantas outras criações denotando nítidas
técnicas experimentais que poderiam ser tomadas como oriundas de um espírito profundamente
irrequieto, face ao qual a voz lírica se pergunta, como se do próprio artista fosse: “Que micróbios atravessam meu temperamento?”
J.A.R. – H.C.
Maria Lúcia Dal Farra
(n. 1944)
Max Ernst
A memória de Robert
Dierckx
Ele sonda a floresta,
o sol, o pássaro,
o mar –
sempre à deriva,
empunha o punhal
contra os emblemas.
Nada há a perceber
antes a ver: hordas
de quimeras
pedem abluções
antigas e explodem a ótica
(irritam o olhar)
que rasura o azul –
alucinação
esfregada contra o
chumbo
(por entre dobraduras
visionárias).
Matéria interrogada
até o inesperado.
Magnetizante
pestanejar da cegueira
onde me pratico
espectador –
corolário, decalque,
sequela.
Que micróbios
atravessam meu temperamento?
Tentação de Santo
Antônio
(Max Ernst: artista
franco-alemão)
Referência:
FARRA, Maria Lúcia
Dal. Max Ernst. In:
__________. Alumbramentos. 1. ed. São Paulo, SP: Iluminuras, 2011. p.
99.
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