Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 4 de dezembro de 2022

Martin Johnston - A máquina de escrever considerada como uma armadilha para abelhas

Ao ler este poema de Johnston, pareceu-me que as nomeadas abelhas em pauta são menos os insetos produtores de mel do que quaisquer outras figuras que poderiam se lhes associar como metáforas, para caracterizar um turbilhão de ideias na mente do poeta, quando em frente à máquina de escrever, no momento mesmo em que os poemas são lapidados em palavras sobre a folha em branco.

 

Com efeito, a linha de arguição de Johnston aparenta contrapor a denominada “poesia de ideias” a uma outra abordagem – da qual o autor australiano seria bem mais afeito – descritiva, imagética, visualizável por conjectura, à maneira dos versos de um William Carlos Williams, ou mesmo contraposta à pura abstração pensante, apta a levar o poema até as regiões lindeiras, v.g., da filosofia ou do ensaio especulativo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Martin Johnston

(1947-1990)

 

The typewriter considered as a bee-trap

 

The typewriter considered as a bee-trap

is no doubt less than perfectly adapted

to its function, just as a bee-trap,

if there are such things, would hardly be the ideal contrivance

for the writing of semi-aleatory poems about

bee-traps and typewriters. Why, in any case,

you are entitled to ask, should I

want to trap bees at all? What do with them

if caught? But there are times, like today,

when bees hover about the typewriter

more frequently than poems, surely knowing best

what best attracts them. And certainly at such times,

considered in terms of function and structure,

the contraption could be argued to be

anything but a typewriter,

the term “anything” being considered

as including, among all else, bee-traps,

softly multiplying in an ideal world.

 

Máquina de Escrever & Abelhas

(Autoria desconhecida)

 

A máquina de escrever considerada como uma armadilha para abelhas

 

A máquina de escrever, considerada como uma armadilha para abelhas,

mostra-se, sem dúvida, menos que perfeitamente adaptada

à sua função, tão apenas como uma armadilha para abelhas,

se existem coisas da espécie; dificilmente seria a engenhoca ideal

para a escrita de poemas semialeatórios sobre

armadilhas para abelhas e máquinas de escrever. Por que, em todo caso,

você teria o direito a me perguntar se eu haveria

de querer capturar abelhas? O que fazer com elas

se as apanho? Mas há momentos, como hoje,

em que as abelhas revoam sobre a máquina de escrever

com mais frequência do que os poemas, seguramente sabendo

melhor o que mais as atrai. E certamente nessas ocasiões,

apreendida em termos de função e de estrutura,

se poderia argumentar que a engenhoca seria

qualquer coisa menos uma máquina de escrever,

o termo “qualquer coisa” sendo interpretado

como a incluir, entre tudo o mais, armadilhas para abelhas,

multiplicando-se suavemente em um mundo ideal.

 

Referência:

 

JOHNSTON, Martin. The typewriter considered as a bee-trap. In: LEHMANN, Geoffrey; GRAY, Robert (Eds.). Australian poetry since 1788. Sydney, AU: University of New South Wales Press (UNSW Press), 2011. p. 768.

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