O ente lírico é declaradamente
o “ausente” do título deste poema, que “sempre retorna” à casa da família de
onde proveio para as comemorações do Natal, muito embora, aparentemente, seja acolhido
com certa impassibilidade – considerando que nenhum dos que estão à mesa volvem
a cabeça para assistir à sua entrada no ambiente –, mas não por um alguém, não nomeado(a),
que o recebe “alegremente”.
Trata-se do filho
mais velho que vive e/ou trabalha a certa distância do presumido “ninho paterno”,
um lar “feliz” muito a despeito da “penúria”. Ou será que todas as estâncias se
reportariam a uma voz de alguém que já expirou e vive na memória dos que por
aqui ficaram? Bem, “that is the question”, diria Shakespeare!
J.A.R. – H.C.
Sebastián Salazar
Bondy
(1924-1965)
Navidad del ausente
Yo sé que allá, a
esta hora, alguien
habrá desempolvado el
pino pascual de la infancia
y encenderá las
falsas estrellas de su copa.
Y sé que alguien bebe
y oscila
al mortecino compás
de un vals peruano
agitando el orden
familiar de diciembre.
Estará servida la
mesa y en torno a ella
las cabezas no se
volverán para ver cómo llego
hasta el convite y
tomo mi puesto de hijo mayor,
y canto, y me
embriago, y rompo el silencio
con algo más ardiente
que una tarjeta postal.
Les diré: “Feliz
Navidad”, como si les dijera:
“Retorno siempre”,
porque amo esa paciente quietud
donde el tiempo sin
prisa labra pausadamente
la dicha en el envés
oculto de la penuria.
Yo sé que allá, a
esta hora, alguien
como un ave a mi
encuentro remonta las distancias
y me recibe alegre,
alegre.
En: “Los ojos del
pródigo” (1950)
Sem título
(Carl Larsson:
artista sueco)
Natal do ausente
Sei que mais adiante,
a esta hora, alguém
terá espanado o
pinheiro pascal da infância
e acenderá as falsas
estrelas de sua copa.
E sei que alguém bebe
e oscila
ao mortiço compasso
de uma valsa peruana,
agitando a familiar
ordem de dezembro.
A mesa estará servida
e ao seu redor
as cabeças não se voltarão
para ver como chego
ao banquete, e tomo
meu posto de filho mais velho,
e canto, e me
embriago, e rompo o silêncio
com algo mais ardente
que um cartão postal.
Dir-lhes-ei: “Feliz
Natal”, como se lhes dissesse:
“Retorno sempre”,
porque amo essa paciente quietude,
onde o tempo sem
pressa lavra, pausadamente,
a felicidade no lado
oculto da penúria.
Sei que mais adiante,
a esta hora, alguém,
como um pássaro ao
meu encontro, supera as distâncias
e me recebe alegremente,
alegremente.
Em: “Os olhos do
pródigo” (1950)
Referência:
BONDY, Sebastián Salazar. Navidad del ausente. Sur, Buenos Aires (AR), nºs. 192-193-194, oct.-nov.-dic. de 1950, p. 137.
Nenhum comentário:
Postar um comentário