Sobre o que se medita
no horto dos filósofos, segundo as presunções do poeta santista, são ruminações
que mais parecem proceder do longo caudal de pensadores pessimistas – como Kierkegaard
(1813-1855), Schopenhauer (1788-1860) e Nietzsche (1844-1900) –, para quem a
vida mais se assemelha ao mal absoluto, torrente de misérias e de sofrimento.
Note-se o vocabulário
taciturno empregado por Fontes – desespero, melancolia, cemitério, túmulo, castigo,
tortura – e se poderá concluir que os aludidos filósofos, presumivelmente, deliciaram-se
com os frutos da árvore proibida, o que lhes açulou o espírito para virem a concluir
que não há rosas sem espinhos, embora haja espinhos a granel sem uma rosa
sequer para atenuar o rigor da paisagem.
J.A.R. – H.C.
Martins Fontes
(1884-1937)
No Vergel dos
Filósofos
Homem, a vida é o mal
absoluto. Medita
no desespero de
viver.
E considera o nada a
solução bendita,
diante do horror de renascer.
Filósofo, a mulher
encarnava a poesia,
e possuiu teu
coração.
Chamou-se: – Flor do
Mal, Musa Melancolia,
Ísis da Desesperação.
Se fosse dado a
alguém ressuscitar da calma
que guarda o túmulo, esse
alguém
invejaria a paz dos
que dormem sem alma,
como a quem muito
amou convém.
E, ao crepúsculo,
quando, encobrindo o mistério,
começa a treva a se
expandir,
iria pervagar em torno
a um cemitério,
na ânsia de entrar,
jazer, dormir.
Conhecer exaspera;
ignorar entristece.
Que há de fazer, no
seu penar,
o homem, númen
mortal, argila que apodrece,
mas que também reluz?
Sonhar!
Conter no coração
tudo o que a noite encerra;
sonhar! Sentir,
mísero Jó,
o castigo de um anjo
insulado na terra,
a tortura de um deus
exilado no pó.
Em: “Prometeu” (1924)
Três filósofos
(Giorgio B. da
Castelfranco: pintor italiano)
Referência:
FONTES, Martins. No
vergel dos filósofos. In: __________. Poesia: antologia. Seleção e
organização de Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1959.
p. 93-94. (“Nossos Clássicos”; v. 40)
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