Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 18 de dezembro de 2022

Dionisio Ridruejo - Natal em Ronda

O poeta urde com suas palavras uma “pintura” que se associa ao frio tempo em que se passa a quadra do Natal e, muito particularmente, concentra-se em retratar matizes da crônica idílica – embora árdua – das herdades, das guildas de artesãos, das conquistas cujos deslindes resultaram para sempre selados no arenito do terreno palmilhado.

 

Antes, porém, descreve-se a paisagem que o ente lírico contempla em solidão, campesina por óbvio, de quando em vez inóspita, com “nuances bravias e sedentas”, tal como uma “sonhada Belém”. Ao final, o poeta confere plena harmonia ao cenário colimado: “Hoje tudo está no seu auge / saciado por este sol mortiço / com o mar quedo nas entranhas / e Deus a dormir sobre a fé e o feno”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dionisio Ridruejo

(1912-1975)

 

Navidad en Ronda

 

Al borde del abismo que encastilla

el labio de la tierra

me asomo al mundo por el aire frío

diafanizado en un cristal de hielo.

Al mundo vasto, confinado y solo

donde la soledad se me derrama

en forma de pintura.

Alamedas y huertos diminutos

lamidos por la orla

del río calmo; casas esparcidas

con cipreses, atadas con senderos

como un Belén soñado;

altas colinas de arboleda oscura,

gleba roja en desierto,

laderas que remontan encinares

y pinos hacia el límite desnudo

de luz petrificada

con trasfondos bravios y sedientos.

Te junto en un instante con el alma,

campo largo y cabal, inmensamente

concreto en tu corona de granito.

Y pienso que le bastas con tus días

iguales para siempre

al labrantín, al artesano, al duro

conquistador que unció al blasón su sangre

de tiempo coagulado en la arenisca

que ha sellado el silencio.

¿Y a mí también? Hoy todo está en su colmo

saciado de este sol amortecido

cuando ha cesado el mar en las entrañas

y duerme Dios sobre la fe y el heno.

 

Portão Natalino

(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)

 

Natal em Ronda

 

À borda do abismo que encastela

o lábio da terra

assomo ao mundo pelo ar frio

diafanizado em um cristal de gelo.

Ao vasto mundo, confinado e sozinho,

onde a solidão se me derrama

em forma de pintura.

Alamedas e diminutos pomares

lambidos pela orla

do rio calmo; casas dispersas

com ciprestes, delimitadas por veredas

como uma sonhada Belém;

altas colinas de mata escura,

gleba vermelha em deserto,

ladeiras que escalam carvalhos

e pinheiros até a estrema nua

de luz petrificada

com nuances bravias e sedentas.

Uno-te num instante com a alma,

campo longo e amplo, imensamente

concreto em tua coroa de granito.

E penso que nisto bastas com teus dias

para sempre iguais

ao lavrador, ao artesão, ao duro

conquistador cujo sangue jungiu-se ao brasão

de tempo coagulado no arenito

que selou o silêncio.

E a mim também? Hoje tudo está no seu auge

saciado por este sol mortiço

com o mar quedo nas entranhas

e Deus a dormir sobre a fé e o feno.

 

Referência:

 

RIDRUEJO, Dionisio. Navidad en ronda. In: SANTIAGO, Miguel de; LASO, Juan Polo (Introducción y elección). Porque esta noche el amor: poesía navideña del siglo XX. Madrid, ES: Biblioteca de Autores Cristianos, 1997. p. 123-124.


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