O poeta urde com suas
palavras uma “pintura” que se associa ao frio tempo em que se passa a quadra do
Natal e, muito particularmente, concentra-se em retratar matizes da crônica idílica
– embora árdua – das herdades, das guildas de artesãos, das conquistas cujos deslindes
resultaram para sempre selados no arenito do terreno palmilhado.
Antes, porém, descreve-se
a paisagem que o ente lírico contempla em solidão, campesina por óbvio, de
quando em vez inóspita, com “nuances bravias e sedentas”, tal como uma “sonhada
Belém”. Ao final, o poeta confere plena harmonia ao cenário colimado: “Hoje
tudo está no seu auge / saciado por este sol mortiço / com o mar quedo nas
entranhas / e Deus a dormir sobre a fé e o feno”.
J.A.R. – H.C.
Dionisio Ridruejo
(1912-1975)
Navidad en Ronda
Al borde del abismo
que encastilla
el labio de la tierra
me asomo al mundo por
el aire frío
diafanizado en un
cristal de hielo.
Al mundo vasto,
confinado y solo
donde la soledad se
me derrama
en forma de pintura.
Alamedas y huertos
diminutos
lamidos por la orla
del río calmo; casas
esparcidas
con cipreses, atadas
con senderos
como un Belén soñado;
altas colinas de
arboleda oscura,
gleba roja en
desierto,
laderas que remontan
encinares
y pinos hacia el
límite desnudo
de luz petrificada
con trasfondos
bravios y sedientos.
Te junto en un
instante con el alma,
campo largo y cabal,
inmensamente
concreto en tu corona
de granito.
Y pienso que le
bastas con tus días
iguales para siempre
al labrantín, al
artesano, al duro
conquistador que
unció al blasón su sangre
de tiempo coagulado
en la arenisca
que ha sellado el
silencio.
¿Y a mí también? Hoy
todo está en su colmo
saciado de este sol
amortecido
cuando ha cesado el
mar en las entrañas
y duerme Dios sobre
la fe y el heno.
Portão Natalino
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
Natal em Ronda
À borda do abismo que
encastela
o lábio da terra
assomo ao mundo pelo
ar frio
diafanizado em um
cristal de gelo.
Ao vasto mundo,
confinado e sozinho,
onde a solidão se me
derrama
em forma de pintura.
Alamedas e diminutos
pomares
lambidos pela orla
do rio calmo; casas dispersas
com ciprestes,
delimitadas por veredas
como uma sonhada
Belém;
altas colinas de mata
escura,
gleba vermelha em
deserto,
ladeiras que escalam
carvalhos
e pinheiros até a estrema
nua
de luz petrificada
com nuances bravias e
sedentas.
Uno-te num instante
com a alma,
campo longo e amplo,
imensamente
concreto em tua coroa
de granito.
E penso que nisto bastas com teus dias
para sempre iguais
ao lavrador, ao
artesão, ao duro
conquistador cujo sangue jungiu-se ao brasão
de tempo coagulado no
arenito
que selou o silêncio.
E a mim também? Hoje
tudo está no seu auge
saciado por este sol mortiço
com o mar quedo nas
entranhas
e Deus a dormir sobre
a fé e o feno.
Referência:
RIDRUEJO, Dionisio. Navidad en ronda. In: SANTIAGO, Miguel de; LASO, Juan Polo (Introducción y elección). Porque esta noche el amor: poesía navideña del siglo XX. Madrid, ES: Biblioteca de Autores Cristianos, 1997. p. 123-124.
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