Sabines, poeta
mexicano, com enfático sarcasmo, contrapõe-se à sociedade capitalista, centrada
fundamentalmente no que o dinheiro é capaz de comprar. Sob tal perspectiva, não
atenua sua crítica nem mesmo aos que se dizem cristãos: “Cantemos ao dinheiro /
com o espírito do Natal cristão”, ou ainda, “Aleluia, crentes / uni-vos na adoração
do caluniado bezerro de ouro”.
Para os que julgam o
dinheiro como sendo uma propriedade “suja”, Sabines desembainha o claro oposto
como contundente expediente de seu palavreado ferino, afirmando que o verbo “comprar”,
consectário ao fato de se deter recursos monetários, seria o mais “limpo” da
língua.
Em Pindorama, o que
diriam os Malafaias, os Edires Macedos da vida e outros sem conta, que transformaram
a religião num balcão de negócios, incursionando sem pejo pela política, lá promovendo
o mais insolente tráfico de influências para expansão do poder que detêm e dos
recursos dos quais se abastam?!
J.A.R. – H.C.
Jaime Sabines
(1926-1999)
Cantemos al dinero
con el espíritu de la
navidad cristiana.
No hay nada más
limpio que el dinero,
ni más generoso, ni
más fuerte.
El dinero abre todas
las puertas;
es la llave de la
vida jocunda,
la vara del milagro,
el instrumento de la
resurrección.
Te da lo necesario y
lo innecesario,
el pan y la alegría.
Si tu mujer esta enferma
puedes curarla,
si es una bestia
puedes pagar para que la maten.
El dinero te lava las
manos
de la injusticia y el
crimen,
te aparta del
trabajo,
te absuelve de vivir.
Puedes ser como eres
con el dinero en la bolsa,
el dinero es la libertad.
Si quieres una mujer
y otra y otra, cómpralas,
si quieres una isla,
cómprala,
si quieres una
multitud, cómprala.
(Es el verbo más
limpio de la lengua: comprar.)
Yo tengo dinero
quiere decir que me tengo.
Soy mío y soy tuyo
en este maravilloso
mundo sin resistencias.
Dar dinero es dar
amor.
¡Aleluya, creyentes,
uníos en la adoración
del calumniado becerro de oro
y que las hermosas
ubres de su madre nos amamanten!
Feira natalina em
Berlim
(Franz Skarbina:
pintor alemão)
Cantemos ao dinheiro
com o espírito do
Natal cristão.
Não há nada mais
limpo que o dinheiro,
nem mais generoso,
nem mais forte.
O dinheiro abre todas
as portas;
é a chave da vida jucunda,
a vara do milagre,
o instrumento da
ressurreição.
Dá-te o necessário e
o desnecessário,
o pão e a alegria.
Se tua mulher está
doente, podes curá-la;
se é uma fera, podes
pagar para que a matem.
O dinheiro te lava as
mãos
da injustiça e do
crime,
te aparta do
trabalho,
te absolve de viver.
Podes ser como és com
o dinheiro na bolsa,
o dinheiro é a
liberdade.
Se queres uma mulher
e outra e outra, compra-as;
se queres uma ilha,
compra-a;
se queres uma profusão
de coisas, compra-a.
(É o verbo mais limpo
da língua: comprar.)
Eu tenho dinheiro significa
que tenho a mim mesmo.
Sou meu e sou teu
neste maravilhoso
mundo sem resistências.
Dar dinheiro é dar
amor.
Aleluia, crentes,
uni-vos na adoração
do caluniado bezerro de ouro
e que os belos úberes
de sua mãe nos amamentem!
Referência:
SABINES, Jaime. Cantemos
al dinero. In: __________. Nuevo recuento de poemas. 3. ed., 19. reimp. México,
DF: Editorial Joaquín Mortiz, 1996. p. 221-222.
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