Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Jaime Sabines - Cantemos ao dinheiro

Sabines, poeta mexicano, com enfático sarcasmo, contrapõe-se à sociedade capitalista, centrada fundamentalmente no que o dinheiro é capaz de comprar. Sob tal perspectiva, não atenua sua crítica nem mesmo aos que se dizem cristãos: “Cantemos ao dinheiro / com o espírito do Natal cristão”, ou ainda, “Aleluia, crentes / uni-vos na adoração do caluniado bezerro de ouro”.

 

Para os que julgam o dinheiro como sendo uma propriedade “suja”, Sabines desembainha o claro oposto como contundente expediente de seu palavreado ferino, afirmando que o verbo “comprar”, consectário ao fato de se deter recursos monetários, seria o mais “limpo” da língua.

 

Em Pindorama, o que diriam os Malafaias, os Edires Macedos da vida e outros sem conta, que transformaram a religião num balcão de negócios, incursionando sem pejo pela política, lá promovendo o mais insolente tráfico de influências para expansão do poder que detêm e dos recursos dos quais se abastam?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Jaime Sabines

(1926-1999)

 

Cantemos al dinero

 

con el espíritu de la navidad cristiana.

No hay nada más limpio que el dinero,

ni más generoso, ni más fuerte.

El dinero abre todas las puertas;

es la llave de la vida jocunda,

la vara del milagro,

el instrumento de la resurrección.

Te da lo necesario y lo innecesario,

el pan y la alegría.

Si tu mujer esta enferma puedes curarla,

si es una bestia puedes pagar para que la maten.

El dinero te lava las manos

de la injusticia y el crimen,

te aparta del trabajo,

te absuelve de vivir.

Puedes ser como eres con el dinero en la bolsa,

el dinero es la libertad.

Si quieres una mujer y otra y otra, cómpralas,

si quieres una isla, cómprala,

si quieres una multitud, cómprala.

(Es el verbo más limpio de la lengua: comprar.)

Yo tengo dinero quiere decir que me tengo.

Soy mío y soy tuyo

en este maravilloso mundo sin resistencias.

Dar dinero es dar amor.

 

¡Aleluya, creyentes,

uníos en la adoración del calumniado becerro de oro

y que las hermosas ubres de su madre nos amamanten!

 

Feira natalina em Berlim

(Franz Skarbina: pintor alemão)

 

Cantemos ao dinheiro

 

com o espírito do Natal cristão.

Não há nada mais limpo que o dinheiro,

nem mais generoso, nem mais forte.

O dinheiro abre todas as portas;

é a chave da vida jucunda,

a vara do milagre,

o instrumento da ressurreição.

Dá-te o necessário e o desnecessário,

o pão e a alegria.

Se tua mulher está doente, podes curá-la;

se é uma fera, podes pagar para que a matem.

O dinheiro te lava as mãos

da injustiça e do crime,

te aparta do trabalho,

te absolve de viver.

Podes ser como és com o dinheiro na bolsa,

o dinheiro é a liberdade.

Se queres uma mulher e outra e outra, compra-as;

se queres uma ilha, compra-a;

se queres uma profusão de coisas, compra-a.

(É o verbo mais limpo da língua: comprar.)

Eu tenho dinheiro significa que tenho a mim mesmo.

Sou meu e sou teu

neste maravilhoso mundo sem resistências.

Dar dinheiro é dar amor.

 

Aleluia, crentes,

uni-vos na adoração do caluniado bezerro de ouro

e que os belos úberes de sua mãe nos amamentem!

 

Referência:

 

SABINES, Jaime. Cantemos al dinero. In: __________. Nuevo recuento de poemas. 3. ed., 19. reimp. México, DF: Editorial Joaquín Mortiz, 1996. p. 221-222.


Nenhum comentário:

Postar um comentário