O poeta catalão sintetiza
nestes versos os dois flancos que se revelam mais pronunciados na temporada do
Natal: de um lado, o deter-se em cumprir as diretrizes de uma vida justa,
tomando os exemplos de Cristo como paradigma, mesmo os desenlaces de sua
paixão; de outro, a profusão visual dos ornamentos da época, das músicas tangidas
daqui e de além, e das mercadorias expostas em “reiterada abundância”.
A Plenitude do Natal,
desse modo, atrai “tudo o que cede a uns olhos incomparáveis”, fundindo o
sagrado ao profano, a alegria de uma paz natalina – um estado de ânimo capaz de
tornar manifesta a clareza da fé e o propósito de uma vida de santidade e de
justiça –, ao mais imparável consumismo, a que praticamente nada se pode subtrair.
Quase certo que diante
desse painel de indistintos matizes, a estrela passará adiante em nossas vidas,
sem que reparemos nela, no insondável mistério de sua existência, deixando de ser
apreendida por meio de uma experiência de transformação espiritual.
J.A.R. – H.C.
Sebastià Sánchez-Juan
(1904-1974)
En uns carrers com fruita madura,
a les botigues
de revinguda abundor,
tan clares,
de tan netes sembla que no hi hagi vidres.
“Per què
– diría un antic –
tants esclats, tant de verd amb boletes vermelles,
tanta profusió de llum – llum pállida,
llum absoluta –
i aquests llumenerets de tots colors, de nit?
Per què l’austríac lied,
i cançons i cançons de totes les senyeres?
Per què s’omplen els temples a la matinada?
Per què els pobres fan caritats ais pobres?”
Es la propulsió d’aquella força
que fa que es pugui cantâ el cantic nou,
que es visitin malalts i captius,
que es comprenguin – s’eduquin – subnormals,
que sobretot i per damunt de tot s’ami Déu,
Déu i les seves criatures;
que s’arribin a amâ els enemics d’un mateix
– que no s’hi resisteixi ni se’ls jutgi –
i que la dona porti el seu anell.
Es la força que “neix”, un estable per llar
i per escalf l’alè de dues bèsties,
per després treballar i ensenyar de pregar,
mori en creu entre lladres
i al tercer dia ressucitar d’entre els morts...
I atreure tot el que cedeix
a uns ulls incomparables.
Viagem a Belém
(Richard De Wolfe: artista
canadense)
Plenitude de Natal
Em algumas ruas como
fruta madura,
nas lojas
em reiterada abundância,
tão claras,
tão limpas que parece
não haver vidraças.
“Por que
– diria um ancião –
tantos fragores,
tanto de verde com bolinhas vermelhas,
tanta profusão de luz
– luz pálida,
luz absoluta –
e essas
luminariazinhas de todas as cores, à noite?
Por que o lied
austríaco,
e canções e canções
de todas as bandeiras?
Por que os templos se
enchem durante a matinada?
Por que os pobres fazem
caridades aos pobres?
É a propulsão daquela
força
que faz com que se
possa cantar um cântico novo,
que se visitem
enfermos e cativos,
que se compreendam –
se eduquem – subnormais,
que sobretudo, e
acima de tudo, se ame a Deus,
a Deus e suas criaturas,
que se consiga amar
os seus próprios inimigos
– sem que se lhes
resista nem se os julgue –
e que se honre o anel
ostentado pela dona.
É a força que
“nasce”, tendo um estábulo por morada
e por calor o bafejo
de duas bestas,
para depois trabalhar
e ensinar a orar,
morrer na cruz entre
ladrões
e, ao terceiro dia,
ressuscitar dentre os mortos...
E atrair tudo o que
cede
a uns olhos
incomparáveis.
Referência:
SÁNCHEZ-JUAN, Sebastià. Plenitud de Nadal. In: CHAMPOURCIN, Ernestina de (Ed.). Dios en la poesía actual: selección de poemas españoles e hispanoamericanos. 2. ed. revisada y aumentada. Madrid, ES: La Editorial Católica, 1972. p. 208-209. (‘Biblioteca de Autores Cristianos’)
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