Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Sebastià Sánchez-Juan - Plenitude de Natal

O poeta catalão sintetiza nestes versos os dois flancos que se revelam mais pronunciados na temporada do Natal: de um lado, o deter-se em cumprir as diretrizes de uma vida justa, tomando os exemplos de Cristo como paradigma, mesmo os desenlaces de sua paixão; de outro, a profusão visual dos ornamentos da época, das músicas tangidas daqui e de além, e das mercadorias expostas em “reiterada abundância”.

 

A Plenitude do Natal, desse modo, atrai “tudo o que cede a uns olhos incomparáveis”, fundindo o sagrado ao profano, a alegria de uma paz natalina – um estado de ânimo capaz de tornar manifesta a clareza da fé e o propósito de uma vida de santidade e de justiça –, ao mais imparável consumismo, a que praticamente nada se pode subtrair.

 

Quase certo que diante desse painel de indistintos matizes, a estrela passará adiante em nossas vidas, sem que reparemos nela, no insondável mistério de sua existência, deixando de ser apreendida por meio de uma experiência de transformação espiritual.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sebastià Sánchez-Juan

(1904-1974)

 

Plenitud de Nadal

 

En uns carrers com fruita madura,

a les botigues

de revinguda abundor,

tan clares,

de tan netes sembla que no hi hagi vidres.

 

“Per què

– diría un antic –

tants esclats, tant de verd amb boletes vermelles,

tanta profusió de llum – llum pállida,

llum absoluta –

i aquests llumenerets de tots colors, de nit?

 

Per què l’austríac lied,

i cançons i cançons de totes les senyeres?

Per què s’omplen els temples a la matinada?

Per què els pobres fan caritats ais pobres?”

 

Es la propulsió d’aquella força

que fa que es pugui cantâ el cantic nou,

que es visitin malalts i captius,

que es comprenguin – s’eduquin – subnormals,

que sobretot i per damunt de tot s’ami Déu,

Déu i les seves criatures;

que s’arribin a amâ els enemics d’un mateix

– que no s’hi resisteixi ni se’ls jutgi –

i que la dona porti el seu anell.

Es la força que “neix”, un estable per llar

i per escalf l’alè de dues bèsties,

per després treballar i ensenyar de pregar,

mori en creu entre lladres

i al tercer dia ressucitar d’entre els morts...

I atreure tot el que cedeix

a uns ulls incomparables.

 

Viagem a Belém

(Richard De Wolfe: artista canadense)

 

Plenitude de Natal

 

Em algumas ruas como fruta madura,

nas lojas

em reiterada abundância,

tão claras,

tão limpas que parece não haver vidraças.

 

“Por que

– diria um ancião –

tantos fragores, tanto de verde com bolinhas vermelhas,

tanta profusão de luz – luz pálida,

luz absoluta –

e essas luminariazinhas de todas as cores, à noite?

 

Por que o lied austríaco,

e canções e canções de todas as bandeiras?

Por que os templos se enchem durante a matinada?

Por que os pobres fazem caridades aos pobres?

 

É a propulsão daquela força

que faz com que se possa cantar um cântico novo,

que se visitem enfermos e cativos,

que se compreendam – se eduquem – subnormais,

que sobretudo, e acima de tudo, se ame a Deus,

a Deus e suas criaturas,

que se consiga amar os seus próprios inimigos

– sem que se lhes resista nem se os julgue –

e que se honre o anel ostentado pela dona.

 

É a força que “nasce”, tendo um estábulo por morada

e por calor o bafejo de duas bestas,

para depois trabalhar e ensinar a orar,

morrer na cruz entre ladrões

e, ao terceiro dia, ressuscitar dentre os mortos...

E atrair tudo o que cede

a uns olhos incomparáveis.

 

Referência:

 

SÁNCHEZ-JUAN, Sebastià. Plenitud de Nadal. In: CHAMPOURCIN, Ernestina de (Ed.). Dios en la poesía actual: selección de poemas españoles e hispanoamericanos. 2. ed. revisada y aumentada. Madrid, ES: La Editorial Católica, 1972. p. 208-209. (‘Biblioteca de Autores Cristianos’)


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