Ministro da Igreja
Metodista na Inglaterra, o poeta detém-se nestas linhas sobre o cenário à volta
de Ambleside, a noroeste do país, onde despontam a Colina de Loughrigg e o
Lago Windermere: as descrições projetam um frio intenso e, mais que isso, suscitam
dúvidas no ente lírico acerca do fato de que a sua companheira possa
eventualmente tê-lo deixado.
O Ano Novo se
aproxima e todos os excursionistas, devotos de final de semana, retornam a suas
moradas: já não há movimento de hóspedes na pensão do lugarejo e os seus
proprietários aproveitam a oportunidade para fazer o balanço do ano que se
encerra. O nevoeiro é a nota definitiva na paisagem, a encobrir as cintilantes
luzes natalinas.
J.A.R. – H.C.
Martin Eggleton
(n. 1938)
Year End at Ambleside
Mountain mists
descend on Ambleside (1)
shrouding the
sparkling Christmas lights
strung like onions on
guest house walls;
proprietors alone now
with empty rooms
and voiceless
signatures (2)
take stock of the
year past.
The hint of snow in
the air chills me –
not so much as the
thought –
that you have really
left me.
Loughrigg’s powdered
brow (3)
disdains the lake
below,
silently grieving for
long-socked hikers,
weekend devotees gone
home,
kagouls hung away for
the New Year.
Facing it without you
makes me cold,
colder than the
stone-ice
and the biting wind
over Windermere. (4)
The swans still
trouble the mud,
as if life had no
seasons.
Winter and summer
alike keep breadless ducks
voicing complaints to
absent friends;
boats lie anchored,
bereft, rocking their grief –
waiting for captains
to board again.
It’s beginning to
sleet –
you are not here,
my numbness coats the
pane
with a face just like
yours.
Ambleside ao
crepúsculo
(Graham Twyford:
pintor inglês)
Fim de Ano em
Ambleside
Névoas da montanha
descem sobre Ambleside,
encobrindo as luzes
cintilantes do Natal
que pendem como cebolas
nas paredes da pensão;
os proprietários,
agora sozinhos, com os quartos vazios
e sem compromissos
verbais firmados,
fazem um balanço do
ano passado.
Os indícios de neve
no ar me dão calafrios,
não tanto quanto o
pensamento
de que realmente
tenhas me deixado.
O semblante empoado
de Loughrigg
desdenha o lago mais
abaixo,
silenciosamente a lamentar
pelos caminhantes
de meias longas,
devotos de fim de semana que se dirigem para casa,
as capas de chuva alhures
penduradas para o Ano Novo.
Dá-me frio enfrentá-lo
sem ti,
mais frio que o gelo
em pedra
e o vento cortante
sobre Windermere.
Os cisnes ainda
turbam o lodo,
como se a vida não
tivesse estações.
Tanto o inverno
quanto o verão levam os patos sem vianda
a expressar suas
queixas aos amigos ausentes;
os barcos acham-se
ancorados, despojados, brandindo
o seu pesar –
à espera de que os capitães voltem a embarcar.
Começa a cair granizo
–
tu não estás aqui,
meu entorpecimento recobre
a vidraça
com um rosto como o
teu.
Notas:
(1). Ambleside: lugarejo
no distrito de Lakes, em Cumbria, no noroeste da Inglaterra.
(2). Voice signature:
é um tipo de assinatura eletrônica que usa o acordo verbal gravado por um
indivíduo, em vez de uma assinatura manuscrita; é considerado juridicamente
vinculativo nos setores privado e público, sob certas condições; uma assinatura
de voz também se chama assinatura telefônica.
(3). Loughrigg:
colina na parte central do distrito de Lakes.
(4). Windermere:
trata-se do maior lago natural da Inglaterra, com pouco menos que 15 (quinze)
quilômetros quadrados.
Referência:
EGGLETON, Martin. Year end at Ambleside. In: __________. Christmas poems: contemporary reflections on the festive season. 1st publ. [s.l.]: Lulu Press, 2006. p. 72.
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