Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Martin Eggleton - Fim de Ano em Ambleside

Ministro da Igreja Metodista na Inglaterra, o poeta detém-se nestas linhas sobre o cenário à volta de Ambleside, a noroeste do país, onde despontam a Colina de Loughrigg e o Lago Windermere: as descrições projetam um frio intenso e, mais que isso, suscitam dúvidas no ente lírico acerca do fato de que a sua companheira possa eventualmente tê-lo deixado.

 

O Ano Novo se aproxima e todos os excursionistas, devotos de final de semana, retornam a suas moradas: já não há movimento de hóspedes na pensão do lugarejo e os seus proprietários aproveitam a oportunidade para fazer o balanço do ano que se encerra. O nevoeiro é a nota definitiva na paisagem, a encobrir as cintilantes luzes natalinas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Martin Eggleton

(n. 1938)

 

Year End at Ambleside

 

Mountain mists descend on Ambleside (1)

shrouding the sparkling Christmas lights

strung like onions on guest house walls;

proprietors alone now with empty rooms

and voiceless signatures (2)

take stock of the year past.

The hint of snow in the air chills me –

not so much as the thought –

that you have really left me.

 

Loughrigg’s powdered brow (3)

disdains the lake below,

silently grieving for long-socked hikers,

weekend devotees gone home,

kagouls hung away for the New Year.

Facing it without you makes me cold,

colder than the stone-ice

and the biting wind over Windermere. (4)

 

The swans still trouble the mud,

as if life had no seasons.

Winter and summer alike keep breadless ducks

voicing complaints to absent friends;

boats lie anchored, bereft, rocking their grief –

waiting for captains to board again.

It’s beginning to sleet –

you are not here,

my numbness coats the pane

with a face just like yours.

 

Ambleside ao crepúsculo

(Graham Twyford: pintor inglês)

 

Fim de Ano em Ambleside

 

Névoas da montanha descem sobre Ambleside,

encobrindo as luzes cintilantes do Natal

que pendem como cebolas nas paredes da pensão;

os proprietários, agora sozinhos, com os quartos vazios

e sem compromissos verbais firmados,

fazem um balanço do ano passado.

Os indícios de neve no ar me dão calafrios,

não tanto quanto o pensamento

de que realmente tenhas me deixado.

 

O semblante empoado de Loughrigg

desdenha o lago mais abaixo,

silenciosamente a lamentar pelos caminhantes

de meias longas,

devotos de fim de semana que se dirigem para casa,

as capas de chuva alhures penduradas para o Ano Novo.

Dá-me frio enfrentá-lo sem ti,

mais frio que o gelo em pedra

e o vento cortante sobre Windermere.

 

Os cisnes ainda turbam o lodo,

como se a vida não tivesse estações.

Tanto o inverno quanto o verão levam os patos sem vianda

a expressar suas queixas aos amigos ausentes;

os barcos acham-se ancorados, despojados, brandindo

o seu pesar –

à espera de que os capitães voltem a embarcar.

Começa a cair granizo –

tu não estás aqui,

meu entorpecimento recobre a vidraça

com um rosto como o teu.

 

Notas:

 

(1). Ambleside: lugarejo no distrito de Lakes, em Cumbria, no noroeste da Inglaterra.

 

(2). Voice signature: é um tipo de assinatura eletrônica que usa o acordo verbal gravado por um indivíduo, em vez de uma assinatura manuscrita; é considerado juridicamente vinculativo nos setores privado e público, sob certas condições; uma assinatura de voz também se chama assinatura telefônica.

 

(3). Loughrigg: colina na parte central do distrito de Lakes.

 

(4). Windermere: trata-se do maior lago natural da Inglaterra, com pouco menos que 15 (quinze) quilômetros quadrados.

 

Referência:

 

EGGLETON, Martin. Year end at Ambleside. In: __________. Christmas poems: contemporary reflections on the festive season. 1st publ. [s.l.]: Lulu Press, 2006. p. 72.


Nenhum comentário:

Postar um comentário