Eis aqui um poeminha
dedicado às crianças, mas que tem muito a ver com o que ocorre no universo dos
adultos: enchemo-nos de esperanças no começo de cada ano e, à medida que transcorrem
os meses, o edifício de doze andares se exaure e, quase desenganados, pomo-nos
a formular novas expectativas para mais outro ano à frente, quando tudo, mais
ou menos, há de se repetir.
Quem não haveria de
associar a mensagem destes versos de Quintana àqueles da parte final de “O
Bêbado e a Equilibrista”, composição de Aldir Blanc e João Bosco: “A esperança
equilibrista / sabe que o show de todo artista / tem que continuar.”?! Logo se
podem deduzir as razões pelas quais essa “louca menininha de olhos verdes” teima
em reiterar os seus movimentos de alto a baixo, como uma fênix a regenerar-se
em seus propósitos!
J.A.R. – H.C.
Mario Quintana
(1906-1994)
Poema do Fim do Ano
Lá bem no alto do
décimo segundo andar do Ano
Mora uma louca
chamada Esperança:
E quando todas as
buzinas fonfonam
Quando todos os
reco-recos matracam
Quando tudo berra
quando tudo grita quando tudo apita
A louca tapa os
ouvidos
e
atira-se
E – ó miraculoso voo!
–
Acorda outra vez
menina, lá embaixo, na calçada.
O povo aproxima-se,
aflito
E o mais velhinho
curva-se e pergunta:
– Como é teu nome,
menininha dos olhos verdes?
E ela então sorri a
todos eles
E lhes diz, bem
devagarinho para que não esqueçam nunca:
– O meu nome é
ES-PE-RAN-ÇA...
Em: “Poemas para a
Infância: Lili inventa o mundo” (1983)
Esperança
(Jay Dalvi: artista
indiano)
Referência:
QUINTANA, Mário.
Poema do fim do ano. In: __________. Poesia completa. Primeira
Reimpressão da Primeira Edição. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p. 954. (Biblioteca
Luso-Brasileira; Série Brasileira)
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