Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Mario Quintana - Poema do Fim do Ano

Eis aqui um poeminha dedicado às crianças, mas que tem muito a ver com o que ocorre no universo dos adultos: enchemo-nos de esperanças no começo de cada ano e, à medida que transcorrem os meses, o edifício de doze andares se exaure e, quase desenganados, pomo-nos a formular novas expectativas para mais outro ano à frente, quando tudo, mais ou menos, há de se repetir.

 

Quem não haveria de associar a mensagem destes versos de Quintana àqueles da parte final de “O Bêbado e a Equilibrista”, composição de Aldir Blanc e João Bosco: “A esperança equilibrista / sabe que o show de todo artista / tem que continuar.”?! Logo se podem deduzir as razões pelas quais essa “louca menininha de olhos verdes” teima em reiterar os seus movimentos de alto a baixo, como uma fênix a regenerar-se em seus propósitos!

 

J.A.R. – H.C.

 

Mario Quintana

(1906-1994)

 

Poema do Fim do Ano

 

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Mora uma louca chamada Esperança:

E quando todas as buzinas fonfonam

Quando todos os reco-recos matracam

Quando tudo berra quando tudo grita quando tudo apita

A louca tapa os ouvidos

e

atira-se

E – ó miraculoso voo! –

Acorda outra vez menina, lá embaixo, na calçada.

O povo aproxima-se, aflito

E o mais velhinho curva-se e pergunta:

– Como é teu nome, menininha dos olhos verdes?

E ela então sorri a todos eles

E lhes diz, bem devagarinho para que não esqueçam nunca:

– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

 

Em: “Poemas para a Infância: Lili inventa o mundo” (1983)

 

Esperança

(Jay Dalvi: artista indiano)

 

Referência:

 

QUINTANA, Mário. Poema do fim do ano. In: __________. Poesia completa. Primeira Reimpressão da Primeira Edição. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p. 954. (Biblioteca Luso-Brasileira; Série Brasileira)


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