A escritora e
jornalista equatoriana pincela com matizes singulares o sentido de salvação
representado pelo lume ou clarão que nos é sinalizado pelos céus, algo de algum
modo consentâneo com as urdiduras do sagrado e do profano, suportadas por antinomias
do velho e do novo, de erros e de acertos, de luzes e de trevas.
O clarão da estrela
segue à nossa frente, iluminando o caminho enquanto verbo manifesto, no firme
propósito de que nos convertamos em revérberos humanos do divino, como harmônicos
sóis introjetados, vocacionados ao espiritual, ao aperfeiçoamento pela
generosidade, altruísmo, princípios éticos e mútuo respeito.
J.A.R. – H.C.
Ana Cecilia Blum
(n. 1972)
La Lumbre
Hay soles que al
anochecer
se acomodan en el
alma
y nos hacen,
nos fecundan,
nos convierten.
Somos esos y más,
otros,
los nuevos, los
anteriores,
un acierto, un
equívoco,
andantes de tinieblas
y destellos,
ego y humildad que se
entrelazan,
aprietan,
estrangulan.
Palabras infinitas
en las hojas de la
lluvia,
odisea propia,
firma existencial en
el poniente.
Días que se mecen
sacrosantos y profanos,
rutas se hacen, se
deshacen,
fallas traicioneras,
sismos inminentes.
Y entre lo que
estalla y enfurece,
un gramo de armonía
en la pupila,
la lumbre esperando,
desde el fondo,
desde la antesala de
todos los asombros
volteamos, nos
abraza,
nos envuelve,
somos su calor, sus
luces.
Es la lumbre
y
nos salva.
A Estrela
(Diane McClary:
pintora norte-americana)
O Lume
Há sóis que ao
anoitecer
se acomodam na alma
e nos preenchem,
nos fecundam,
nos convertem.
Somos esses e mais,
outros,
os novos, os
anteriores,
um acerto, um
equívoco,
errantes de trevas e
clarões,
ego e humildade que
se entrelaçam,
comprimem,
estrangulam.
Palavras infinitas
nas folhas de chuva,
odisseia própria,
firma existencial no
poente.
Dias que meneiam sacrossantos
e profanos,
rotas se fazem,
desfazem,
falhas traiçoeiras,
sismos iminentes.
E entre o que estoura
e enfurece,
um grama de harmonia
na pupila,
o lume à espera –
desde o fundo,
desde a antessala de
todos os assombros
retornamos – nos
abraça,
nos envolve,
somos seu calor, suas
luzes.
É o lume
e
nos salva.
Referência:
BLUM, Ana Cecilia. La
lumbre. In: ALENCART, A. P.; CRUZ-VILLALOBOS, Luis (Eds.). Carne del cielo:
versos de navidad. Antología de poetas iberoamericanos de hoy. Pinturas de
Miguel Elías. Santiago, CL: Hebel Ediciones, 2015. p. 142-143. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 dez.
2022.
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