O poeta imagina um astronauta
em órbita, a contemplar com olhos de criança, de tão longe, o que presume se
passar numa noite de Natal em Belém da Judeia, enfatizando a prevalência do
elemento “ar” em sua lida de cosmonauta, num cenário que se revela de congratulação
entre o firmamento, a terra e o mar.
Como se observa, há, ao
longo de todo o poema, um jogo de palavras com a precitada palavra “ar”, convenientemente
a encerrar os segundos versos de todos os seus dísticos: ar que o falante
respira, ar à volta e a sustentar a terra, ar elemento motor e prenúncio benfazejo
de um mundo capaz de dar uma chance à paz.
J.A.R. – H.C.
Antonio Murciano
(n. 1929)
Nochebuena del
Astronauta
Desde arriba se ve el
mundo
– mordida manzana – al
aire.
Tan solamente Belén,
qué grande, hoy,
desde el aire.
Hoy, que están de
enhorabuena
el mar, la tierra y
el aire.
Fiesta niña de mis
ojos
dentro y fuera y bajo
el aire.
Hoy he visto al
Niño-Dios
en una gruta del
aire,
ángeles y serafines
mecían su cuna de
aire
y cantaban villancicos
de aire, al aire por
el aire.
Esta noche es
Nochebuena
y yo, soñando, en el
aire;
surcando la noche
negra
del tras-mundo, tras
el aire;
descubriendo la otra
cara
de la luna, de entre
el aire;
yo, quemándome en el
fuego
del encuentro con el
aire
y helándome con el
frío
de los espacios sin
aire.
Hoy están de
parabienes
cielo y tierra y mar
y aire.
Y yo, astronauta,
perdido,
tendido en paz junto
al aire,
sintiendo en mí la
infinita
sombra de Dios,
frente al aire.
Para mí toda la
gloria.
Todo el gozo para el
aire.
¡Fiesta de mis ojos
niños!
¡Mi Nochebuena del
aire!
Aire que el aire me
lleva,
aire que me lleva al
aire.
Papai Noel e Renas em
Órbita
(Autor não
identificado)
Noite de Natal do
Astronauta
De cima se vê o mundo
– mordida maçã – suspensa
no ar.
Tão somente Belém,
quão grande, hoje, vista
do ar.
Hoje, que estão se
congratulando
o mar, a terra e o
ar.
Festa infante de meus
olhos
dentro e fora e sob o
ar.
Hoje vi um
Menino-Deus
em uma gruta do ar,
anjos e serafins
embalavam seu berço
de ar
e cantavam vilancicos
de ar, ao ar e pelo
ar.
Esta noite é Noite de Natal
e eu, sonhando, no
ar;
sulcando a noite
negra
do pós-mundo, atrás
do ar;
descobrindo a outra
face
da lua, em meio ao
ar;
eu, queimando-me no
fogo
do encontro com o ar
e gelando-me no frio
dos espaços sem ar.
Hoje estão de
parabéns
céu e terra e mar e
ar.
E eu, astronauta,
perdido,
estirado em paz junto
ao ar,
sentindo em mim a
infinita
sombra de Deus,
frente ao ar.
Para mim toda a
glória.
Todo o gozo para o ar.
Festa de meus olhos infantes!
Minha noite de Natal
do ar!
Ar que o ar me leva,
ar que me leva ao ar.
Referência:
MURCIANO, Antonio.
Nochebuena del astronauta. In: CHAMPOURCIN, Ernestina de (Ed.). Dios en la
poesía actual: selección de poemas españoles e hispanoamericanos. 2. ed.
revisada y aumentada. Madrid, ES: La Editorial Católica, 1972. p. 382-383. (‘Biblioteca
de Autores Cristianos’)
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