Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 24 de dezembro de 2022

Antonio Murciano - Noite de Natal do Astronauta

O poeta imagina um astronauta em órbita, a contemplar com olhos de criança, de tão longe, o que presume se passar numa noite de Natal em Belém da Judeia, enfatizando a prevalência do elemento “ar” em sua lida de cosmonauta, num cenário que se revela de congratulação entre o firmamento, a terra e o mar.

 

Como se observa, há, ao longo de todo o poema, um jogo de palavras com a precitada palavra “ar”, convenientemente a encerrar os segundos versos de todos os seus dísticos: ar que o falante respira, ar à volta e a sustentar a terra, ar elemento motor e prenúncio benfazejo de um mundo capaz de dar uma chance à paz.

 

J.A.R. – H.C.

 

Antonio Murciano

(n. 1929)

 

Nochebuena del Astronauta

 

Desde arriba se ve el mundo

– mordida manzana – al aire.

 

Tan solamente Belén,

qué grande, hoy, desde el aire.

 

Hoy, que están de enhorabuena

el mar, la tierra y el aire.

 

Fiesta niña de mis ojos

dentro y fuera y bajo el aire.

 

Hoy he visto al Niño-Dios

en una gruta del aire,

 

ángeles y serafines

mecían su cuna de aire

 

y cantaban villancicos

de aire, al aire por el aire.

 

Esta noche es Nochebuena

y yo, soñando, en el aire;

 

surcando la noche negra

del tras-mundo, tras el aire;

 

descubriendo la otra cara

de la luna, de entre el aire;

 

yo, quemándome en el fuego

del encuentro con el aire

 

y helándome con el frío

de los espacios sin aire.

 

Hoy están de parabienes

cielo y tierra y mar y aire.

 

Y yo, astronauta, perdido,

tendido en paz junto al aire,

 

sintiendo en mí la infinita

sombra de Dios, frente al aire.

 

Para mí toda la gloria.

Todo el gozo para el aire.

 

¡Fiesta de mis ojos niños!

¡Mi Nochebuena del aire!

 

Aire que el aire me lleva,

aire que me lleva al aire.

 


Papai Noel e Renas em Órbita

(Autor não identificado)

 

Noite de Natal do Astronauta

 

De cima se vê o mundo

– mordida maçã – suspensa no ar.

 

Tão somente Belém,

quão grande, hoje, vista do ar.

 

Hoje, que estão se congratulando

o mar, a terra e o ar.

 

Festa infante de meus olhos

dentro e fora e sob o ar.

 

Hoje vi um Menino-Deus

em uma gruta do ar,

 

anjos e serafins

embalavam seu berço de ar

 

e cantavam vilancicos

de ar, ao ar e pelo ar.

 

Esta noite é Noite de Natal

e eu, sonhando, no ar;

 

sulcando a noite negra

do pós-mundo, atrás do ar;

 

descobrindo a outra face

da lua, em meio ao ar;

 

eu, queimando-me no fogo

do encontro com o ar

 

e gelando-me no frio

dos espaços sem ar.

 

Hoje estão de parabéns

céu e terra e mar e ar.

 

E eu, astronauta, perdido,

estirado em paz junto ao ar,

 

sentindo em mim a infinita

sombra de Deus, frente ao ar.

 

Para mim toda a glória.

Todo o gozo para o ar.

 

Festa de meus olhos infantes!

Minha noite de Natal do ar!

 

Ar que o ar me leva,

ar que me leva ao ar.

 

Referência:

 

MURCIANO, Antonio. Nochebuena del astronauta. In: CHAMPOURCIN, Ernestina de (Ed.). Dios en la poesía actual: selección de poemas españoles e hispanoamericanos. 2. ed. revisada y aumentada. Madrid, ES: La Editorial Católica, 1972. p. 382-383. (‘Biblioteca de Autores Cristianos’)


Nenhum comentário:

Postar um comentário