Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 10 de dezembro de 2022

Lya Luft - O Rio do Tempo

Um estado de lucidez e de presença contínua a testemunhar a passagem do rio do tempo e a reter na memória todos os rostos, as emoções e as horas felizes com os que lhe são próximos – mortos ou vivos, pouco importa –, pois a falante reconhece-se como o aqui, o agora e o passado que não cessa, sempre a lhe arrebatar o espírito.

 

Na negação do tempo firma-se o ilimitado de momento, como no soneto de Vinicius de Moraes – de um amor “infinito enquanto dure” –, medida do possível dentro dessa percepção axiomática, intermitente, cíclica do universo, mas não menos pejada de autenticidade, de verdade, de impulso a dar sentido à aventura do ser humano sobre a terra.

 

J.A.R. – H.C.

 

Lya Luft

(1938-2021)

 

O Rio do Tempo

 

O tempo não existe,

nem dentro nem fora.

Esses peixes de opala

são nomes que nadam na memória:

são rostos, são risos, são prantos,

são as horas felizes.

O tempo não existe,

pois tudo continua aqui, e cresce

como se arredonda uma árvore

pesada de frutos que são peixes,

que são nomes de nomes, são rostos

com máscaras.

O tempo não existe. Sou apenas

o aqui e o presente, e o atrás disso,

como um rio que corre mas não passa

– pois ele é sempre, em mim, agora.

 

Rio do Tempo

(Martine Bilodeau: artista canadense)

 

Referência:

 

LUFT, Lya. O rio do tempo. In: __________. Para não dizer adeus. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2005. p. 29.

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