Preliminarmente, uma observação:
a palavra não traduzida “cywydd” poderá provocar alguma estranheza ao internauta,
muito embora se possa esclarecer, desde logo, que se trata de uma forma
específica de poema, relativamente comum na literatura galesa, com as características
especificadas na rápida nota inserta ao final desta postagem.
Sobre o conteúdo dos
versos, observa-se uma elocução direcionada à esposa do falante, que, ao se presumir
ser o próprio poeta, permite-nos assentar tratar-se de Gertrude Clancy, com
quem Joseph teve 8 (oito) filhos.
No mais, a ideia de
que o casal percebe, ao final de cada ano, que os rebentos, em gradativo
trânsito à idade adulta, mais cedo ou mais tarde, haverão de levantar voo, e
que o amor entre os cônjuges, cuja chama tende a atenuar-se no decurso afadigante
dos meses, apega-se à chance reiterada de reavivar o seu lume
em um Natal à volta com a prole.
J.A.R. – H.C.
Joseph P. Clancy
(1928-2017)
A Cywydd for
Christmas (*)
Each year a bit more
weary
As we complete our
home-made
Liturgy: the
last-minute
Cleaning up, the
candle lit,
The tree (defiantly
real)
Trimmed, and the tiny
figures
Set carefully in the
crèche,
The final Advent
service
Interrupting the
hurried
Wrapping of gifts in
each room
(Glorious waste of
gay paper),
And the children’s
presents fetched
From closets in their
absence –
Whether in bed or at
church –
And strewn through
the living room
For morning’s still
exciting
Entry and flurried
finding,
Though boy and girl
to become
Man and woman must
challenge
Our rite, and we
watch it change
Slowly, inexorably.
Accept, dear,
alteration
In them and in us,
affirm
The bond of love
unbroken
In spite of all
departures
From childhood,
custom, and home,
As we celebrate once
more
Our ritual’s
consummation.
This has not changed:
the quiet
Exchange of gifts,
and the kiss,
Without passion,
confirming
Each year the new
birth of Love.
Desfrutando da Luz do
Mundo
(Matt Philleo: artista
norte-americano)
Um Cywydd para o
Natal
A cada ano um pouco
mais cansados
À medida que completamos
nossa liturgia
Caseira: a limpeza de
última
Hora, a vela acesa,
A árvore
(desafiadoramente real)
Adornada, e as
pequenas figuras
Colocadas
cuidadosamente no presépio,
O serviço final do
Advento
A interromper o
apressado
Embrulho dos presentes
em cada cômodo
(Glorioso desperdício
de papel cintilante),
E as prendas das
crianças retiradas
Dos armários em sua
ausência –
Quer já na cama ou na
igreja –
E espalhadas pela
sala de estar
Para a entrada matinal
ainda em
Euforia e o impaciente
achado,
Embora menino e
menina, para se tornarem
Homem e mulher, devam
desafiar
O nosso rito – e nós
o vemos mudar
Lentamente,
inexoravelmente.
Aceita, querida, o
que neles
E em nós se altera, e
afirma
O vínculo de amor ininterrupto,
Apesar de todas as
deserções
Da Infância, dos
costumes e do lar,
Enquanto celebramos mais
uma vez
A consumação de nosso
ritual.
Isto é o que jamais
mudou: a silenciosa
Troca de presentes, e
o beijo,
Sem paixão,
confirmando
A cada ano o novo
nascimento do Amor.
Nota:
(*). Cywydd: trata-se
de uma espécie curta de ode, tradicional no verso galês (sobretudo entre os
séculos XIV e XVII), composta por dísticos rimados em alternância, sendo cada
linha composta por sete sílabas poéticas contendo alguma forma mais intricada de
aliteração e rima interna.
Referência:
CLANCY, Joseph P. A
Cywydd for Christmas. In: STEPHENS, Meic (Ed.). Poetry 1900-2000: one
hundred poets from Wales. 1st publ. Cardigan, WS: Parthian Books; 2007. p. 360-361.
(‘Library of Wales’)
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