Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Joseph P. Clancy - Um Cywydd para o Natal

Preliminarmente, uma observação: a palavra não traduzida “cywydd” poderá provocar alguma estranheza ao internauta, muito embora se possa esclarecer, desde logo, que se trata de uma forma específica de poema, relativamente comum na literatura galesa, com as características especificadas na rápida nota inserta ao final desta postagem.

 

Sobre o conteúdo dos versos, observa-se uma elocução direcionada à esposa do falante, que, ao se presumir ser o próprio poeta, permite-nos assentar tratar-se de Gertrude Clancy, com quem Joseph teve 8 (oito) filhos.

 

No mais, a ideia de que o casal percebe, ao final de cada ano, que os rebentos, em gradativo trânsito à idade adulta, mais cedo ou mais tarde, haverão de levantar voo, e que o amor entre os cônjuges, cuja chama tende a atenuar-se no decurso afadigante dos meses, apega-se à chance reiterada de reavivar o seu lume em um Natal à volta com a prole.

 

J.A.R. – H.C.

 

Joseph P. Clancy

(1928-2017)

 

A Cywydd for Christmas (*)

 

Each year a bit more weary

As we complete our home-made

Liturgy: the last-minute

Cleaning up, the candle lit,

The tree (defiantly real)

Trimmed, and the tiny figures

Set carefully in the crèche,

The final Advent service

Interrupting the hurried

Wrapping of gifts in each room

(Glorious waste of gay paper),

And the children’s presents fetched

From closets in their absence –

Whether in bed or at church –

And strewn through the living room

For morning’s still exciting

Entry and flurried finding,

Though boy and girl to become

Man and woman must challenge

Our rite, and we watch it change

Slowly, inexorably.

 

Accept, dear, alteration

In them and in us, affirm

The bond of love unbroken

In spite of all departures

From childhood, custom, and home,

As we celebrate once more

Our ritual’s consummation.

This has not changed: the quiet

Exchange of gifts, and the kiss,

Without passion, confirming

Each year the new birth of Love.

 

Desfrutando da Luz do Mundo

(Matt Philleo: artista norte-americano)

  

Um Cywydd para o Natal

 

A cada ano um pouco mais cansados

À medida que completamos nossa liturgia

Caseira: a limpeza de última

Hora, a vela acesa,

A árvore (desafiadoramente real)

Adornada, e as pequenas figuras

Colocadas cuidadosamente no presépio,

O serviço final do Advento

A interromper o apressado

Embrulho dos presentes em cada cômodo

(Glorioso desperdício de papel cintilante),

E as prendas das crianças retiradas

Dos armários em sua ausência –

Quer já na cama ou na igreja –

E espalhadas pela sala de estar

Para a entrada matinal ainda em

Euforia e o impaciente achado,

Embora menino e menina, para se tornarem

Homem e mulher, devam desafiar

O nosso rito – e nós o vemos mudar

Lentamente, inexoravelmente.

 

Aceita, querida, o que neles

E em nós se altera, e afirma

O vínculo de amor ininterrupto,

Apesar de todas as deserções

Da Infância, dos costumes e do lar,

Enquanto celebramos mais uma vez

A consumação de nosso ritual.

Isto é o que jamais mudou: a silenciosa

Troca de presentes, e o beijo,

Sem paixão, confirmando

A cada ano o novo nascimento do Amor.

 

Nota:

 

(*). Cywydd: trata-se de uma espécie curta de ode, tradicional no verso galês (sobretudo entre os séculos XIV e XVII), composta por dísticos rimados em alternância, sendo cada linha composta por sete sílabas poéticas contendo alguma forma mais intricada de aliteração e rima interna.

 

Referência:

 

CLANCY, Joseph P. A Cywydd for Christmas. In: STEPHENS, Meic (Ed.). Poetry 1900-2000: one hundred poets from Wales. 1st publ. Cardigan, WS: Parthian Books; 2007. p. 360-361. (‘Library of Wales’)


Nenhum comentário:

Postar um comentário