Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Michael Ace - Adeus

O poeta nigeriano fala de um tempo em que havia sonhos de um futuro não muito bem fundamentados, invocando aos patrícios, por ora, para que deles se despeçam, porque o propósito maior não se limita ao meramente humano – “sangue, carne & ossos” –, senão que se expande a que toda a gente seja induzida a se transmutar em deuses – “cores, magia & ouro”.

 

O ritmo do poema é bem demarcado pelas anáforas nas primeiras e terceiras linhas de cada terceto (à exceção do derradeiro verso, migrado no talhe à linha imediatamente anterior), nos quais se descrevem as condutas anteriormente adotadas – metaforizadas no dizer poético – e as razões pelas quais hoje se mostram insuficientes, porque defectivas naquilo que se consumam em olvidos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Michael Ace

(n. 19__)

 

Goodbye

 

For those times we wrote our names on sands

Hoping the earth would carve our stories in its crust

But forgetting it would rain & tales don’t swim

 

For those times we believed being foolish was the way to love

& we gave our all; tested the depth of ocean with both legs

But forgetting unlike the heart, the brain doesn’t bleed

 

For those times we read the chronicles of past heroes

& waited, chanting the song: we’re the leaders of tomorrow

But forgetting the future was never a time zone

 

For those times we woke to the tricky tales of immortality

Hoping someday, we would trounce the radiance of the sun

But forgetting even butterflies are nothing but insects

 

For those times we were human: blood flesh & bones

Forgetting we were meant to be gods: colours, magic & gold

We wave our hands & say a solemn goodbye

 

O guardião dos sonhos perdidos

(Luana Stebule: artista lituana)

 

Adeus

 

Por aqueles tempos escrevemos nossos nomes nas areias

À espera de que a terra talhasse nossas histórias em sua crosta

Mas esquecendo que choveria & contos não nadam

 

Por aqueles tempos acreditávamos que ser insensato era o

caminho para amar

& demos tudo de nós; testamos a profundidade do oceano com

ambas as pernas

Mas esquecendo que, ao contrário do coração, o cérebro

não sangra

 

Por aqueles tempos líamos as crônicas dos heróis do passado

& esperávamos, entoando a canção: somos os líderes do amanhã

Mas esquecendo que o futuro nunca foi um fuso horário

 

Por aqueles tempos despertávamos com os enganosos contos

de imortalidade

Com a esperança de que, nalgum dia, tropeçássemos com o

resplendor do sol

Mas esquecendo que as borboletas não são nada além de insetos

 

Por aqueles tempos éramos humanos: sangue, carne & ossos

Esquecendo que fomos feitos para sermos deuses: cores, magia

& ouro

Acenemos com as mãos & digamos um solene adeus

 

Referência:

 

ACE, Michael. Goodbye. In: Mwanaka, Tendai R.; MALA, Nsah (Edition and compilation). Best “New” African Poets: 2019 anthology. Chitungwiza (ZW): Mwanaka Media and Publishing, 2019. p. 168.

Nenhum comentário:

Postar um comentário