O poeta, romancista e
dramaturgo inglês, morto prematuramente aos 31 anos incompletos, em Davos (Suíça),
em razão de haver contraído tuberculose, formula neste poema um modo de vida menos
penoso em relação à doença, mais ameno em sua contenção quase estoica, sentindo
o passar dos dias em plena harmonia com os ciclos da natureza – muito embora
pouco afeito a percorrer-lhe os encantos ‘in loco’, senão apenas deduzindo-os
pelos sentidos.
Um aparte: coincidência
ou não, a história de vida de Flecker tem algo de tangencial com a de Hans Castorp,
personagem que dá título a este blog, como que a ratificar a ideia de que a
arte imita a vida. Ambos estiveram em um sanatório para recuperação de tísicos
em Davos, ainda que Castorp se propusesse, de início, apenas a visitar o seu
primo Joachim Ziemssen, em recuperação naquela região dos Alpes.
J.A.R. – H.C.
James Elroy Flecker
(1884-1915)
In Hospital
Would I might lie
like this, without the pain,
For seven years – as
one with snowy hair,
Who in the high tower
dreams his dying reign –
Lie here and watch
the walls – how grey and bare,
The metal bed-post,
the uncoloured screen,
The mat, the jug, the
cupboard, and the chair;
And served by an old
woman, calm and clean,
Her misted face
familiar, yet unknown,
Who comes in silence,
and departs unseen,
And with no other
visit, lie alone,
Nor stir, except I
had my food to find
In that dull bowl
Diogenes might own.
And down my window I
would draw the blind,
And never look without,
but, waiting, hear
A noise of rain, a
whistling of the wind,
And only know that
flame-foot Spring is near
By trilling birds, or
by the patch of sun
Crouching behind my
curtain. So, in fear,
Noon-dreams should
enter, softly, one by one,
And throng about the
floor, and float and play
And flicker on the
screen, while minutes run –
The last majestic
minutes of the day –
And with the mystic
shadows. Shadow grow.
Then the grey square
of wall should fade away,
And glow again, and
open, and disclose
The shimmering lake
in which the planets swim,
And all that lake a
dewdrop on a rose.
Sanatório
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
No hospital
Oxalá pudesse
repousar assim, sem dor,
Durante sete anos –
como alguém de cabelos nevados,
Que em alta torre
sonha com seu reinado agonizante –
Repousar aqui e observar
as paredes – quão cinzentas e nuas,
O estrado de metal, o
biombo descolorido,
O tapete, o jarro, o
armário e a cadeira;
E ser servido por uma
anciã, calma e impoluta,
Sua face nubilosa, familiar
embora desconhecida,
Que chega em silêncio
e parte sem ser vista;
E sem nenhum outro
visitante, deitar-me a sós,
Sem mexer-me, exceto
quando dirijo-me aos alimentos
Naquela tigela sem
graça que Diógenes bem poderia possuir.
E de cima a baixo de
minha janela desceria a persiana,
Sem nunca olhar para
fora, embora, alerta, ouvisse
Um ruído de chuva, um
sibilo de vento,
Sabendo tão apenas
que o fulgor da primavera está próximo
Pelo trinado dos
pássaros, ou pelos laivos de sol
Inclinados por trás
da cortina. Assim, com temor,
Os sonhos cuminais
deveriam entrar, um por um, suavemente,
Esparramando-se no chão,
a flutuar e a ondear
E a tremeluzir sobre
o biombo, enquanto correm os minutos –
Os majestosos e
derradeiros minutos do dia –
Em presença de
místicas sombras. Sombras em expansão.
Então a cinzenta
superfície das paredes se desvaneceria,
E brilharia de novo,
e se abriria, e revelaria
O reluzente lago em
que flutuam os planetas,
Todo esse lago como
uma gota de orvalho numa rosa.
Referência:
FLECKER, James Elroy.
In hospital. In: __________. The collected poems of James Elroy Flecker.
Edited, with an introduction by J. C. Squire. New York, NY: Alfred A. Knopf,
1921. p. 194-195.
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