Conterrâneo da
poetisa Adélia Prado – haja vista que também nascido em Divinópolis (MG) –, Mello,
nestes versos, adentra o domínio da mais pura metalinguagem, ao aludir ao ofício da criação poética, pois que capturado bem mais pelo que evocam
as coisas e as palavras – seria a poesia?! –, do que pelas próprias coisas – em
seus pormenores tangíveis – ou pelas palavras – naquilo que subentendem significados.
Ao final, surge em
pleno voo um “pássaro sem corpo”, espécie de projeção autônoma que se move num “céu
de vocábulos”, tal como um guia a mapear o território onde se cumulam todos os
arquétipos, inspiração e eloquência a suscitar pensamentos, exortar à imaginação,
desenlear a beleza nesse páramo sem fronteiras.
J.A.R. – H.C.
Osvaldo André de
Mello
(n. 1950)
Pássaro sem corpo
nem tanto o que
se subentende na
palavra
sobretudo as
aparências
externas: pássaro
nem tanto a ave
abordada em voo
sobretudo a casca
da palavra: voa
por si só. Em céu
de vocábulos o que
me fascina ergue-se
e suprime o corpo da
ave
Pássaro azul em voo
(Gull G: pintor
paquistanês)
Referência:
MELLO, Osvaldo André de. Pássaro sem corpo. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 230.
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