Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Osvaldo André de Mello - Pássaro sem corpo

Conterrâneo da poetisa Adélia Prado – haja vista que também nascido em Divinópolis (MG) –, Mello, nestes versos, adentra o domínio da mais pura metalinguagem, ao aludir ao ofício da criação poética, pois que capturado bem mais pelo que evocam as coisas e as palavras – seria a poesia?! –, do que pelas próprias coisas – em seus pormenores tangíveis – ou pelas palavras – naquilo que subentendem significados.

 

Ao final, surge em pleno voo um “pássaro sem corpo”, espécie de projeção autônoma que se move num “céu de vocábulos”, tal como um guia a mapear o território onde se cumulam todos os arquétipos, inspiração e eloquência a suscitar pensamentos, exortar à imaginação, desenlear a beleza nesse páramo sem fronteiras.

 

J.A.R. – H.C.

 

Osvaldo André de Mello

(n. 1950)

 

Pássaro sem corpo

 

nem tanto o que

se subentende na palavra

sobretudo as aparências

externas: pássaro

 

nem tanto a ave

abordada em voo

sobretudo a casca

da palavra: voa

 

por si só. Em céu

de vocábulos o que

me fascina ergue-se

e suprime o corpo da ave

 

Pássaro azul em voo

(Gull G: pintor paquistanês)

 

Referência:

 

MELLO, Osvaldo André de. Pássaro sem corpo. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 230.

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