Este curto poema é o
segundo da composição “Four Poems” (“Quatro Poemas”), incorporado por Bishop ao
poemário “A Cold Spring” (“Uma Primavera Fria”), de 1955: num tom meio
surrealista, os versos descrevem a chuva lá fora a configurar uma espécie de “gaiola
de luz”, onde imersos os amantes que, mais tarde, ao despertar, dão início ao
dia com um simples e inesperado beijo, sôfregos por superar as adversidades do quotidiano.
A perceptível inflexão
da confinante gaiola à plena liberdade se dá por mera denegação no quinto verso,
quando então se ratifica o tom amoroso do poema. Mas o que representariam os
elementos figurados, recolhidos entre o segundo e o quarto versos, num nítido bosquejo
a imagens que sugerem irrupção? Algum clímax erótico? Ou apenas uma representação
onírica do que se passaria no sono – insondável, trancafiado – daquele(a) cujo
rosto se adjetiva como “pálido”? O que diria o leitor?
J.A.R. – H.C.
Elizabeth Bishop
(1911-1979)
Rain Towards Morning
The great light cage
has broken up in the air,
freeing, I think,
about a million birds
whose wild ascending
shadows will not be back,
and all the wires
come falling down.
No cage, no
frightening birds; the rain
is brightening now.
The face is pale
that tried the puzzle
of their prison
and solved it with an
unexpected kiss,
whose freckled
unsuspected hands alit.
Manhã de chuva sobre
o Sena
(Claude Monet: pintor
francês)
Chuva na Madrugada
A grande gaiola de
luz explodiu no ar,
libertando, creio,
mais de um milhão de pássaros,
sombras que sobem,
soltas, para nunca mais voltar,
e todos os fios
despencam no chão.
Não há gaiola, nem
pássaros assustadores; a chuva
está clareando agora.
Pálido o rosto
que provou o enigma
dessa prisão
e o resolveu com um
beijo inesperado,
e as mãos sardentas e
insuspeitas repousaram.
Referência:
BISHOP, Elizabeth. Chuva na madrugada. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop. Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2012. Em inglês: p. 202; em português: p. 203.
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