Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Elizabeth Bishop - Chuva na Madrugada

Este curto poema é o segundo da composição “Four Poems” (“Quatro Poemas”), incorporado por Bishop ao poemário “A Cold Spring” (“Uma Primavera Fria”), de 1955: num tom meio surrealista, os versos descrevem a chuva lá fora a configurar uma espécie de “gaiola de luz”, onde imersos os amantes que, mais tarde, ao despertar, dão início ao dia com um simples e inesperado beijo, sôfregos por superar as adversidades do quotidiano.

 

A perceptível inflexão da confinante gaiola à plena liberdade se dá por mera denegação no quinto verso, quando então se ratifica o tom amoroso do poema. Mas o que representariam os elementos figurados, recolhidos entre o segundo e o quarto versos, num nítido bosquejo a imagens que sugerem irrupção? Algum clímax erótico? Ou apenas uma representação onírica do que se passaria no sono – insondável, trancafiado – daquele(a) cujo rosto se adjetiva como “pálido”? O que diria o leitor?

 

J.A.R. – H.C.

 

Elizabeth Bishop

(1911-1979)

 

Rain Towards Morning

 

The great light cage has broken up in the air,

freeing, I think, about a million birds

whose wild ascending shadows will not be back,

and all the wires come falling down.

No cage, no frightening birds; the rain

is brightening now. The face is pale

that tried the puzzle of their prison

and solved it with an unexpected kiss,

whose freckled unsuspected hands alit.

 

Manhã de chuva sobre o Sena

(Claude Monet: pintor francês)

 

Chuva na Madrugada

 

A grande gaiola de luz explodiu no ar,

libertando, creio, mais de um milhão de pássaros,

sombras que sobem, soltas, para nunca mais voltar,

e todos os fios despencam no chão.

Não há gaiola, nem pássaros assustadores; a chuva

está clareando agora. Pálido o rosto

que provou o enigma dessa prisão

e o resolveu com um beijo inesperado,

e as mãos sardentas e insuspeitas repousaram.

 

Referência:

 

BISHOP, Elizabeth. Chuva na madrugada. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop. Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2012. Em inglês: p. 202; em português: p. 203.

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