O falante, neste
poema, pronuncia-se sobre o relevante papel que a arte poética deteria na
formação dos jovens, enquanto “sagrada manifestação do homem”, motivo pelo qual
não se deveria instrumentalizá-la, permeá-la por ideologias controvertíveis, transformando-a
em “besta de carga com obscuras aspirações” ou malbaratando-a “em feiras
populares ou em mercados internacionais”.
Com efeito, o discurso
reprovador do ente lírico dirige-se a autores – como o próprio Anagnostákis! – que,
distantes da poética pura, concebida em laboratórios experimentais ou encerrada
em torres de marfim, fazem dos versos meio de denúncia social e/ou política. Afinal
– se poderia contestar –, a poesia corre num leito que sempre acaba por
desaguar no próprio homem, em suas lutas, em suas formas de vida.
J.A.R. – H.C.
Manólis Anagnostákis
(1925-2005)
Ποιητική
– Προδίδετε πάλι την Ποίηση, θα μου πεις,
Την ιερότερη εκδήλωση του Ανθρώπου
Τη χρησιμοποιείτε πάλι ως μέσον, υποζύγιον
Των σκοτεινών επιδιώξεών σας
Εν πλήρει γνώσει της ζημιάς που προκαλείτε
Με το παράδειγμά σας στους νεωτέρους.
– Το τί δεν πρόδωσες εσύ να μου πεις
Εσύ κι οι όμοιοί σου, χρόνια και χρόνια,
Ένα προς ένα τα υπάρχοντά σας ξεπουλώντας
Στις διεθνείς αγορές και τα λαϊκά παζάρια
Και μείνατε χωρίς μάτια για να βλέπετε, χωρίς αφτιά
Ν’ ακούτε, με σφραγισμένα στόματα και δε μιλάτε.
Για ποια ανθρώπινα ιερά μάς εγκαλείτε;
Ξέρω: κηρύγματα και ρητορείες πάλι, θα πεις.
Ε ναι λοιπόν! Κηρύγματα και ρητορείες.
Σαν πρόκες πρέπει να καρφώνονται οι λέξεις
Να μην τις παίρνει ο άνεμος.
Από: “Ο Στόχος” (1970)
O chamado às armas
(Pierre-Édouard Frère:
pintor francês)
Poética
– Traíste a poesia
uma outra vez, confessa,
A mais sagrada
manifestação do Homem
De novo a usaste como
instrumento, besta
De carga das tuas
obscuras aspirações
Com plena consciência
do lamentável
Exemplo que estavas
dando aos mais jovens.
– Diz-me agora o que
não traíste
Tu e os da tua laia,
que ano após ano
Estais pondo à venda
todos os vossos bens
Nos mercados
internacionais e nas feiras populares
A ponto de ficardes
sem olhos de ver, ouvidos de escutar,
boca fechada para não
dizer coisa alguma.
Perante qual
santuário humano pretendeis nos acusar?
Já sei: farás sermões
e discursos bonitos.
Sim, é isso! Sermões
e discursos bonitos.
Não te esqueças,
porém, de pregar tuas palavras com
tachinhas
Se não o vento as
levará embora.
De: “O Alvo” (1970)
Referências:
Em Grego
Αναγνωστάκη, Μανόλη. Ποιητική. Disponível neste
endereço. Acesso em: 20 jul. 2022.
Em Português
ANAGNOSTÁKIS, Manólis. Poética. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES,
José Paulo (Seleção, tradução, prefácio, textos críticos e notas). Poesia
moderna da Grécia. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1986. p. 294-295.
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