Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Manólis Anagnostákis - Poética

O falante, neste poema, pronuncia-se sobre o relevante papel que a arte poética deteria na formação dos jovens, enquanto “sagrada manifestação do homem”, motivo pelo qual não se deveria instrumentalizá-la, permeá-la por ideologias controvertíveis, transformando-a em “besta de carga com obscuras aspirações” ou malbaratando-a “em feiras populares ou em mercados internacionais”.

 

Com efeito, o discurso reprovador do ente lírico dirige-se a autores – como o próprio Anagnostákis! – que, distantes da poética pura, concebida em laboratórios experimentais ou encerrada em torres de marfim, fazem dos versos meio de denúncia social e/ou política. Afinal – se poderia contestar –, a poesia corre num leito que sempre acaba por desaguar no próprio homem, em suas lutas, em suas formas de vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Manólis Anagnostákis

(1925-2005)

 

Ποιητική

 

Προδίδετε πάλι την Ποίηση, θα μου πεις,

Την ιερότερη εκδήλωση του Ανθρώπου

Τη χρησιμοποιείτε πάλι ως μέσον, υποζύγιον

Των σκοτεινών επιδιώξεών σας

Εν πλήρει γνώσει της ζημιάς που προκαλείτε

Με το παράδειγμά σας στους νεωτέρους.

 

Το τί δεν πρόδωσες εσύ να μου πεις

Εσύ κι οι όμοιοί σου, χρόνια και χρόνια,

Ένα προς ένα τα υπάρχοντά σας ξεπουλώντας

Στις διεθνείς αγορές και τα λαϊκά παζάρια

Και μείνατε χωρίς μάτια για να βλέπετε, χωρίς αφτιά

Ν ακούτε, με σφραγισμένα στόματα και δε μιλάτε.

Για ποια ανθρώπινα ιερά μάς εγκαλείτε;

 

Ξέρω: κηρύγματα και ρητορείες πάλι, θα πεις.

Ε ναι λοιπόν! Κηρύγματα και ρητορείες.

 

Σαν πρόκες πρέπει να καρφώνονται οι λέξεις

 

Να μην τις παίρνει ο άνεμος.

 

Από: “Ο Στόχος” (1970)

 

O chamado às armas

(Pierre-Édouard Frère: pintor francês)

 

Poética

 

– Traíste a poesia uma outra vez, confessa,

A mais sagrada manifestação do Homem

De novo a usaste como instrumento, besta

De carga das tuas obscuras aspirações

Com plena consciência do lamentável

Exemplo que estavas dando aos mais jovens.

 

– Diz-me agora o que não traíste

Tu e os da tua laia, que ano após ano

Estais pondo à venda todos os vossos bens

Nos mercados internacionais e nas feiras populares

A ponto de ficardes sem olhos de ver, ouvidos de escutar,

boca fechada para não dizer coisa alguma.

Perante qual santuário humano pretendeis nos acusar?

 

Já sei: farás sermões e discursos bonitos.

Sim, é isso! Sermões e discursos bonitos.

 

Não te esqueças, porém, de pregar tuas palavras com

tachinhas

 

Se não o vento as levará embora.

 

De: “O Alvo” (1970)

 

Referências:

 

Em Grego

 

Αναγνωστάκη, Μανόλη. Ποιητική. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jul. 2022.

 

Em Português

 

ANAGNOSTÁKIS, Manólis. Poética. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução, prefácio, textos críticos e notas). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1986. p. 294-295.

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