Na sucessão contínua
e invariável de instantes, o tempo a tudo submete, o ser humano aí incluso – o
tempo ligado à eternidade, o ser humano à finitude. Ou, por outra, diria que somos
“habitantes do tempo”, como o afirma Heidegger: temos a consciência de um tempo
– fixo, imutável, cíclico –, contra o qual se revela patente nossa impotência.
As Parcas fiam e desfiam
o tempo e a vida, permitindo-nos conceber ou antecipar a nossa própria morte:
presente, passado e futuro são estações pelas quais passamos quando em jornada
pelas areias desse “tirano sangrento” (1). Mas deixe estar que: “A eternidade anda
apaixonada pelas produções do tempo.”! (rs) (2)
Outra associação que
sempre me vem à mente quando se espreita as ações do tempo sobre nossas breves existências é a belíssima letra
da melodia “Resposta ao Tempo” (1998), de autoria de Cristóvão Bastos e Aldir
Blanc, que o internauta poderá aqui escutar, na voz sempre marcante de Nana Caimmy:
J.A.R. – H.C.
Paul Fleming
(1609-1640)
Gedanken über der
Zeit
Ihr lebet in der Zeit
und kennt doch keine Zeit;
So wißt, ihr
Menschen, nicht von und in was ihr seid.
Diß wißt ihr, daß ihr
seid in einer Zeit geboren
Und daß ihr werdet
auch in einer Zeit verloren.
Was aber war die
Zeit, die euch in sich gebracht?
Und was wird diese
sein, die euch zu nichts mehr macht?
Die Zeit ist was und
nichts, der Mensch in gleichem Falle,
Doch was dasselbe was
und nichts sei, zweifeln alle.
Die Zeit, die stirbt
in sich und zeugt sich auch aus sich.
Diß kömmt aus mir und
dir, von dem du bist und ich.
Der Mensch ist in der
Zeit; sie ist in ihm ingleichen,
Doch aber muß der Mensch,
wenn sie noch bleibet, weichen.
Die Zeit ist, was ihr
seid, und ihr seid, was die Zeit,
Nur daß ihr wen’ger
noch, als was die Zeit ist, seid.
Ach daß doch jene
Zeit, die ohne Zeit ist, käme
Und uns aus dieser
Zeit in ihre Zeiten nähme,
Und aus uns selbsten
uns, daß wir gleich könnten sein,
Wie der itzt jener
Zeit, die keine Zeit geht ein!
O Nascimento do Tempo
(Alex Levin: artista
israelo-ucraniano)
Meditação sobre o
Tempo
Vives no Tempo sem
saber o que é o Tempo;
Ignoras de onde vens
e no que te deténs.
Sabes apenas que num Tempo
foste feito
E que num outro Tempo
ainda serás desfeito.
Mas o que foi o Tempo
que te trouxe incluso?
E o que há de ser
aquele que te faz sem uso?
O Tempo é sim e não,
o homem se multiplica,
Mas o que este Sim-e-Não
ninguém explica.
O Tempo morre em si e
a si mesmo renasce.
O de que tu e eu
viemos, de nós mesmos nasce.
O homem está no Tempo
e o Tempo está no homem,
Mas o Tempo resiste
enquanto o homem some.
O Tempo é o que és e
és o que é o Tempo,
Embora tenha menos do
que o Tempo tem.
Ah, se esse outro
Tempo, sem Tempo, chegasse
E a nós, de nosso Tempo,
esse Tempo arrancasse,
E de nós mesmos, nós,
para sermos também
Como esse Tempo, que
nenhum Tempo contém.
Notas:
(1). Expressão empregada
por William Shakespeare (1564-1616), em seu soneto de nº 16, para
caracterizar o tempo.
(2). Conforme a perspectiva imaginosa de William Blake (1757-1827), em “O
Matrimônio do Céu e do Inferno”.
Referência:
FLEMING, Paul. Gedanken
über der zeit / Meditação sobre o tempo. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS,
Augusto de (Tradução e Introdução). Irmãos germanos: poemas traduzidos
de Paul Fleming et alii. Florianópolis, SC: Editora Noa Noa, 1992. Em alemão: p.
12; em português: p. 13.
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