Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Paul Fleming - Meditação sobre o Tempo

Na sucessão contínua e invariável de instantes, o tempo a tudo submete, o ser humano aí incluso – o tempo ligado à eternidade, o ser humano à finitude. Ou, por outra, diria que somos “habitantes do tempo”, como o afirma Heidegger: temos a consciência de um tempo – fixo, imutável, cíclico –, contra o qual se revela patente nossa impotência.

 

As Parcas fiam e desfiam o tempo e a vida, permitindo-nos conceber ou antecipar a nossa própria morte: presente, passado e futuro são estações pelas quais passamos quando em jornada pelas areias desse “tirano sangrento” (1). Mas deixe estar que: “A eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.”! (rs) (2)

 

Outra associação que sempre me vem à mente quando se espreita as ações do tempo sobre nossas breves existências é a belíssima letra da melodia “Resposta ao Tempo” (1998), de autoria de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, que o internauta poderá aqui escutar, na voz sempre marcante de Nana Caimmy:

 

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Fleming

(1609-1640)

 

Gedanken über der Zeit

 

Ihr lebet in der Zeit und kennt doch keine Zeit;

So wißt, ihr Menschen, nicht von und in was ihr seid.

Diß wißt ihr, daß ihr seid in einer Zeit geboren

Und daß ihr werdet auch in einer Zeit verloren.

Was aber war die Zeit, die euch in sich gebracht?

Und was wird diese sein, die euch zu nichts mehr macht?

 

Die Zeit ist was und nichts, der Mensch in gleichem Falle,

Doch was dasselbe was und nichts sei, zweifeln alle.

Die Zeit, die stirbt in sich und zeugt sich auch aus sich.

Diß kömmt aus mir und dir, von dem du bist und ich.

Der Mensch ist in der Zeit; sie ist in ihm ingleichen,

Doch aber muß der Mensch, wenn sie noch bleibet, weichen.

 

Die Zeit ist, was ihr seid, und ihr seid, was die Zeit,

Nur daß ihr wen’ger noch, als was die Zeit ist, seid.

Ach daß doch jene Zeit, die ohne Zeit ist, käme

Und uns aus dieser Zeit in ihre Zeiten nähme,

Und aus uns selbsten uns, daß wir gleich könnten sein,

Wie der itzt jener Zeit, die keine Zeit geht ein!

 

O Nascimento do Tempo

(Alex Levin: artista israelo-ucraniano)

 

Meditação sobre o Tempo

 

Vives no Tempo sem saber o que é o Tempo;

Ignoras de onde vens e no que te deténs.

Sabes apenas que num Tempo foste feito

E que num outro Tempo ainda serás desfeito.

Mas o que foi o Tempo que te trouxe incluso?

E o que há de ser aquele que te faz sem uso?

 

O Tempo é sim e não, o homem se multiplica,

Mas o que este Sim-e-Não ninguém explica.

O Tempo morre em si e a si mesmo renasce.

O de que tu e eu viemos, de nós mesmos nasce.

O homem está no Tempo e o Tempo está no homem,

Mas o Tempo resiste enquanto o homem some.

 

O Tempo é o que és e és o que é o Tempo,

Embora tenha menos do que o Tempo tem.

Ah, se esse outro Tempo, sem Tempo, chegasse

E a nós, de nosso Tempo, esse Tempo arrancasse,

E de nós mesmos, nós, para sermos também

Como esse Tempo, que nenhum Tempo contém.

 

Notas:

 

(1). Expressão empregada por William Shakespeare (1564-1616), em seu soneto de nº 16, para caracterizar o tempo.

 

(2). Conforme a perspectiva imaginosa de William Blake (1757-1827), em “O Matrimônio do Céu e do Inferno”.

 

Referência:

 

FLEMING, Paul. Gedanken über der zeit / Meditação sobre o tempo. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Tradução e Introdução). Irmãos germanos: poemas traduzidos de Paul Fleming et alii. Florianópolis, SC: Editora Noa Noa, 1992. Em alemão: p. 12; em português: p. 13.

Nenhum comentário:

Postar um comentário